Dra. Sofia, que estava sentada em sua mesa, levantou o olhar de uns papéis, uma sobrancelha arqueada em desaprovação.
"Dra. Beatriz," disse Sofia, sua voz fria e cortante. "Estamos no meio de uma reunião. Se você tem algum assunto, por favor, marque um horário."
Beatriz a ignorou como se ela fosse um móvel. Seus olhos estavam fixos em mim.
"Isso não vai demorar," ela disse. "Eu vim fazer uma proposta. Uma última chance para você consertar seu erro. Eu ainda estou disposta a te aceitar como minha aluna."
Eu a encarei, incrédula.
"Mas com uma condição," ela continuou, seu tom soando como se estivesse me fazendo um favor imenso. "Você vai usar sua influência com o reitor para criar uma nova vaga de pesquisador sênior no meu departamento. E essa vaga será para o Pedro."
O absurdo da exigência me deixou sem palavras por um momento. Ela não estava apenas pedindo para eu voltar atrás na minha decisão, ela estava me chantageando abertamente para beneficiar seu amante.
Dra. Sofia soltou um bufo de descrença. "Você está falando sério, Beatriz?"
"Estou falando com a Laura," Beatriz retrucou, sem sequer olhar para Sofia. "Então, Laura? É uma oferta generosa. Uma chance de trabalhar com a melhor e de se redimir pela sua grosseria."
Por um instante fugaz, uma dor antiga me atingiu. A dor da jovem que um dia teria feito qualquer coisa por essa mulher, que teria se sentido honrada por tal "oferta". Mas a sensação durou apenas um segundo antes de ser substituída por uma clareza gelada. Eu olhei para o rosto dela, para a arrogância e o direito que ela exalava, e soube que qualquer sentimento que eu já tive por ela estava morto e enterrado.
"Não, obrigada, Dra. Beatriz," eu disse com firmeza. "Eu estou muito satisfeita com a minha escolha."
A expressão de Beatriz se contraiu. "Não seja tola, garota. Você está jogando seu futuro no lixo por causa de um capricho. A Dra. Sofia não pode te levar a lugar nenhum."
Nesse momento, Pedro, que até então estava quieto, deu um passo à frente. Ele colocou a mão no braço de Beatriz e olhou para ela com uma expressão de adoração doentia.
"Bia, querida, não se desgaste," ele disse, sua voz suave e melosa. "Se ela não quer a nossa ajuda, o problema é dela. Nós temos um ao outro. Isso é o que importa."
Ele então a puxou para perto e beijou sua bochecha, um gesto claramente calculado para me provocar. Na minha vida anterior, uma cena como essa teria me despedaçado. Teria sido a prova visual da minha exclusão, do amor deles que supostamente eu estava atrapalhando.
Agora, eu só sentia nojo. A performance deles era tão transparente, tão patética.
Eu olhei para a Dra. Sofia, que observava a cena com uma mistura de desprezo e diversão. Nossos olhares se encontraram, e eu vi um lampejo de compreensão em seus olhos.
Eu não precisava mais assistir a esse circo.
"Dra. Sofia, acho que nossa reunião por hoje acabou," eu disse, pegando minha bolsa. "Podemos continuar amanhã?"
"Claro, Laura," ela respondeu, seu tom profissional, mas com um toque de apoio.
"O quê? Você não pode simplesmente ir embora!" Beatriz protestou, sua voz subindo uma oitava. "Eu não terminei!"
"Mas eu sim," eu disse, passando por eles em direção à porta. "Eu não tenho mais nada a discutir com vocês. Por favor, não me procurem mais. E Dra. Beatriz, da próxima vez, sugiro que bata na porta."
Eu saí do laboratório sem olhar para trás, deixando-os na presença incômoda da Dra. Sofia. Eu podia imaginar a fúria de Beatriz, a frustração de Pedro. Mas não era mais problema meu. Eu tinha escolhido meu caminho, e ele não os incluía.
Enquanto eu caminhava pelo corredor, ouvi a voz de Beatriz vindo de dentro do laboratório, não para mim, mas para Pedro, cheia de uma determinação insana.
"Não se preocupe, querido. Se ela não vai nos ajudar, eu mesma farei. Eu vou falar com meu pai. Vou falar com o conselho. Eles vão criar essa vaga para você, custe o que custar!"
A loucura dela estava apenas começando. E eu sabia, com uma certeza assustadora, que eles não desistiriam tão fácil.