Ao descer do palco, vi Lucas parado perto da saída.
Seu rosto era uma tempestade de fúria.
O plano dele havia falhado espetacularmente, e ele não estava lidando bem com isso.
Quando passei por ele, ele sibilou, baixo o suficiente para que apenas eu ouvisse.
"Você vai se arrepender disso."
Eu não respondi. Apenas continuei andando, o que pareceu enfurecê-lo ainda mais.
O anúncio dos resultados seria feito em uma hora.
Usei esse tempo para me sentar em um canto tranquilo e revisar minhas anotações, tentando manter a calma.
De repente, uma comoção começou perto da entrada do auditório.
Lucas estava no centro dela, com uma expressão de dor no rosto, segurando o tornozelo.
Sofia estava ao seu lado, parecendo preocupada.
"O que aconteceu?" alguém perguntou.
"Foi a Lívia!" gritou Sofia, apontando para mim. "Ela o empurrou! Ela estava com raiva porque ele tentou fazê-la ajudar uma amiga e o atacou!"
As pessoas se viraram para me olhar, seus rostos cheios de choque e acusação.
Lucas, o mestre da encenação, mancou dramaticamente, apoiando-se em Sofia.
"Eu só estava preocupado com ela", disse ele, com a voz embargada. "Ela tem estado tão fria, tão cruel. Eu só queria entender, e ela... ela me atacou. Disse que eu merecia."
A mentira era tão descarada, tão pública.
Eu entendi o plano dele imediatamente.
Se ele não podia me impedir de competir, ele destruiria minha reputação.
Ele me faria parecer uma vilã instável e violenta, minando qualquer credibilidade que minha vitória pudesse me trazer.
Ele queria me humilhar na frente de todos, transformar meu momento de triunfo em um espetáculo de vergonha.
A raiva borbulhou dentro de mim, quente e amarga.
Eu poderia gritar, negar, chamá-lo de mentiroso.
Mas isso só me faria parecer mais descontrolada, exatamente como ele queria.
Então, fiz a única coisa que podia.
Levantei-me lentamente, peguei minha mochila e caminhei em direção à saída, passando pelo grupo sem dizer uma palavra.
Meu silêncio era mais poderoso do que qualquer negação.
Enquanto eu passava, Lucas agarrou meu braço novamente, seu aperto como ferro.
"Você não vai a lugar nenhum, sua mentirosa. Você vai ficar aqui e admitir o que fez."
Eu parei e olhei para a mão dele no meu braço, depois para o rosto dele.
"Me solta, Lucas." Minha voz era um aviso gelado.
"Ou o quê? Vai me empurrar de novo na frente de todo mundo?" ele zombou.
Atrás dele, pude ver os juízes da competição saindo de uma sala lateral, suas expressões confusas com a comoção.
Era agora ou nunca.
Eu me afastei dele com um puxão forte, libertando meu braço.
Não disse mais nada. Apenas me virei e saí do auditório, deixando-o no meio de seu próprio circo.
Enquanto eu caminhava pelo corredor, ouvi sua voz gritando atrás de mim.
"Isso não acabou, Lívia! Eu vou garantir que todos saibam quem você realmente é!"
Sentei-me em um banco do lado de fora, meu coração martelando contra as costelas, não de medo, mas de uma fúria gelada.
Dez minutos depois, a porta do auditório se abriu e um dos organizadores me chamou.
"Lívia? Os juízes gostariam de falar com você."
Voltei para dentro. Lucas e Sofia ainda estavam lá, ele ainda mancando, ela ainda o amparando.
O juiz principal, um professor de física renomado, me conduziu a um canto.
"Senhorita Lívia, estamos cientes da... situação aqui. Mas nossa decisão é baseada unicamente no mérito acadêmico. E, com base nisso, a decisão foi unânime."
Ele fez uma pausa, e meu mundo parou por um segundo.
"Parabéns. Você é a vencedora da competição e da bolsa de estudos."
Um alívio tão profundo me inundou que minhas pernas quase cederam.
Eu consegui.
Apesar de tudo, eu consegui.
O anúncio público foi feito logo em seguida.
Quando meu nome foi chamado, um misto de aplausos e sussurros encheu o auditório.
Subi ao palco para receber o prêmio, meus olhos encontrando os de Lucas.
O ódio em seu olhar era puro, sem disfarces.
Ele não conseguia acreditar que, mesmo com sua melhor tentativa de sabotagem, eu ainda havia vencido.
Enquanto eu descia do palco, ele fez sua última jogada desesperada do dia.
Ele "tropeçou" e caiu no chão, gritando de dor, segurando o tornozelo.
"Meu tornozelo! Acho que quebrou! É tudo culpa dela!"
Sofia correu para o seu lado, chorando, pedindo ajuda.
Era um espetáculo patético e exagerado.
As pessoas ao redor pareciam divididas, algumas preocupadas, outras céticas.
Ele estava tentando roubar meu momento, transformar minha vitória em uma nota de rodapé de seu drama fabricado.
Mas eu não ia deixar.
Não desta vez.
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