Sua gentileza era uma faca de dois gumes. Parte de mim queria gritar, acusá-lo de me ver apenas como uma substituta para Fiona. Mas a outra parte, a parte que ainda ansiava por seus 100% de afeto, tinha medo de afastá-lo. Ele era como uma rosa cheia de espinhos; eu queria me aproximar, mas cada movimento me machucava.
"Não precisa," eu disse, balançando a cabeça. "Não estou com fome."
Na manhã seguinte, acordei sozinha. A cama ao meu lado estava fria. Sentei-me, sentindo um vazio no peito. Procurei por ele no quarto e o encontrei na varanda, de costas para mim. Ele estava olhando para algo em suas mãos, tão absorto que não me ouviu aproximar.
Quando me aproximei, ele rapidamente guardou o que quer que fosse no bolso do roupão. Ele se virou com um sorriso, mas seus olhos não conseguiam esconder um lampejo de pânico. "Bom dia, dorminhoca." Ele me beijou suavemente. "Eu ia te acordar com o café da manhã na cama."
Sua afeição repentina só aumentou minhas suspeitas. Eu sorri de volta, fingindo não ter notado nada. "Vou tomar um banho primeiro." Assim que ele saiu para pedir nosso café da manhã, corri para o roupão dele. Meu coração batia descontroladamente enquanto eu enfiava a mão no bolso. Meus dedos encontraram um pedaço de papelão gasto. Era uma foto antiga, desbotada pelo tempo. Nela, um Kieran mais jovem sorria, abraçando uma garota com um sorriso radiante. Fiona.
A dor foi aguda, um sentimento familiar de ciúme e impotência. Eu rapidamente coloquei a foto de volta, meu rosto uma máscara de indiferença quando ele voltou com uma bandeja cheia de frutas e pães. "Você parece melhor esta manhã," ele comentou, colocando a bandeja na minha frente. "Coma um pouco. Você precisa de energia."
Sua gentileza era sufocante. Eu comi em silêncio, cada mordida amarga em minha boca. Mais tarde, enquanto me arrumava, me olhei no espelho. Eu parecia pálida e cansada, com olheiras sob os olhos. O sistema não apenas media o afeto dele, mas também drenava minha própria força vital a cada falha. Eu estava perdendo minha vitalidade, minhas emoções se tornando limitadas, como se estivessem presas atrás de um vidro.
Desesperada, peguei um batom vermelho vibrante, uma cor que Fiona costumava usar. Eu o apliquei nos meus lábios, olhando meu reflexo. Será que se eu me parecesse mais com ela, ele me amaria mais? A ideia era patética. Eu limpei o batom com raiva. Eu não era ela. Eu nunca seria.
Quando estávamos saindo, Kieran me elogiou. "Você está linda, Raegan." Seus olhos brilharam por um momento. "Essa cor de vestido te deixa... radiante. Me lembra de algo bom."
A dúvida persistia. Ele estava me elogiando ou elogiando uma memória dela? No carro, o cheiro do perfume dele se misturou com o ar condicionado, criando uma atmosfera íntima e claustrofóbica. Era como um sonho do qual eu não conseguia escapar.
"Kieran," eu disse, virando-me para ele. "Eu te amo."
"Eu também te amo, Raegan," ele respondeu, seus olhos na estrada.
Eu precisava ouvir mais. "Você só me ama?" A pergunta saiu trêmula, vulnerável.
Ele tirou os olhos da estrada por um segundo para me olhar. Ele estendeu a mão e apertou meu rosto suavemente. "Claro que sim. Eu só amo você, Raegan. Só você."
Suas palavras eram um bálsamo para minha alma ferida. Por um momento, eu me permiti acreditar nele, me deixei ser enganada por sua promessa.