"Mas há uma saída para tudo isso", ela continuou, aproximando-se da mesa que nos separava. "Uma maneira de fazer tudo isso desaparecer."
Ela colocou uma pasta na mesa e a empurrou na minha direção.
"Assine a transferência da sua empresa e de todos os direitos do 'Éden Digital' para mim. Desapareça. Deixe a cidade. Em troca, eu retiro minhas 'preocupações' sobre seu estado mental. A 'testemunha' pode subitamente ficar com a memória confusa. E você nunca mais verá Sofia."
A última frase me atingiu com a força de um soco.
"Nunca mais ver minha filha?"
"É o melhor para ela", disse Alice, com uma frieza inacreditável. "Ela não precisa de um pai instável e violento. Eu e Lucas cuidaremos bem dela. Daremos a ela uma vida que você nunca poderia dar."
A menção do nome de Lucas junto com o de Sofia fez meu sangue ferver.
"Você não vai chegar perto da minha filha", eu disse, a voz baixa e perigosa. "Nem você, nem aquele monstro. Eu vou provar minha inocência, Alice. E quando eu provar, eu juro, eu vou fazer vocês dois pagarem por cada segundo que Sofia está naquela cama de hospital."
Um sorriso zombeteiro tocou seus lábios. "Boa sorte com isso, Pedro. Você vai precisar."
Ela se virou e saiu.
Fui liberado logo depois, como ela disse. A sensação de liberdade foi curta. Eu sabia que aquilo não era o fim. Era uma jogada. Eles me soltaram porque tinham um plano pior.
As ruas pareciam hostis. As pessoas me olhavam, sussurravam. A história já tinha se espalhado. Eu era o pai que machucou a própria filha.
Peguei um táxi e fui direto para o meu estúdio. Eu precisava de dinheiro. O tratamento de Sofia seria caro, e eu sabia que Alice não moveria um dedo para ajudar se isso significasse que eu teria alguma chance. Eu tinha economias, investimentos ligados à empresa. Eu precisava acessá-los.
O estúdio estava escuro e silencioso. O oposto do lugar vibrante e criativo que costumava ser. Parecia um túmulo.
Sentei-me na minha cadeira, a tela do computador refletindo meu rosto exausto. Eu estava prestes a começar a transferir fundos quando a porta dos fundos se abriu com um estrondo.
Dois homens grandes e vestidos de preto entraram.
Eu pulei da cadeira, mas era tarde demais. Um deles me agarrou por trás, o braço em volta do meu pescoço, cortando minha respiração. O outro se aproximou, e eu senti uma picada aguda no meu braço.
Uma agulha.
Minha visão começou a embaçar. Minhas pernas fraquejaram. A última coisa que vi antes de apagar foi o brilho metálico da seringa na mão do homem.
Acordei em um lugar escuro. O chão era de concreto frio e úmido. Minhas mãos e pés estavam amarrados a uma cadeira de metal. Minha cabeça latejava e meu corpo parecia pesado, inerte. A droga ainda estava no meu sistema.
A luz se acendeu.
Alice estava parada na minha frente. Ela usava luvas de látex.
"Olá, Pedro", disse ela, com a voz calma. "Desculpe por isso, mas preciso de uma pequena coisa sua."
Ela se aproximou, segurando um cotonete. "A polícia não encontrou nenhum vestígio seu na cena do crime. Isso é um problema. Mas nós podemos consertar isso."
Ela tentou passar o cotonete na parte interna da minha bochecha para coletar uma amostra de DNA. Eu virei meu rosto, cerrando os dentes.
"Não se preocupe", disse ela, com um suspiro irritado. "Há outras maneiras."
Ela pegou um pequeno canivete do bolso. "Um fio de cabelo, algumas células da pele sob as unhas da garota... tudo funciona."
O horror da premeditação dela era paralisante. Ela ia plantar meu DNA na minha própria filha para me incriminar.
Antes que ela pudesse me tocar, uma porta se abriu atrás dela.
Lucas Costa entrou na sala, sorrindo.
"Deixe-me lidar com isso, querida. Você não precisa sujar as mãos."
Ele pegou o canivete da mão dela e se aproximou de mim. Seu sorriso era o de um predador.
"Então, Pedro. O grande gênio dos jogos. Olhe para você agora."
Ele passou a lâmina fria do canivete no meu rosto, sem cortar, apenas me aterrorizando.
"Você acha que é inteligente? Acha que pode me vencer?", ele sussurrou, o rosto perto do meu. "Você roubou a Alice. Você construiu uma empresa que deveria ter sido minha. Você vive a vida que era para ser minha."
Ele pressionou a ponta do canivete contra a minha bochecha. "Agora, eu vou pegar tudo de volta. Sua empresa. Sua mulher. E até mesmo a sua filha."
A raiva me deu uma onda de força. Eu me debati na cadeira, tentando me soltar.
Ele riu. "Isso, lute. Eu gosto quando eles lutam."
Ele me deu um soco no estômago. O ar saiu dos meus pulmões em um gemido de dor. Eu caí para a frente, limitado pelas cordas.
"Sabe, eu visitei a Sofia no hospital", disse ele, a voz casual. "Ela parece tão frágil. Tão... quebrável. Seria uma pena se as máquinas que a mantêm viva tivessem um... mau funcionamento, não é?"
A ameaça clara contra a vida da minha filha cortou a névoa da droga e da dor. Uma fúria pura e primal tomou conta de mim.
Ele se inclinou para cortar um tufo do meu cabelo. Foi o erro dele.
Com um grito de raiva, joguei meu corpo para trás e para o lado, usando todo o meu peso. A cadeira de metal desequilibrou e caiu, me levando junto. Minha cabeça bateu no concreto com um baque surdo, mas eu consegui o que queria. O movimento repentino fez Lucas tropeçar.
Eu continuei a me debater no chão, como um animal encurralado, ignorando a dor. As cordas nos meus pulsos afrouxaram um pouco com o impacto.
Lucas se recuperou e chutou minhas costelas. A dor explodiu no meu lado, mas eu não parei. Com as mãos agora um pouco mais livres, consegui agarrar a perna da cadeira e usá-la como uma alavanca.
Mas enquanto eu lutava, minha cabeça latejando por causa da queda, uma memória fragmentada veio à tona. Daquela festa, anos atrás. A festa onde Alice dizia que eu a droguei. Eu não a droguei. Lembro-me dela bebendo muito. Lembro-me de Lucas por perto, sempre a servindo mais uma bebida. Lembro-me do sorriso estranho no rosto dele.
Ele a drogou. E ele a fez acreditar que fui eu. Todos esses anos.
A traição dela não nasceu do nada. Nasceu de uma mentira que ele plantou. E ela acreditou. Ela o defendeu.
Eu estava prestes a gritar isso para ela, para abrir seus olhos, mas Lucas já estava sobre mim novamente. Desta vez, ele não estava brincando. Seus olhos estavam cheios de um ódio assassino.
Ele levantou o pé para chutar minha cabeça.
E a última coisa que senti foi uma dor cegante quando a bota dele atingiu minha têmpora. E então, escuridão.
---