O seu lugar. Fiona olhou para ele, para o seu perfil calmo e controlado. Ela lembrou-se de um aviso que o seu avô, um velho pescador de Alfama, lhe dera antes de morrer. "Cuidado com os homens que te amam como se fosses um tesouro, minha neta. Um dia, eles vão trancar-te num cofre e esquecer-se da chave."
Ela tinha pensado que era romantismo. Agora, via que era uma profecia.
"Sim, Liam," disse ela, a sua voz desprovida de emoção. "Eu compreendo."
A sua submissão aparente satisfez-no. Ele sorriu. "Boa menina. Veste-te. Vamos almoçar fora. Tu, eu e a Raegan."
Ele escolheu a sua roupa. Um vestido simples, quase de criada, completamente inadequado para o restaurante de luxo para onde a levou. No restaurante, ela tornou-se o centro das atenções, dos sussurros e dos olhares de pena e desprezo. A ex-mulher, humilhada e posta no seu lugar.
Ela observou Raegan, que agora usava roupas elegantes e joias discretas. Raegan falava sobre arte com uma paixão calculada, citando os mesmos filósofos que Liam um dia tinha insistido que Fiona lesse. Era como ver uma repetição de si mesma, uma versão mais nova e mais astuta. A atração de Liam não era por uma pessoa, era por um tipo, um molde que ele gostava de preencher. A percepção não a entristeceu, apenas a libertou de qualquer dúvida restante.
Depois do almoço, Liam levou-as ao novo estúdio de Raegan. Havia uma guitarra portuguesa antiga num canto, uma que Liam tinha dado a Fiona no seu primeiro aniversário de casamento.
"Toca para nós, Fiona," ordenou Liam. "Mostra à Raegan o que ela está a substituir."
As suas mãos tremiam, mas ela pegou na guitarra. Os seus dedos encontraram as cordas, e ela começou a tocar um fado antigo, uma canção de perda e saudade. A música era a sua única verdade, a sua única voz.
"Pára com isso!" gritou Raegan de repente. "Estás a tentar manipulá-lo com as tuas canções tristes! Achas que não sei o que estás a fazer?"
Fiona parou, a última nota a pairar no ar como um fantasma.
Raegan virou-se para Liam, a sua expressão cheia de desafio. "Liam, eu não posso trabalhar assim! Não posso ter esta... esta sombra a pairar sobre mim. Não é justo! Ou ela desaparece da nossa vida para sempre, ou eu vou-me embora."
Era o ultimato final. Fiona olhou para Liam, esperando para ver como ele iria lidar com este desafio público à sua autoridade.