De Vítima a Arquiteta do Destino
img img De Vítima a Arquiteta do Destino img Capítulo 2
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

O dia seguinte na escola foi tenso.

Eu podia sentir os olhos de Lucas em mim durante toda a manhã, um misto de confusão e irritação.

Ele não entendia a minha rejeição.

Na sua cabeça, eu era uma posse garantida, uma extensão da sua vontade.

A minha súbita independência era uma afronta que ele não conseguia processar.

No intervalo, ele me encurralou perto dos armários.

Seu rosto, normalmente sorridente e charmoso, estava fechado, a mandíbula tensa.

"Lívia, precisamos conversar."

"Eu não acho que tenhamos algo para conversar, Lucas."

Tentei passar por ele, mas ele bloqueou meu caminho.

"Você não pode simplesmente me tratar assim. O que deu em você ontem? Desligar na minha cara?"

"Eu estava ocupada. E agora também estou. Com licença."

Sua expressão se tornou mais sombria, a confusão dando lugar a uma raiva mal disfarçada.

Ele era orgulhoso, e eu havia ferido seu ego.

"Ah, então é assim?" ele disse, com a voz carregada de despeito. "Se você não me quer mais, então eu quero tudo de volta."

Eu parei, olhando para ele sem entender.

"Tudo o quê?"

"Tudo que eu já te dei. O colar, os brincos, os livros, até o dinheiro dos ingressos de cinema que eu paguei. Quero tudo de volta. Agora."

Ele esperava que eu ficasse chocada, humilhada.

Na minha vida passada, eu teria chorado, implorado, perguntado o que eu fiz de errado.

Mas a nova Lívia apenas sentiu um alívio imenso.

Era a chance perfeita de cortar todos os laços, de me livrar de cada objeto que carregava o peso da sua manipulação.

Eu olhei diretamente nos olhos dele, minha voz calma e nivelada.

"Tudo bem."

A resposta o pegou de surpresa. Ele piscou, sem saber o que dizer.

"O quê?"

"Eu disse, tudo bem. Vou te devolver tudo. Amanhã, depois da aula, aqui mesmo. Vou trazer cada item e um extrato do dinheiro que você gastou comigo. Vou te pagar até o último centavo."

Eu me virei e fui embora, deixando-o parado no corredor, boquiaberto.

No dia seguinte, cumpri minha promessa.

Cheguei ao local combinado com uma caixa de papelão.

Dentro, estavam todos os presentes que ele me deu ao longo dos anos.

O colar com um pequeno coração, os brincos de prata, os ursos de pelúcia, os livros com dedicatórias falsas.

Em cima de tudo, um envelope com o dinheiro que eu havia calculado meticulosamente, até os centavos.

Entreguei a caixa para ele sem uma palavra.

Ele olhou para dentro, seu rosto uma máscara de incredulidade e raiva.

Ele não queria as coisas de volta, ele queria me humilhar. Meu ato calmo e metódico tirou todo o poder dele.

Quando ele estava prestes a dizer algo, uma voz melosa soou atrás dele.

"Luquinhas, o que é isso?"

Sofia se aproximou, olhando para a caixa com curiosidade fingida.

Ela pegou o colar de dentro da caixa, o mesmo colar que eu usei por anos.

"Nossa, que bonito. É para mim?" ela perguntou, com um sorriso inocente que não alcançava seus olhos calculistas.

Antes que Lucas pudesse responder, ela o colocou no pescoço.

"Ficou ótimo em mim, não acha? Combina mais comigo do que com certas pessoas."

Ela me olhou de cima a baixo, um sorriso de desprezo nos lábios.

A humilhação pública. Outra de suas táticas favoritas.

Lucas, vendo a cena, rapidamente se recompôs e entrou no jogo dela.

"Ficou perfeito em você, Sofia. Tudo fica melhor em você."

Ele se virou para mim, sua voz alta para que todos no corredor pudessem ouvir.

"Viu, Lívia? Algumas pessoas simplesmente não sabem apreciar coisas boas. Você nunca deu valor a nada que eu fiz por você."

A dor da traição, uma memória fantasma da minha vida passada, tentou emergir.

Mas eu a empurrei para o fundo.

Não mais.

Eu olhei para os dois, o casal perfeito em sua crueldade mútua, e senti apenas nojo.

"Fiquem com o lixo um do outro. Vocês se merecem."

Minha voz saiu mais fria do que eu esperava.

A expressão de Sofia vacilou por um segundo, e o sorriso de Lucas desapareceu.

Eu me virei para ir embora, para me afastar daquela cena tóxica.

Mas Lucas não havia terminado.

Movido pela raiva e pela humilhação de ser exposto, ele agarrou meu braço com força, me virando para encará-lo.

"Quem você pensa que é para falar assim com a gente?"

O aperto dele era forte, doloroso. Seus dedos cravando na minha pele.

"Me solta, Lucas. Você está me machucando."

"Você vai aprender a ter respeito!" ele gritou, e em um movimento rápido, ele me empurrou com força.

Meu corpo bateu contra a fileira de armários de metal com um baque surdo.

A dor explodiu na minha nuca e nas minhas costas.

Por um momento, o mundo girou.

O corredor ficou em silêncio, todos olhando chocados.

Até mesmo Sofia pareceu surpresa com a violência dele.

Lucas me olhou, seu peito arfando, a raiva em seus olhos dando lugar a um pânico momentâneo.

Ele havia cruzado uma linha.

E naquele momento, deitada no chão frio da escola, com a dor irradiando pelo meu corpo, eu soube.

A guerra não seria apenas sobre o meu futuro.

Seria sobre a destruição completa deles.

---

            
            

COPYRIGHT(©) 2022