A Luta de Uma Alma: 100 Tentativas
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Capítulo 1

A luz suave do entardecer entrava pelas janelas do quarto de hotel, pintando tudo com um brilho dourado e quente. Eu estava nos braços de Kieran Gordon, meu marido há poucas horas, sentindo o calor do seu corpo contra o meu. O ar cheirava a champanhe e a um leve perfume de flores, uma mistura que deveria significar felicidade. Ele beijou minha testa, um gesto cheio de ternura que, por um momento, me fez acreditar que tudo estava perfeito.

[Ding. Nível de afeto do alvo da missão, Kieran Gordon: 60%.]

A voz fria e eletrônica do sistema soou na minha cabeça, quebrando a ilusão. Sessenta por cento. Depois de cinco anos juntos, depois de um casamento que deveria ser o auge do nosso amor, o nível de afeto dele por mim continuava estagnado. Nem um ponto a mais.

Meu coração apertou. Cinco anos. Eu tinha passado cada dia desses cinco anos tentando fazer este homem se apaixonar por mim. Eu aprendi a gostar das coisas que ele gostava, a frequentar os lugares que ele frequentava, a ser a mulher que eu achava que ele queria. E tudo o que consegui foi um número que nunca mudava.

"Raegan," ele sussurrou, a voz dele rouca perto do meu ouvido. Ele traçou a linha da minha clavícula com o dedo, um toque que me causou arrepios. "Você está linda esta noite." Ele parou por um momento, e seu dedo pousou sobre a tatuagem de bússola no peito dele. "Você é a minha bússola, sempre me guiando para casa."

As palavras eram doces, mas a menção da bússola me fez gelar. Durante a festa de casamento, eu vi Fiona Lawrence. A paixão de infância de Kieran, a mulher que ele nunca esqueceu. Ela estava de costas para mim, usando um vestido decotado que revelava uma tatuagem de uma rosa dos ventos. As duas tatuagens, a bússola dele e a rosa dos ventos dela, eram um par perfeito. Eu sabia disso, e o sistema já tinha confirmado.

"Kieran, pare," eu disse, a voz mais fraca do que eu pretendia. Usei a palavra-código que combinamos para quando eu não estivesse confortável. "Estou um pouco cansada."

Ele pareceu surpreso, afastando-se um pouco para me olhar nos olhos. Havia uma sombra de decepção em seu rosto, mas ele assentiu. "Claro, meu amor. Descanse." Ele se levantou da cama e foi para o banheiro, me deixando sozinha com meus pensamentos tumultuados.

Meus olhos vagaram pelo quarto e pousaram na jaqueta dele, jogada sobre uma poltrona. Algo caiu do bolso. Um pequeno cartão branco. Meu coração bateu mais rápido. Com as mãos trêmulas, eu o peguei. Era um cartão de Fiona. A caligrafia dela era elegante e fluida. "Para o meu K, que sua bússola sempre encontre o caminho de volta para sua rosa dos ventos. Com amor, F."

[Ding. O nível de afeto do alvo caiu. Nível atual: 59%.]

O som do sistema foi como um golpe final. Cinquenta e nove por cento. O número amaldiçoado. Em cada uma das minhas 99 tentativas anteriores, em 99 vidas diferentes neste mesmo mundo, o afeto dele caía para 59% e nunca mais subia. Era o ponto de não retorno. O ponto do meu fracasso.

Eu estava em coma no mundo real, presa a uma cama de hospital depois de um acidente de carro. Minha única chance de sobreviver era completar esta missão: fazer Kieran Gordon, o antagonista deste romance inacabado, se apaixonar por mim. Se eu falhasse pela centésima vez, o sistema me daria a opção de ir para outro mundo, começar uma nova missão. Mas eu estava exausta. Exausta de falhar.

"Sistema," eu perguntei em minha mente, a voz cheia de desespero. "Por que Fiona sempre volta? Por que o afeto dele por ela é tão alto?"

[Analisando dados. O nível de afeto de Kieran Gordon por Fiona Lawrence é de 85%, representado por uma barra vermelha vibrante. Seu nível de afeto por você, Raegan Hayes, é de 59%, representado por uma barra azul pálida.]

O choque me deixou sem ar. Oitenta e cinco por cento. Eu nunca seria capaz de competir com isso. Era uma humilhação, uma verdade dolorosa que o sistema me mostrava em dados frios e impessoais.

[Falha iminente. Deseja ativar a opção de transferência para um novo mundo?]

Kieran saiu do banheiro, vestindo um roupão de seda. Ele sorriu para mim, um sorriso que já me fez derreter, mas que agora parecia uma máscara. "Está tudo bem, querida? Você parece pálida." Ele se sentou na cama e pegou minha mão, o toque dele quente e reconfortante, mas completamente falso.

Eu olhei para ele, para o homem que eu tentei amar por quase cem vidas, e uma nova determinação surgiu em mim. Eu não podia desistir. Não desta vez. Esta era minha centésima tentativa, minha última chance.

"Não," eu disse ao sistema, com a voz firme em minha mente. "Eu vou continuar."

"Estou bem, Kieran," eu disse a ele, forçando um sorriso. "Só um pouco sobrecarregada com tudo." Ele me puxou para um abraço, e eu me permiti afundar em seu peito, mesmo sabendo que seu coração pertencia a outra. Mais tarde, ele me trouxe um prato de sopa, dizendo que eu precisava comer. A sopa tinha um leve aroma de jasmim. Eu odiava jasmim. Era o perfume favorito de Fiona.

            
            

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