A Raegan entrou no quarto, atraída pelas nossas vozes. O Leonel imediatamente mudou a sua expressão para uma de tristeza. Lágrimas falsas brotaram nos seus olhos.
"Raegan, eu só queria um amigo," ele choramingou. "Mas o Kieran é tão egoísta. Ele nem sequer me deixa brincar com o cão."
A Raegan olhou para mim com fúria.
"Como você pode ser tão cruel? O Leonel está a passar por tanto! Dê-lhe o cão!"
Ela não esperou pela minha resposta. Foi até à cama, agarrou na coleira do Zico e arrastou-o na direção do Leonel. O Zico choramingou, confuso.
"Tome, Leonel. Ele é seu agora."
O Leonel sorriu e agarrou na coleira. Assim que a Raegan se virou, ele puxou o pelo do Zico com força. O cão, com dor, reagiu e mordeu a mão dele.
"Aaaah!" O Leonel gritou, um grito exagerado. "Ele mordeu-me! O seu cão mau mordeu-me!"
A Raegan virou-se, o seu rosto pálido de horror. Ela correu para o Leonel, ignorando completamente o cão assustado.
"Seu monstro!" ela gritou para mim. "Olhe o que você fez!"
Ela empurrou-me com força. Perdi o equilíbrio e caí, batendo com a cabeça na quina da mesa de cabeceira. A dor explodiu na minha cabeça, e o sangue começou a escorrer. Mas ela não olhou para mim. Nem por um segundo.
"Vamos para o hospital, Leonel," ela disse, a sua voz cheia de pânico. "Eu cuido de você."
Ela ajudou o Leonel a levantar-se e levou-o para fora do quarto, deixando-me no chão, a sangrar.
"Se acontecer alguma coisa ao Leonel por causa da raiva," ela gritou da porta, "eu juro que o mato! Você vai dar-lhe o seu pulmão, quer queira quer não!"
Eu fiquei ali, a olhar para o teto, enquanto o sangue escorria pelo meu rosto. Eu lembrava-me da Raegan de antes. A mulher que beijava as minhas cicatrizes depois de um jogo difícil, que me dizia que eu era o seu herói. Onde é que ela estava? Aquela mulher estava morta, substituída por esta estranha cega pela manipulação.
Com dificuldade, levantei-me e fui para o hospital. De novo.
Quando estava na sala de espera, a Raegan apareceu. Ela tinha deixado o Leonel a ser tratado e veio procurar-me.
"O que você está a fazer aqui?" ela perguntou, a desconfiança na sua voz.
"O Zico não o atacou. O Leonel magoou-o primeiro," eu tentei explicar, a minha voz rouca.
"Cale-se!" ela sibilou, agarrando no meu braço com força. "Não se atreva a falar mal do Leonel. Se você estragar a cirurgia, eu nunca o perdoarei."
"Eu vou fazer a cirurgia," eu disse, a minha voz vazia. "Eu prometi."
O alívio inundou o seu rosto. Ela soltou o meu braço e o seu toque tornou-se quase gentil.
"Eu sei que é difícil, Kieran. Mas o Leonel não tem culpa. Ele é frágil. Depois disto, casamo-nos. Seremos felizes."
Ela tentou tocar no meu rosto, mas eu afastei-me.
"Não me toque," eu disse.
As suas promessas, o seu toque, tudo era falso. Não valia nada. Eu já não queria nada dela.