Ele Era Meu Destino (Mas Também Meu Fim)
img img Ele Era Meu Destino (Mas Também Meu Fim) img Capítulo 5 Você não tem escolha
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Capítulo 6 O que você é img
Capítulo 7 A prisioneira entre lobos img
Capítulo 8 Ecos de outras vidas img
Capítulo 9 Vínculo quebrado img
Capítulo 10 Lembranças Sangradas img
Capítulo 11 A revelação img
Capítulo 12 A marca da guardiã img
Capítulo 13 A chegada de Yrene img
Capítulo 14 ENTRE FAÍSCAS E FERIDAS img
Capítulo 15 Cerimônia de Cinzas img
Capítulo 16 Pecado e sangue img
Capítulo 17 Cicatrizes do passado img
Capítulo 18 A amarração img
Capítulo 19 O julgamento img
Capítulo 20 Cinzas do Quebranto img
Capítulo 21 Sangue que regressa img
Capítulo 22 Tudo Que Não Dissemos img
Capítulo 23 A primeira e última vez img
Capítulo 24 O Peso da Manhã img
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Capítulo 5 Você não tem escolha

Lyris sente o terror invadir seu peito. Ela deseja enfrentar o guardião, aquele que a esteve a amaldiçoando por séculos. Quer bater de frente, dizer que agora seria diferente, que Kael lembrava dela, que a maldição finalmente iria ser quebrada.

Mas como se o guardião pudesse ler sua mente, ele solta uma gargalhada alta, sinistra e sombria, o que faz com que todos os pelos do corpo de Lyris se arrepiem, seus olhos enchem de lágrimas e ela começa a recuar.

Um passo para trás.

Dois passos.

Ela começa a se afastar, andando de costas, até sem perceber, esbarrar sobre o peito de Kael. Ela se vira rapidamente para ele, o coração acelerado, os lábios entreabertos. E exatamente como a conexão de alma que ambos possuíam: Kael a enxerga intimamente.

- Lyris... - ele murmura, os olhos escuros preso em seu rosto, observando cada detalhe. - O que aconteceu? Por que está tão assustada?

Lyris sabe que Kael não pode ver o guardião, que ele não poderia sequer imaginar o quão terrível aquela entidade poderia ser. Ela abre os lábios, deseja compartilhar aquilo com ele, dividir o peso em seu peito, no entanto, quando Lyris levanta os olhos para o encarar, sua respiração para.

Ela olha o ombro de Kael e vê o sangue que agora começava a juntar com mais precisão. O desespero toma conta do seu corpo, porque ela sabe que quanto mais tempo passar ao seu lado, o quão mais rápido ele estiver de se lembrar, a sua vida corria perigo.

E Lyris sempre iria escolher se sacrificar para salvar a vida dele e é exatamente isso que ela faz: Lyris corre.

Ela precisa fugir de Kael, daquela cidade. Mas de alguma maneira, ela já sabia que tudo aquilo era inútil.

- Lyris, espera! - ela ouve a voz de Kael, e logo em seguida, escuta seus passos atrás dela.

Ele corre em sua direção. Corre para ela.

Corre para morte.

- Por favor, me deixe em paz! - gritou, a voz quebrando no ar.

Correu sem olhar para onde pisava, as lágrimas embaralhando sua visão. Só percebeu o erro quando o salto da bota prendeu na fenda da calçada. O mundo girou rápido demais. O chão vinha de encontro a ela, mas antes que pudesse sentir o impacto, braços fortes a envolveram no último instante. Ainda assim, a dor latejou nos joelhos, um corte fundo rasgando a pele.

Ela grita e Kael toma um impulso ainda maior para pular em sua direção e evitar sua queda. Ele consegue, mas de modo ainda parcial. Porque assim que encontra Lyris e a toma sobre seus braços, ele percebe o corte profundo em seus joelhos.

- Merda! - Lyris choraminga e tenta esconder o rosto, o seu peito queimando mais que os seus joelhos, agora rasgados.

Kael está sentado no meio daquela calçada, o corpo de Lyris bem aconchegado pelo seu, a protegendo. Carinhosamente, ele afasta os fios de seus longos cabelos escuros de frente do seu rosto.

- Por que fez isso? Por que insiste em fugir de mim? - ele pergunta.

