Gaiola de Ouro, Alma Livre
img img Gaiola de Ouro, Alma Livre img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

A notícia do divórcio de Liam Gordon e do seu novo romance com a artista Raegan Perez espalhou-se por Lisboa como um incêndio. Raegan era vista em todo o lado ao lado de Liam, a sua imagem de "rebelde autêntica" cuidadosamente construída para as câmaras.

Liam gastava fortunas com ela. Comprou-lhe um estúdio de arte de última geração no Chiado, financiou uma exposição inteira que a catapultou para a fama internacional. Eram os mesmos gestos grandiosos que ele um dia tinha feito por Fiona.

Fiona observava tudo à distância, através dos tablóides e das redes sociais. A dor da substituição era aguda. Ela não era especial. O seu "amor único" era replicável, transferível para o próximo objeto de desejo. O seu coração, que ela pensava ter morrido, encontrou uma nova forma de se partir.

Numa tarde cinzenta, ela foi visitar o irmão. Ele estava a dormir, a sua respiração regulada pela máquina que Liam pagava. Ela sentou-se ao seu lado, segurando a sua mão frágil.

"Ele deu-lhe um estúdio, sabes?" ela sussurrou para o seu irmão inconsciente. "Ele costumava dizer que a minha voz era a sua arte preferida. Agora, ele tem uma artista de verdade. Acho que fui apenas um rascunho."

Ela falava, confessando a sua dor, a sua desilusão, a sua raiva. O seu irmão era o seu único confidente, a única pessoa no mundo que a amava incondicionalmente.

De volta à vivenda, agora fria e vazia, Fiona começou os seus preparativos. Ela vendeu discretamente as joias que Liam lhe dera, guardando apenas o dinheiro que tinha ganho a cantar antes de o conhecer. Contactou um especialista em apagar identidades digitais e criar novas. Ela ia tornar-se um fantasma.

Numa noite, ela estava no jardim, a queimar as cartas e fotografias antigas. As chamas consumiam as memórias de uma década de amor e mentiras.

"O que estás a fazer?"

A voz de Liam fê-la sobressaltar-se. Ele e Raegan estavam parados na porta do terraço, a observá-la.

"A limpar o passado," respondeu Fiona, sem se virar.

"Isso cheira a desespero," disse Raegan com um sorriso trocista.

Liam ignorou o comentário. O seu olhar estava fixo numa caixa que Fiona ainda não tinha atirado ao fogo.

"Fiona, preciso do colar."

Fiona sabia a que colar ele se referia. A herança da família Gordon, um colar de filigrana de ouro antigo, passado de geração em geração para a esposa do herdeiro. Liam tinha-lho dado no dia do casamento, dizendo que simbolizava que ela era a sua para sempre.

"Vou dá-lo à Raegan. Vamos anunciar o nosso noivado na gala da família amanhã à noite."

A humilhação era tão profunda que quase não doía. Era apenas um entorpecimento frio. Ela foi buscar a caixa, abriu-a e entregou-lhe o colar.

Raegan pegou nele, os seus olhos a brilhar. "É lindo, Liam."

No dia seguinte, na gala anual da família Gordon, Fiona foi obrigada a comparecer. Liam insistiu. "Tens de mostrar que não há ressentimentos. Pela família."

Ela estava num canto, a observar Raegan a exibir o colar a todos os que a quisessem ouvir. Mais tarde, quando Fiona estava perto do topo da grande escadaria, Raegan aproximou-se dela.

"Sabes, este colar é um pouco antiquado," disse Raegan, a sua voz um sussurro venenoso. "Acho que precisa de um toque moderno."

E com um movimento deliberado, ela partiu o fecho do colar. As delicadas filigranas de ouro caíram no chão.

"Oh, meu Deus!" gritou Raegan, a sua expressão a transformar-se em choque e medo. "Fiona, porque fizeste isso? Eu sei que estás chateada, mas destruir uma herança de família?"

Ela então empurrou Fiona com força. Fiona, apanhada de surpresa, perdeu o equilíbrio e caiu, rolando pelos degraus de mármore.

A dor explodiu na sua anca e nas suas costas. Ela ficou caída no fundo da escada, a olhar para cima enquanto Liam corria, não para ela, mas para Raegan.

"Estás bem, meu amor?" ele perguntou a Raegan, ignorando completamente Fiona no chão.

"Ela atacou-me, Liam! Ela partiu o colar e empurrou-me!"

Liam olhou para Fiona com uma fúria gelada. Ele não questionou, não hesitou. Ele acreditou nela instantaneamente.

"Na minha família," disse ele, a sua voz a ecoar no silêncio chocado do salão, "a desobediência e a desonra são punidas. É uma velha tradição."

Ele foi até uma vitrina na parede, tirou uma pequena chibata de equitação e voltou para junto de Fiona.

"Isto é para te ensinar a respeitar o que é meu."

Ele levantou a chibata. Fiona fechou os olhos, lembrando-se do dia em que ele lhe prometeu que nunca ninguém lhe faria mal enquanto ele estivesse vivo. A primeira chicotada cortou o ar e atingiu as suas costas. A dor foi ofuscante. Mas a dor da sua promessa quebrada foi muito, muito pior.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022