No carro a caminho do hospital, o sistema confirmou o inevitável.
"Fracasso na missão principal. A saúde do hospedeiro começará a deteriorar-se. Tempo estimado até à morte: 30 dias."
"Tanto faz," murmurei, encostado à janela fria da ambulância.
O meu telemóvel vibrou. Uma chamada de vídeo do presidente. Atendi. A imagem tremia, mas eu podia ver tudo claramente. A Raegan, o presidente e a sua esposa estavam a cantar "Parabéns a Você" para o Leonel, que sorria, rodeado de presentes caros.
"Kieran, olha só o apartamento que o pai me deu!" A voz do Leonel era triunfante. "A Raegan disse que vai ajudar a decorar. Não é fantástico?"
Eu não respondi. Apenas observei a minha noiva a sorrir para ele, a minha família a celebrar o homem que me destruiu.
A dor no meu peito intensificou-se. Não era apenas a lesão. Era a dor da exclusão, de ser apagado. Eles tinham-se esquecido. Hoje era o meu aniversário.
Desliguei a chamada.
A minha condição piorou rapidamente no hospital. A febre subiu, a minha respiração tornou-se difícil. Os médicos correram, alarmados. Fui resgatado a tempo, estabilizado, mas sentia-me oco por dentro.
O telemóvel vibrou de novo. Mensagens do Leonel. Fotos dele com o presidente. Vídeos dele a abrir presentes. Uma foto dele e da Raegan, muito próximos, a sorrir para a câmara. Ele queria uma reação. Queria ver-me sofrer.
Mas eu já não sentia nada. Apaguei as mensagens sem responder.
Depois de alguns dias, deram-me alta. Voltei para a mansão. Eles estavam todos na sala de estar. Leonel, Raegan, o presidente e a sua esposa. O ar estava pesado.
"Kieran, que bom que voltou," disse a Raegan, a sua voz sem emoção. "O Leonel vai ficar no quarto ao lado do seu. Pode, por favor, ajudar a arrumar as coisas dele?"
Eu olhei para ela. Ela queria que eu preparasse o quarto do meu substituto.
"Estou cansado," foi tudo o que eu disse.
"Kieran, não seja rude," disse o Leonel, com uma voz fraca e ofegante. "Eu só pensei que... poderíamos ser amigos." Ele deu um passo na minha direção, fingindo preocupação.
Eu ignorei-o e comecei a subir as escadas.
De repente, ouvi um baque. O Leonel estava no chão, a gemer.
"Ai, a minha perna!"
A Raegan correu para ele, o pânico no seu rosto.
"O que você fez?" ela gritou para mim. "Peça desculpa agora!"
Eu olhei para a cena. A atuação barata do Leonel, a reação exagerada da Raegan. Antes, eu via o cuidado dela como amor. Agora, via apenas cegueira. Uma cegueira perigosa.
"Não," eu disse calmamente.
Virei-me e continuei a subir as escadas, deixando-os para trás. Fui para o meu quarto e fechei a porta.
Eu podia ouvi-los lá em baixo. A voz suave da Raegan a consolar o Leonel.
Mais tarde, ouvi passos. A porta do meu quarto abriu-se. Era o Leonel. Ele entrou, o seu rosto já não mostrava fragilidade, mas um ódio mal disfarçado.
"Ela ainda se preocupa com você," ele sibilou, o ciúme a brilhar nos seus olhos. "Mas não por muito tempo."
Ele aproximou-se, invadindo o meu espaço pessoal.
"Eu vou tirar tudo de você, Kieran. O seu lugar, o seu nome, a sua noiva. Tudo."