Lyris engole em seco e apenas balança a cabeça; não há o que responder. Ela sabe que precisava fugir dele, mas de algum modo, estando presa em seu corpo como estava naquele momento, era exatamente onde ela queria estar.

- O que está acontecendo com seu sangue? - de repente, a voz de Kael passa a soar inquisitiva.

Kael a segurava contra si, o olhar preocupado, até que seu rosto endureceu.

- Seu sangue... - murmurou, incrédulo.

Lyris seguiu o olhar e o coração disparou. O vermelho vivo que deveria escorrer dos cortes havia desaparecido. No lugar, um líquido cintilante, azul-índigo, pulsava como se tivesse vida própria. A luz da lua fazia cada gota brilhar em faíscas, espalhando reflexos ao redor. O ar cheirava a ferro misturado com ozônio. Kael, sem perceber, estendeu a mão como se fosse irresistível tocar aquele brilho proibido.

- Eu... - ela tenta explicar, mas não havia explicações. Não sem precisar conta toda a história da sua vida desde o seu começo.

Aquilo tudo era sinal de que a maldição estava instável, que algo não estava como usualmente como costumava ser. Talvez o fato de Lyris ainda estar agarrada a Kael fosse mais um agravante.

Ela então começa a se afastar e tenta se levantar com dificuldade. Kael apenas a assiste, a observa, enquanto sua mente apenas gira com mais confusão do que antes. Se fosse possível, quanto mais ele conhecia dela, menos ele sabia.

E por isso, ele pergunta:

- O que é você, Lyris? Sei que não é uma loba. Mas também sei que não pode ser uma humana.

Lyris engole em seco, ficando finalmente de pé, e limpando sujeira invisível em seu casaco.

- Não sou nada, Kael. Sou apenas alguém comum.

- Comum? - ele solta uma risada sem humor algum. - Você viu o que tentou ataca-la mais cedo, aquele lobo com olhos pretos? Ninguém comum é perseguido por um Guardião do Ciclo!

- O quê? - Lyris arfa e dá um passo para trás, completamente surpresa e em choque. - Como... Como você sabe que era um Guardião do Ciclo?

Kael então se levanta e com a expressão completamente diferente de tudo que Lyris já vira dele antes, ele profere seriamente:

- Isso é a prova que eu também sei mais do que você pensa. - ele diz enquanto se aproxima dela, seus rostos estão tão pertos que ela quase pode sentir o seu gosto, o hálito quente queimando sua pele. O corpo de Lyris enrijece. - Então, Lyris, você vai me dizer o que você é? - ele pergunta, por fim.

Ela engole em seco, ainda que seus olhos, nesse momento, estejam presos nos lábios dele e na proximidade absurdamente magnifica do seu rosto contra o dela.

- Eu já disse que eu não sou nada, Kael. Eu sou ninguém.

Kael respira lentamente e leva sua mão até os cabelos de Lyris, e guarda seus fios atrás da orelha.

- Bom, então você não me dá mais nenhuma opção.

- O que quer dizer? - Lyris pergunta genuinamente confusa.

- Quer dizer que você vem comigo.

O coração dela disparou. Parte sua queria gritar. Outra... queria ficar exatamente onde estava

E antes que Lyris pudesse reagir, uma bolha enorme cobre os dois, uma ventania beirando a uma iminente invernia passa a girar ao redor, seus cabelos voando para todos os lados. Ela grita e agarra o corpo de Kael, buscando se proteger no meio da sua confusão.

Kael aproximou-se tanto que o hálito quente queimava a pele de Lyris. Seus dedos afastaram os fios de cabelo dela, guardando-os atrás da orelha.

- Se você não vai me contar o que é... - sua voz saiu baixa, grave - então só me resta uma opção.

- O quê? - Lyris quase não conseguiu respirar.

Ele sorriu. Mas era um sorriso perigoso.

- Levar você para onde ninguém mais pode te tocar. Para minha matilha.

Antes que Lyris pudesse protestar, o ar ao redor deles explodiu em vento. Uma esfera de energia os envolveu, fazendo seus cabelos chicotearem contra o rosto. Ela gritou e agarrou Kael com força, sentindo o coração dele bater contra o dela.

- Você está louco! Eu não vou com você!

- Desde quando você tem escolha? - ele respondeu, e então o mundo inteiro pareceu se desprender do chão.

                         

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