Ele Era Meu Destino (Mas Também Meu Fim)
img img Ele Era Meu Destino (Mas Também Meu Fim) img Capítulo 5 Você não tem escolha
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Capítulo 6 O que você é img
Capítulo 7 A prisioneira entre lobos img
Capítulo 8 Ecos de outras vidas img
Capítulo 9 Vínculo quebrado img
Capítulo 10 Lembranças Sangradas img
Capítulo 11 A revelação img
Capítulo 12 A marca da guardiã img
Capítulo 13 A chegada de Yrene img
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Capítulo 5 Você não tem escolha

Lyris sente o terror invadir seu peito. Ela deseja enfrentar o guardião, aquele que a esteve a amaldiçoando por séculos. Quer bater de frente, dizer que agora seria diferente, que Kael lembrava dela, que a maldição finalmente iria ser quebrada.

Mas como se o guardião pudesse ler sua mente, ele solta uma gargalhada alta, sinistra e sombria, o que faz com que todos os pelos do corpo de Lyris se arrepiem, seus olhos enchem de lágrimas e ela começa a recuar.

Um passo para trás.

Dois passos.

Ela começa a se afastar, andando de costas, até sem perceber, esbarrar sobre o peito de Kael. Ela se vira rapidamente para ele, o coração acelerado, os lábios entreabertos. E exatamente como a conexão de alma que ambos possuíam: Kael a enxerga intimamente.

- Lyris... - ele murmura, os olhos escuros preso em seu rosto, observando cada detalhe. - O que aconteceu? Por que está tão assustada?

Lyris sabe que Kael não pode ver o guardião, que ele não poderia sequer imaginar o quão terrível aquela entidade poderia ser. Ela abre os lábios, deseja compartilhar aquilo com ele, dividir o peso em seu peito, no entanto, quando Lyris levanta os olhos para o encarar, sua respiração para.

Ela olha o ombro de Kael e vê o sangue que agora começava a juntar com mais precisão. O desespero toma conta do seu corpo, porque ela sabe que quanto mais tempo passar ao seu lado, o quão mais rápido ele estiver de se lembrar, a sua vida corria perigo.

E Lyris sempre iria escolher se sacrificar para salvar a vida dele e é exatamente isso que ela faz: Lyris corre.

Ela precisa fugir de Kael, daquela cidade. Mas de alguma maneira, ela já sabia que tudo aquilo era inútil.

- Lyris, espera! - ela ouve a voz de Kael, e logo em seguida, escuta seus passos atrás dela.

Ele corre em sua direção. Corre para ela.

Corre para morte.

- Por favor, me deixe em paz! - Lyris grita e olha para trás, as lágrimas já embaçando sua visão.

Nesse exato momento de distração de Lyris, ela não consegue enxergar um buraco no meio daquela calçada, o que faz com que os saltos de sua bota fiquem presos naquele concreto e ela vai direto em direção ao chão.

Ela grita e Kael toma um impulso ainda maior para pular em sua direção e evitar sua queda. Ele consegue, mas de modo ainda parcial. Porque assim que encontra Lyris e a toma sobre seus braços, ele percebe o corte profundo em seus joelhos.

- Merda! - Lyris choraminga e tenta esconder o rosto, o seu peito queimando mais que os seus joelhos, agora rasgados.

Kael está sentado no meio daquela calçada, o corpo de Lyris bem aconchegado pelo seu, a protegendo. Carinhosamente, ele afasta os fios de seus longos cabelos escuros de frente do seu rosto.

- Por que fez isso? Por que insiste em fugir de mim? - ele pergunta.

Lyris engole em seco e apenas balança a cabeça; não há o que responder. Ela sabe que precisava fugir dele, mas de algum modo, estando presa em seu corpo como estava naquele momento, era exatamente onde ela queria estar.

- O que está acontecendo com seu sangue? - de repente, a voz de Kael passa a soar inquisitiva.

Lyris direciona o olhar exatamente para o local em que Kael está observando e o seu coração acelera. O sangue, que agora escorria do seu joelho, havia perdido totalmente a consistência e a coloração de um sangue normal.

Seu sangue, da cor do mais brilhante índigo, brilhava fortemente sob a luz da lua, causando fortes cintilações ao seu redor.

- Eu... - ela tenta explicar, mas não havia explicações. Não sem precisar conta toda a história da sua vida desde o seu começo.

Aquilo tudo era sinal de que a maldição estava instável, que algo não estava como usualmente como costumava ser. Talvez o fato de Lyris ainda estar agarrada a Kael fosse mais um agravante.

Ela então começa a se afastar e tenta se levantar com dificuldade. Kael apenas a assiste, a observa, enquanto sua mente apenas gira com mais confusão do que antes. Se fosse possível, quanto mais ele conhecia dela, menos ele sabia.

E por isso, ele pergunta:

- O que é você, Lyris? Sei que não é uma loba. Mas também sei que não pode ser uma humana.

Lyris engole em seco, ficando finalmente de pé, e limpando sujeira invisível em seu casaco.

- Não sou nada, Kael. Sou apenas alguém comum.

- Comum? - ele solta uma risada sem humor algum. - Você viu o que tentou ataca-la mais cedo, aquele lobo com olhos pretos? Ninguém comum é perseguido por um Guardião do Ciclo!

- O quê? - Lyris arfa e dá um passo para trás, completamente surpresa e em choque. - Como... Como você sabe que era um Guardião do Ciclo?

Kael então se levanta e com a expressão completamente diferente de tudo que Lyris já vira dele antes, ele profere seriamente:

- Isso é a prova que eu também sei mais do que você pensa. - ele diz enquanto se aproxima dela, seus rostos estão tão pertos que ela quase pode sentir o seu gosto, o hálito quente queimando sua pele. O corpo de Lyris enrijece. - Então, Lyris, você vai me dizer o que você é? - ele pergunta, por fim.

Ela engole em seco, ainda que seus olhos, nesse momento, estejam presos nos lábios dele e na proximidade absurdamente magnifica do seu rosto contra o dela.

- Eu já disse que eu não sou nada, Kael. Eu sou ninguém.

Kael respira lentamente e leva sua mão até os cabelos de Lyris, e guarda seus fios atrás da orelha.

- Bom, então você não me dá mais nenhuma opção.

- O que quer dizer? - Lyris pergunta genuinamente confusa.

- Quer dizer que você vem comigo.

O coração dela disparou. Parte sua queria gritar. Outra... queria ficar exatamente onde estava

E antes que Lyris pudesse reagir, uma bolha enorme cobre os dois, uma ventania beirando a uma iminente invernia passa a girar ao redor, seus cabelos voando para todos os lados. Ela grita e agarra o corpo de Kael, buscando se proteger no meio da sua confusão.

- O que está fazendo? - ela grita.

- Vou te levar para minha matilha. - ele diz calmamente.

- O quê? - Lyris grita exasperada sobre o vento forte e os seus cabelos que ricocheteiam. - Você está louco? Eu não vou com você para lugar algum.

Kael então sorri, como se houvesse algo de muito cômico no momento. No mesmo instante, ele segura a cintura de Lyris, ele a aperta com tanta força contra seu corpo que Lyris pode ouvir seu coração bater contra o dela.

- E desde quando você tem escolha? - isso é tudo que ele diz, antes de começarem a flutuar repentinamente e tudo que se ouve são os gritos de Lyris cortando o ar.

                         

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