Quando a notificação chegou no meu celular, eu quase deixei o aparelho cair no chão. Era uma mensagem da Cinthia.
"Sexta-feira, às 20h. Hotel Saint Régis. Suíte presidencial. Nome no balcão: Sr. De Santis. Ele já sabe de tudo. Está esperando você. E sim, ele é real. E sim, é exatamente como você está imaginando."
Sr. De Santis. O nome soava como algo saído de um livro. Mas não havia nada de fictício na minha situação.
Olhei para o espelho do banheiro. O reflexo que me encarava estava pálido, com olheiras fundas e um nó preso no estômago. Eu não era mulher de saltos caros, nem de vestidos justos. Eu era a que servia o café, que limpava o balcão, que chegava em casa exausta e dormia de uniforme. E agora eu estava prestes a me deitar com um homem por dinheiro.
Passei o resto da semana tentando não enlouquecer. Fui trabalhar nos dois empregos, fingindo que tudo era normal. A diferença é que agora tudo parecia mais vazio. Como se eu estivesse andando por um corredor estreito, onde ao final havia apenas uma porta: a do hotel.
Na sexta-feira, por insistência de Cinthia, fui até a casa dela para me arrumar. Quando cheguei, ela já tinha separado um vestido preto justo, feito de um tecido que moldava o corpo com perfeição. Era sofisticado, elegante, com um decote na medida certa. Ao lado, um par de saltos pretos de tiras finas e uma maquiagem completa em cima da bancada do banheiro.
- Não posso usar isso - falei, encostando na porta.
- Você vai usar. - Cinthia apareceu na sala com um copo de vinho na mão. - E vai se olhar no espelho depois pra entender que você é mais forte do que pensa. Isso aqui não é sobre ele, Isa. É sobre você. Sobre sua mãe. Sobre o que você está disposta a fazer por ela.
Eu engoli em seco. Queria chorar. Mas eu estava cansada de chorar. Agora era hora de agir.
Demorei quase uma hora pra me arrumar. Cinthia me ajudou com o cabelo - fizemos um coque alto com alguns fios soltos - e com a maquiagem - olhos marcados, pele iluminada, batom nude. Quando terminei e me olhei no espelho... eu não me reconheci.
Eu estava bonita. Não bonita como uma modelo de revista. Bonita como uma mulher decidida. Intensa. Irresistível.
Ou pelo menos era isso que eu tentava acreditar.
- Ele vai gostar - Cinthia comentou, me observando. - Na verdade... todos gostam. Mas com ele... é diferente. Ele não se envolve. Nunca. Ele paga alto porque não quer complicações. Mas é respeitoso. E direto. Não te julga, não te trata como lixo. Só quer presença. Beleza. Sexo sem amarras.
- Quantos anos ele tem?
- Trinta e três. - Ela sorriu. - E é um pecado.
- Você já esteve com ele?
Ela balançou a cabeça.
- Não. Já recusei. Ele prefere iniciantes, acredita? Diz que não gosta de "profissionais". Gosta da emoção da primeira vez. Mas é seletivo. Muito. Você foi aprovada em uma única foto.
Meu coração disparou.
- Uma foto?
- Aquela que eu tirei escondido de você no bar, lembra? - ela riu. - Quando você estava reclamando da vida e fazendo careta pro copo de refrigerante.
Revirei os olhos.
- Ótimo. Ele me escolheu por uma careta.
- Ele te escolheu porque tem olhos treinados. E você... - ela segurou meu rosto com carinho - tem uma beleza rara. Daquelas que ninguém percebe até ser tarde demais.
O carro chegou às 19h30. Um motorista me esperava em frente ao prédio da Cinthia, com um terno preto impecável e uma placa com meu nome. Me senti em um filme - mas não era uma comédia romântica. Era um suspense.
O caminho até o hotel durou cerca de vinte minutos. A cidade lá fora parecia mais barulhenta do que nunca. Dentro do carro, silêncio. Um silêncio que pesava no ar como um presságio.
Quando o carro parou na frente do Hotel Saint Régis, minhas mãos estavam geladas. Era um dos hotéis mais luxuosos da cidade. Candelabros, mármore branco, tapetes vermelhos, recepcionistas em trajes finos. Senti meu corpo todo se contrair.
Entrei com passos curtos, tentando não demonstrar que minhas pernas estavam tremendo. Me aproximei da recepção.
- Boa noite. Estou procurando pelo Sr. De Santis. Meu nome é Isabela.
A recepcionista me olhou de cima a baixo com um sorriso profissional. Digitou algo no computador e me entregou um cartão magnético.
- Suíte presidencial. Último andar. Elevador exclusivo à sua direita.
Agradeci com um aceno. Caminhei como quem pisa em um campo de gelo fino. Tudo em mim gritava: volta. Mas meu coração dizia: vai. Por ela. Por sua mãe.
O elevador subiu em silêncio absoluto. Quando as portas se abriram, me vi em um corredor amplo, decorado com obras de arte modernas e iluminação suave. No fim dele, uma única porta. Respirei fundo. Coloquei a mão na maçaneta. E girei o cartão.
A porta se abriu.
E o mundo... parou.
A suíte presidencial parecia saída de um filme de Hollywood. Uma sala ampla, com janelas do chão ao teto mostrando a vista deslumbrante da cidade à noite. Cortinas esvoaçantes, um sofá gigante de veludo escuro, champanhe em um balde de prata. E, por um momento, achei que estava sozinha.
Até ouvir o som da porta do quarto se abrindo.
Virei devagar. O tempo desacelerou.
E então, eu o vi.
Ele entrou com passos calmos, como quem não precisava correr por nada na vida. Usava uma camisa preta parcialmente aberta no peito, calça escura impecavelmente alinhada. O cabelo castanho escuro estava levemente bagunçado, como se tivesse sido ajeitado com os dedos. Tinha a barba por fazer - aquela barba que não era descuido, era charme calculado. E os olhos...
Ah, os olhos.
Eram de um verde profundo, penetrante, com um olhar que parecia te despir com um piscar. Um olhar que dizia eu sei quem você é, mesmo que você não saiba ainda.
Ele parou a poucos metros de mim.
Alto. Ombros largos. Porte firme. Corpo de homem feito. Perigoso. Magnético.
Um pecado.
- Isabela? - ele perguntou, com a voz rouca, grave, cheia de algo que me fez tremer por dentro.
Assenti. Tentei falar, mas minha garganta secou.
Ele sorriu de leve. Um sorriso lento, controlado. Como se estivesse testando meu efeito sobre ele - ou o dele sobre mim.
- Que bom que veio.
Meus dedos apertaram a alça da bolsa.
Apenas uma noite.
Era só isso que eu precisava lembrar.
Mas quando ele se aproximou, mais alguns passos... e ficou perto o bastante para que eu sentisse seu perfume - uma mistura amadeirada com algo quente e proibido -, percebi algo terrível.
Eu estava ferrada.
Muito ferrada.