Laura: Destino Reescríto
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Capítulo 2

Alguns dias depois do anúncio, a universidade ainda fervilhava com a fofoca da minha escolha. Eu me tornei o centro das atenções, não pela minha nota no exame, mas pela minha decisão inexplicável. Ignorei os olhares e sussurros, focando em organizar minha nova vida. O primeiro passo era encontrar a Dra. Sofia para discutir os próximos passos.

Eu estava a caminho do seu laboratório, um prédio mais antigo e afastado do campus principal, quando ouvi meu nome ser chamado. A voz era melosa, mas carregada de uma raiva mal contida.

"Laura."

Eu parei e me virei. Lá estavam eles. Dra. Beatriz e Dr. Pedro, parados no meio do corredor como se estivessem me esperando. Beatriz havia se recuperado do seu "mal-estar" público, mas seu rosto ainda carregava uma palidez doentia. Pedro estava ao seu lado, com uma expressão de mártir.

Ver os dois juntos, de pé, na minha frente, não me causou a dor que eu esperava. Na vida passada, a visão deles me destruiria. Agora, eu sentia apenas um cansaço profundo e uma repulsa fria.

"Dra. Beatriz. Dr. Pedro," eu cumprimentei, minha voz neutra.

Beatriz deu um passo à frente. Seu olhar percorreu meu corpo, avaliador e desdenhoso.

"Eu não entendo, Laura," ela começou, sem nenhum preâmbulo. "Depois de tudo o que conversamos. Depois de todas as promessas. Você me disse que eu era sua inspiração, que trabalhar comigo era o seu maior sonho. O que foi aquilo no auditório?"

Suas palavras eram um eco fantasmagórico da minha vida anterior. Sim, eu disse todas aquelas coisas. E eu acreditava nelas, com todo o meu coração. Agora, ouvir isso da boca dela soava como uma piada cruel. O amor e a admiração que eu sentia por ela haviam se transformado em cinzas e poeira na minha memória. A única coisa que restava era a lembrança da dor, da traição e da minha morte solitária.

"As pessoas mudam de ideia, Dra. Beatriz," respondi calmamente. "Sonhos mudam."

"Mudar de ideia?" ela riu, um som áspero e desagradável. "Você não muda de ideia assim. Você me humilhou. Na frente de todos. Por quê?"

Antes que eu pudesse responder, Pedro interveio. Ele deu um passo à frente, colocando-se ligeiramente à frente de Beatriz, como um protetor. Sua voz era suave, mas cheia de acusação.

"Laura, por que você fez isso com a Bia? Ela estava tão animada para trabalhar com você. E você sabe o quanto eu me sacrifiquei para estar aqui, para poder ficar perto dela. Você me prometeu que nos ajudaria."

Ah, o sacrifício. A grande mentira que sustentou toda a tragédia da minha vida passada. A história de que ele era um gênio incompreendido que abandonou tudo por amor. Olhando para ele agora, eu via apenas um homem medíocre com um ego inflado e uma habilidade notável para manipulação.

"Eu prometi?" perguntei, arqueando uma sobrancelha. "Eu não me lembro de ter prometido nada a você, Dr. Pedro. Na verdade, mal nos conhecemos."

Pedro pareceu pego de surpresa pela minha franqueza. Ele esperava que eu ficasse intimidada ou culpada.

"Como você pode dizer isso?" ele disse, sua voz ganhando um tom de indignação. "Eu deixei um cargo de prestígio em outra instituição! Eu vim para cá para ser um simples assistente de pesquisa! Tudo por ela! E você, com sua influência, poderia ter me conseguido uma posição melhor, um projeto... Mas em vez disso, você nos vira as costas!"

A audácia dele era de tirar o fôlego. Ele estava me acusando, nesta vida, por algo que Beatriz acreditava que eu tinha feito na vida anterior. O roteiro era exatamente o mesmo.

Eu soltei uma risada curta e seca. O som pareceu ecoar no corredor vazio.

"Dr. Pedro, com todo o respeito, vamos ser honestos," eu disse, olhando diretamente em seus olhos. "Eu tive acesso ao seu currículo. Seu 'cargo de prestígio' em outra instituição era como assistente de laboratório júnior. Seu histórico de publicações é... escasso. Você não se tornou um assistente de pesquisa aqui por sacrifício. Você se tornou um assistente de pesquisa porque era a única posição para a qual você se qualificava."

O rosto de Pedro ficou vermelho. A máscara de vítima caiu, revelando uma fúria impotente. Ele abriu a boca para protestar, mas nenhuma palavra saiu. Eu tinha atingido o ponto nevrálgico. A verdade.

Beatriz, vendo seu amado ser exposto, partiu para o ataque.

"Como você se atreve?" ela sibilou, seus olhos faiscando. "Você não sabe de nada! Você é apenas uma garota arrogante que acha que o mundo gira ao seu redor! Você não tem ideia do gênio que ele é, do potencial que ele tem!"

"Se ele é um gênio, por que precisa de mim para conseguir uma posição?" retruquei, minha paciência se esgotando. "Um gênio não deveria ser capaz de provar seu próprio valor?"

Minhas palavras pairaram no ar, pesadas e irrefutáveis. O silêncio que se seguiu foi a confirmação. Eles não tinham resposta. A base de sua narrativa, a injustiça que alimentava seu ressentimento, era uma fraude. E, pela primeira vez, alguém teve a coragem de dizer isso em voz alta.

Eu olhei de um para o outro. A mulher que eu idolatrei e o homem que a manipulou. Eles pareciam patéticos.

"Eu tenho um encontro com minha orientadora," eu disse, com uma finalidade cortante. "Se me dão licença."

Eu me virei e comecei a andar, deixando-os parados no meio do corredor. Eu não olhei para trás, mas pude sentir seus olhares cheios de ódio seguindo cada um dos meus passos. O confronto tinha sido inevitável, e eu estava feliz por ter acontecido. Ele solidificou minha resolução. Não havia mais espaço para dúvidas ou sentimentalismos. A guerra havia sido declarada.

            
            

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