Acordei numa cama de hospital. A minha cabeça latejava e a minha mão estava ligada. Uma enfermeira estava a ajustar o soro.
"A senhora desmaiou. Bateu com a cabeça com alguma força," disse ela, com uma voz simpática. "O seu marido está lá fora."
Marido. A palavra soou vazia.
Hugo entrou pouco depois. A sua expressão era uma mistura de irritação e preocupação superficial.
"Estás bem? Assustaste-nos a todos."
"Estou ótima," respondi, a minha voz carregada de sarcasmo. "Apenas um pouco cansada do teatro da tua família."
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. "A minha avó pode ser... difícil. Mas ela só quer o melhor para a família."
"O melhor para a família ou um herdeiro para o império Gordon?"
Ele não respondeu. Olhou para a minha mão ligada. "Dói?"
"Se eu te chamasse, se eu gritasse por ti enquanto a tua avó me batia, terias vindo? Ter-te-ias importado?"
"Claro que sim," ele disse, demasiado depressa. "Tu és minha mulher."
Ri, um som amargo que me arranhou a garganta. "Sou a tua mulher no papel, Hugo. Apenas isso."
Para minha surpresa, ele não foi embora. Puxou uma cadeira para perto da cama e sentou-se. Ficou ali em silêncio durante horas, enquanto eu dormia intermitentemente. Quando acordei, ele estava a humedecer um pano e a passá-lo na minha testa. A sua gentileza inesperada era confusa. Mas não mudava nada. Era tarde demais.
Na manhã seguinte, eu estava a preparar-me para ter alta quando a porta do quarto se abriu de rompante. Era a Vanessa, o seu rosto contorcido numa máscara de pânico.
"Hugo! Tens de vir! A minha avó... ela está a ter uma crise!"
Ela correu para ele, tropeçando nos seus próprios pés e caindo contra a mesinha de cabeceira, derrubando um jarro de água. Hugo, sem hesitar, levantou-se para a ajudar.
"Calma, Vanessa, eu estou aqui."
Ele tentou acalmá-la, mas ela estava histérica. No meio da confusão, ele moveu-se bruscamente para a abraçar. O seu cotovelo atingiu-me em cheio na cabeça, exatamente no local da contusão.
A dor explodiu atrás dos meus olhos. Perdi o equilíbrio e caí para trás, a minha cabeça batendo com um baque surdo no chão de linóleo. A última coisa que vi antes de a escuridão me engolir foi Hugo a correr para fora do quarto com a Vanessa nos braços, sem sequer olhar para trás.