De Vítima a Arquiteta do Destino
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Capítulo 3

A dor na minha nuca era uma lembrança constante do empurrão de Lucas.

Passei o resto da semana com uma dor de cabeça latejante, mas me recusei a mostrar qualquer fraqueza.

Fisicamente, eu estava me recuperando, mas emocionalmente, o ataque me fortaleceu.

Confirmou tudo o que eu já sabia sobre ele, sua capacidade de recorrer à violência quando sua manipulação falhava.

Na escola, eu me tornei uma sombra.

Mudei minhas rotas entre as aulas, evitava a cantina nos horários de pico, fazia tudo ao meu alcance para não cruzar o caminho de Lucas ou Sofia.

Não era medo, era estratégia.

Eu precisava de espaço para me concentrar no que realmente importava: o vestibular e a competição de ciências que se aproximava.

A competição.

Uma memória afiada e dolorosa veio à tona.

Na minha vida passada, eu havia me preparado por meses para essa competição.

O vencedor ganhava uma bolsa de estudos integral para a melhor universidade do país, a minha chance de ouro.

Na manhã da competição, Lucas me ligou, desesperado.

Ele disse que Sofia tinha tido uma crise alérgica grave, que estava sozinha e precisava de ajuda urgente.

Ele soava tão convincente, tão apavorado.

Eu, a tola apaixonada, abandonei meu sonho e corri para ajudá-la.

Quando cheguei, Sofia estava perfeitamente bem, tomando um chá na varanda.

Lucas apareceu logo depois, sorrindo, dizendo que foi um "alarme falso".

Perdi a competição.

Perdi a bolsa de estudos.

O prêmio foi para o segundo colocado, um estudante mediano que por acaso era primo de Sofia.

Tudo tinha sido um plano.

Um plano para me tirar do caminho, para garantir que eu não fosse a lugar nenhum, que ficasse presa a ele.

Sentada na biblioteca, com os livros de física abertos na minha frente, eu senti um calafrio.

Eles tentariam de novo.

Era inevitável.

Meu sucesso era uma ameaça para eles.

E, como se fosse um roteiro, meu celular vibrou sobre a mesa.

Era Lucas.

Meu coração não acelerou de ansiedade, mas sim de uma certeza fria e calculista.

Atendi.

"Lívia, graças a Deus você atendeu!" Sua voz estava carregada de pânico, uma atuação idêntica à da minha vida passada. "É a Sofia! Ela... ela caiu da escada, acho que quebrou a perna. Eu estou preso no trânsito, não consigo chegar lá. Você é a única perto, por favor, você precisa ir ajudá-la!"

As mesmas palavras. A mesma mentira.

O mesmo desprezo pela minha inteligência e pelos meus sonhos.

Na minha vida anterior, eu teria entrado em pânico, largado tudo e corrido.

Mas agora, eu apenas segurei o telefone, ouvindo sua atuação patética, e senti uma calma gelada tomar conta de mim.

Ele achava que eu era a mesma garota estúpida.

Ele estava prestes a ter uma grande surpresa.

"Que pena, Lucas."

Minha voz era desprovida de qualquer emoção.

Houve uma pausa. Ele não esperava essa resposta.

"O quê? Lívia, você não entendeu? A Sofia está machucada! Ela precisa de você!"

"Eu entendi perfeitamente. Mas, infelizmente, eu não posso ir."

"Não pode? Por quê? O que pode ser mais importante do que uma emergência?"

Eu olhei para o relógio na parede da biblioteca. A competição começaria em uma hora.

"Minha competição, Lucas. Ela é mais importante."

O silêncio do outro lado da linha foi longo e pesado.

Eu podia quase ouvir as engrenagens girando em sua cabeça, a frustração crescendo.

"Você está brincando comigo? Você está escolhendo uma competição estúpida em vez de ajudar uma pessoa? Que tipo de pessoa você se tornou?"

"O tipo de pessoa que não cai mais nas suas mentiras."

O choque em sua respiração foi audível.

"O que... o que você quer dizer com isso?"

"Eu quero dizer, Lucas, que o seu show acabou. Diga à Sofia para ter mais cuidado na próxima vez que ela fingir uma queda. E diga a ela que o primo dela vai ter que se esforçar mais este ano, porque eu estarei lá para pegar o que é meu."

Eu não esperei por uma resposta.

Não dei a ele a satisfação de me ouvir desligar.

Simplesmente abaixei o telefone, abri a tampa traseira, retirei a bateria e a coloquei no bolso.

Peguei minha mochila, meus materiais de apresentação e saí da biblioteca.

Cada passo em direção ao auditório da competição era um passo para longe do meu passado.

Cada passo era uma vitória.

Eu não estava apenas indo para uma competição de ciências.

Eu estava indo para a batalha, e desta vez, eu estava armada com a verdade.

Eles não me parariam. Não de novo. Nunca mais.

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