O Eco da Humilhação: O Despertar de Raegan
img img O Eco da Humilhação: O Despertar de Raegan img Capítulo 2
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
Capítulo 23 img
Capítulo 24 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

"Já vais?"

A voz de Vanessa soou atrás de mim, falsamente doce. Virei-me. Ela tinha-se aproximado, os seus olhos vermelhos de tanto chorar, mas com um brilho de triunfo.

"O Hugo ficaria tão desapontado se soubesse que a sua 'esposa' nem sequer esperou para ver se ele saía bem da cirurgia."

"Ele tem-te a ti para isso," respondi, a minha voz vazia.

Ela riu, um som baixo e cruel. "É verdade. Ele sempre me teve a mim. Sabes, Raegan, às vezes tenho pena de ti. Pensas mesmo que algum daqueles momentos significou alguma coisa?"

Franzi a testa, sem perceber.

"Aquele colar que ele te deu," ela continuou, saboreando cada palavra. "O da Cartier. Fui eu que lhe disse que o queria, numa conversa casual. Ele viajou para o Brasil, no meio do Carnaval, só para mo trazer. Mas quando ele chegou, eu já estava com outra pessoa. Rejeitei o colar. Ele deve ter ficado sem saber o que fazer com ele, então deu-to a ti. Um prémio de consolação."

O ar faltou-me nos pulmões. O colar. Aquele que eu guardava como um tesouro, o símbolo da minha esperança.

Ela não parou. "E lembras-te daquela noite, há cerca de um ano? A noite de Fados em Alfama. Tu estavas lá a cantar com os teus amigos. O Hugo soube e foi até lá. Ele não entrou. Ficou do lado de fora, a ver-te pela janela, a rir com outro homem. Ele estava a morrer de ciúmes. Não de ti, sua tola. De mim. Porque ele imaginava que era eu ali com outro."

A sua voz baixou para um sussurro conspirador. "Ele voltou para casa furioso, consumido pelo ciúme. E descarregou tudo em ti. Aposto que foi a vossa noite mais apaixonada, não foi? E tu pensaste que era por ti."

Cada palavra era um golpe. Os momentos que eu tinha guardado, que tinha analisado vezes sem conta à procura de um sinal de afeto, eram todos mentira. Eram apenas o reflexo da dor dele por outra mulher. Eu era um espelho, uma sombra.

Senti as lágrimas a quererem sair, mas engoli-as. Não lhe daria essa satisfação.

"Obrigada por me contares, Vanessa," disse eu, a minha voz surpreendentemente calma. "Esclareceste muitas coisas."

Virei-lhe as costas e saí do hospital, sem olhar para trás. A minha decisão estava tomada. Não havia mais esperança, não havia mais amor. Apenas um vazio imenso.

Fui para casa e comecei a fazer as malas. As minhas roupas, os meus livros, os meus discos de Fado. Cada objeto parecia pertencer a outra pessoa, a uma mulher ingénua que eu já não reconhecia.

Nos dias seguintes, Hugo não ligou. Não mandou uma única mensagem. Fiquei a saber por uma das empregadas que ele tinha saído do hospital e se tinha mudado para um apartamento perto da casa da avó da Vanessa, para poder cuidar dela a tempo inteiro.

Eu era, mais uma vez, uma memória esquecida. E pela primeira vez, em vez de dor, senti uma estranha sensação de paz. A minha resolução de partir tornava-se mais forte a cada hora que passava em silêncio.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022