Logo veio a fala de Noelle - firme, serena, mas carregada de uma advertência discreta: "Willa, você tem certeza de que quer mesmo fazer isso?"
A resposta de Willa surgiu em seguida, cortante, afiada como lâmina: "Mesmo que você tente me impedir, vai ser inútil. Você sabe que Gerard sempre fica do meu lado e nunca acredita em você."
Então, como se interpretasse uma nova personagem, seu tom se transformou. "Aaah, Gerard, rápido! Noelle tá tentando me empurrar da escada! Ela disse que eu não mereço fazer parte da família Moss, que não pertenço aqui! Ela está tentando me expulsar! Estou com medo! Aaah, me ajude, por favor!"
Ao ouvir a gravação de voz, Gerard permanecia parado, sentindo as peças do quebra-cabeça se encaixarem com uma dor quase física.
Noelle não havia empurrado Willa. Foi uma armadilha. Willa tinha se colocado de propósito na beirada da escada, encenado o medo, manipulado toda a situação, enquanto ele, cego pela confiança, tinha acreditado e apontado o dedo para Noelle - julgando e condenando sua própria irmã.
Gerard desviou o olhar, tomado por uma culpa que se enroscava como serpente no seu peito. Sua testa se contraiu, e sua voz saiu baixa, quase defensiva: "Noelle... mesmo que eu tenha me enganado... por que você não disse isso antes?"
Os olhos de Noelle brilharam com uma ironia gélida. Era isso? Seu irmão finalmente percebia que estava errado, mas tudo ainda era culpa dela por não ter explicado.
"Gerard, parece que sua memória está falhando antes mesmo da idade chegar."
"Eu...", ele tentou falar, mas as palavras morreram na sua garganta.
A lembrança o atingiu como um soco: minutos antes, Noelle tentara se explicar. Ela havia dito, com todas as letras, que não empurrou Willa.
E o que ele fez? A calou, a ignorou, e não acreditou numa só palavra. Preferiu se exaltar, atirar um copo no chão, cujo estilhaço agora ainda sangrava sua perna.
A vergonha ferveu por dentro enquanto ele lentamente voltava o olhar para Willa.
Willa estava pálida, os olhos marejados, trêmula. "Gerard... sei que errei. Não deveria ter mentido sobre Noelle. Eu só... só não queria te perder. Nem você, nem ninguém da família."
O homem franziu a testa, confuso. "O que está dizendo?"
Willa percebeu que a postura dele havia amolecido e aproveitou a oportunidade. Talvez ela ainda pudesse consertar as coisas. As lágrimas desciam agora com mais força, escorrendo pelas suas bochechas como se brotassem da alma.
"Cresci nesta casa, sempre te via como meu irmão de verdade. Sempre amava seus pais como se fossem meus. Mas quando Noelle voltou, eu fiquei com medo. Pensei que você fosse deixar de me amar. Que todos vocês iam me deixar de lado. Porque ela é a filha verdadeira... Porque ela é mais bonita... Entrei em pânico, e admito que fiz uma besteira enorme com Noelle. Mas eu juro, Gerard... isso nunca mais vai acontecer!"
O rosto dela, desfeito em lágrimas, tocou o coração de Gerard.
A confissão emotiva dela o comovera. Ele queria acreditar que Willa não era má - ela só estava assustada, e queria proteger o amor da família. Nada além disso.
Gerard se voltou para Noelle, com o tom mais brando: "Willa só mentiu porque estava com medo. Você não se machucou gravemente... Não pode deixá-la pagar por isso. Como irmã mais velha, não poderia ser generosa e perdoá-la desta vez?"
Uma risada amarga cresceu dentro de Noelle.
Gerard acabara de descobrir que ela foi falsamente acusada, manipulada, ferida. Mesmo assim, em vez de apoiá-la, ele pedia que perdoasse sua agressora.
Era inacreditável.
Ela não aguentava mais. O peso dessa casa, dessas pessoas, e das expectativas a esmagava.
Gerard, alheio ao absurdo do que dizia, ergueu a voz num tom que soava como um ultimato: "Noelle, se você vai continuar presa a isso e se recusar a perdoar Willa, então não me culpe se eu te mandar embora desta casa!"
Noelle não se abalou. Seu rosto permanecia sereno, mas seus olhos estavam frios como uma noite de inverno.
"Não precisa me expulsar. Já decidi. A partir de agora, não tenho mais nada a ver com a família Moss. Não passo mais um minuto nesta casa."
Noelle se virou e saiu, seus passos firmes rumo ao quarto. O lugar que, por dois anos, tentou fazer de lar, mas que nunca lhe pertenceu de verdade.
As malas foram feitas rapidamente, pois eram poucas as coisas que lhe pertenciam. Ela juntou documentos e algumas roupas, apenas o necessário.
Então, ela enfaixou a perna machucada como pôde, abafando a dor. Vestiu um longo vestido que cobria os curativos improvisados, fechou a mala e atravessou o corredor frio, arrastando consigo os últimos vestígios de uma vida que jamais foi sua.
Quando Gerard a viu sair com a mala, compreendeu - ela não estava apenas irritada, e estava realmente indo embora, cortando todos os laços com a família Moss.
O rosto do homem se contorceu de raiva. "Noelle, pense bem antes de fazer isso. Se sair por essa porta, não espere voltar rastejando! Você vai se arrepender amargamente!"
Noelle não vacilou, nem sequer se virou. Ela apenas disse, firme: "Não vou me arrepender."
Willa, ao lado, sentia o peito explodir de alegria. Finalmente! Noelle estava indo embora! Tudo o que fora dela agora seria seu - atenção, afeto, fortuna e, principalmente, o lugar na família Moss.
Ainda assim, ela tinha que fingir tristeza.
Borbulhando de entusiasmo, mas assumindo o papel de irmã preocupada, ela disse: "Gerard, vá atrás dela! E se algo acontecer com ela lá fora? Ela está sozinha, e se alguém a machucar?"
"Deixe ela ir. Vai implorar para voltar em poucos dias. E quando voltar, vai aprender a se colocar no lugar dela", Gerard rebateu, com a voz carregada de desprezo.
Foi nesse instante que um segurança entrou apressado, quase tropeçando nos próprios pés.
O funcionário passou por Noelle sem sequer lhe lançar um olhar. Ali, todos sabiam que Noelle não importava. Ela não tinha status ali, era Willa quem eles obedeciam, então não precisavam lhe mostrar respeito.
A voz do segurança soava alta e urgente: "Senhor, senhorita Moss! Um visitante ilustre acaba de chegar! O carro deles está lá fora... Acredito que seja da família Martin!"
O anúncio caiu como um raio.
Gerard e Willa trocaram um olhar de puro assombro, animados.
A família Martin era a mais poderosa de toda Cielrora.
Enquanto os Moss tinham status e fortuna, os Martins ditavam o jogo. O poder deles se estendia por gerações. Eles eram a definição de verdadeira nobreza.
Durante anos, a família Moss tentou se aproximar deles, sonhando com uma aliança de negócios, mas nada nunca havia acontecido.
E agora, de repente, os Martins estavam ali?
"Rápido, vamos recebê-los!", Gerard exclamou, ajeitando o paletó com pressa e sinalizando para o segurança conduzi-los.
Willa o acompanhou, os dedos alisando o vestido. Suas bochechas estavam ruborizadas, e o coração acelerado. Ela não pôde deixar de se perguntar quem da família Martin estava ali. Seria ele?