Ele se levantou e começou a andar ao meu redor, como um tubarão circulando sua presa.
"Eu preciso que você entenda, Pedro. Isso não é só sobre negócios. Nunca foi. É sobre humilhação. Eu quero quebrar você. Quero que você assista enquanto eu pego cada coisa que você ama e a transformo em pó."
Ele parou atrás de mim e agarrou meu cabelo, puxando minha cabeça para trás com força.
"Eu vou assumir sua empresa. Vou lançar o 'Éden Digital' como minha obra-prima. Todos vão me aclamar como um gênio. E você? Você será esquecido, apodrecendo em uma cela, conhecido apenas como o monstro que aleijou a própria filha."
Sua voz era um veneno sussurrado no meu ouvido.
"E Alice...", ele riu. "Ela sempre foi minha. Você foi apenas um obstáculo conveniente. Um desvio."
"E Sofia?", eu consegui dizer, a voz rouca. "O que você ganha machucando uma criança inocente?"
Lucas inclinou a cabeça, me olhando com uma curiosidade doentia. "Ela não era para se machucar tanto. O plano era só um susto. Um acidente pequeno para te desestabilizar. Mas o motorista que contratei... digamos que ele se empolgou um pouco. Um feliz acidente, no fim das contas. Tornou tudo muito mais convincente."
A confissão casual dele, a falta de remorso, era desumana.
Ele me soltou e caminhou até uma pequena mesa no canto, pegando um par de alicates. Alicates de metal, enferrujados.
Meu sangue gelou.
"Vamos conseguir essa amostra de DNA de um jeito ou de outro", disse ele, estalando a ferramenta de metal. "Uma unha. Um dente. Eu não sou exigente."
Ele se aproximou de mim, o alicate aberto. O medo era uma coisa física, fria e pesada no meu estômago. Mas então, enquanto ele se inclinava, a camisa dele se esticou, e eu vi.
No antebraço dele, parcialmente coberta pela manga, havia uma tatuagem. Uma pequena serpente preta enrolada em uma adaga.
Uma tatuagem idêntica à que Sofia havia desenhado dezenas de vezes na última semana.
Ela tinha me contado sobre um "homem mau" que ela viu no parque alguns dias antes do acidente. Ela disse que ele tinha um "desenho de cobra assustador" no braço. Eu não dei importância. Achei que era apenas a imaginação fértil de uma criança.
Não era imaginação. Era ele. Sofia o viu. Ela podia identificá-lo.
E Lucas sabia disso. O "acidente" não foi um acidente. Foi uma tentativa de silenciá-la.
A percepção me atingiu com a força de um raio. Eles não iriam parar. Mesmo que eu fosse preso, enquanto Sofia estivesse viva, ela era uma ameaça. A ameaça de Lucas mais cedo sobre as máquinas do hospital não era um blefe. Era uma promessa.
Eles iam matar minha filha.
Naquele instante, o medo se transformou em algo diferente. Uma fúria branca, primordial. O amor de um pai se tornou uma arma.
Eu não gritei. Não chorei. Todo o meu ser se concentrou em um único objetivo: sair daquela cadeira e matar o homem que queria assassinar minha filha.
Quando Lucas se inclinou com o alicate, mirando na minha mão, eu explodi.
Com um rugido que veio do fundo da minha alma, eu me joguei para a frente com uma força que eu não sabia que possuía. As cordas que prendiam meus pulsos na frente da cadeira se esticaram até o limite. A cadeira de metal, já instável, tombou para a frente, e eu usei o impulso para projetar minha cabeça diretamente no rosto de Lucas.
Houve um estalo doentio de osso quebrando.
Lucas gritou, cambaleando para trás, o nariz jorrando sangue. O alicate caiu no chão com um barulho metálico.
A dor na minha cabeça era excruciante, mas a adrenalina a bloqueou. Eu caí no chão junto com a cadeira, me contorcendo e chutando. Bati a parte de trás da cadeira contra o chão de concreto repetidamente, com uma força selvagem. A madeira velha do encosto rangeu, estalou e finalmente quebrou.
Minhas mãos estavam livres.
Levantei-me, tonto e cambaleando, mas de pé.
Lucas me olhou, o choque e a dor em seu rosto rapidamente se transformando em ódio puro. Ele avançou contra mim.
Mas eu não era mais a vítima. Eu era um pai protegendo sua cria. Eu o encontrei no meio da sala, e nós caímos no chão em uma confusão de socos e grunhidos. Ele era mais forte, mas eu era movido por algo que ele nunca entenderia.
Consegui ficar por cima, meus dedos se fechando em volta do pescoço dele. Eu apertei, vendo o pânico em seus olhos enquanto ele lutava por ar.
Foi quando eu ouvi o grito de Alice.
"Pedro, pare!"
Eu a ignorei.
Então, senti uma dor lancinante e cegante na parte de trás da minha cabeça.
O mundo ficou branco por um segundo. A força em minhas mãos desapareceu.
Caí para o lado, ofegante. Minha visão estava embaçada. Vi Alice parada acima de mim, segurando um pesado cano de metal. Seus olhos estavam arregalados de pânico e horror.
Ela tinha me atingido. Para salvar Lucas.
"Alice...", sussurrei, o sangue começando a escorrer pelo meu rosto, quente e pegajoso. "Ele... ele a drogou... naquela noite... não fui eu..."
Minha visão escureceu nas bordas. O chão frio parecia estar me puxando para baixo.
E enquanto a consciência me abandonava, a memória completa daquela noite de anos atrás finalmente se encaixou. A bebida que Lucas deu a Alice. O sorriso dele. A maneira como ele a guiou para o quarto. E a maneira como ele me incriminou no dia seguinte, plantando a semente da dúvida que ela cultivou por uma década.
Ela não era apenas uma cúmplice traidora. Ela era uma vítima que se apaixonou por seu algoz e o defendeu até o fim, destruindo a única pessoa que realmente a amava.
A ironia era tão cruel, tão devastadora.
Minha última visão foi a do rosto aterrorizado de Alice, percebendo o que tinha feito, enquanto Lucas, ofegante, se levantava e sorria para ela.
Um sorriso de posse.
E então, tudo ficou preto.
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