A festa de gala da família Almeida era uma sinfonia de riqueza discreta e julgamento explícito. Taças de cristal tilintavam. Um quarteto de cordas tocava suavemente. E Beatriz Almeida, a mãe de Heitor, presidia tudo como uma rainha de olhos de falcão.
Ela me cumprimentou com um beijo que nunca tocou minha bochecha. "Kendra, querida. Você parece... cansada."
Antes que eu pudesse responder, uma comoção começou perto da entrada. Todas as cabeças se viraram.
Celine Luna fez sua entrada. Ela usava um vestido vermelho tão justo que parecia pintado em seu corpo. E ela segurava a barriga, uma protuberância pequena, mas definida, visível sob o tecido. Heitor, que estava ao meu lado, ficou rígido.
Celine caminhou diretamente para Beatriz, um sorriso triunfante no rosto. "Sra. Almeida", ela ronronou. "Tenho uma notícia. Heitor e eu estamos esperando um bebê."
A sala ficou em silêncio. Eu podia sentir todos os olhos em mim. Meu coração martelava contra minhas costelas. Não podia ser verdade. Heitor tinha... ele tinha problemas. Os médicos nos disseram que a fertilização in vitro era nossa única chance. Isso tinha que ser uma mentira. Um truque.
O rosto frio de Beatriz se abriu em um sorriso chocantemente genuíno. Ela me ignorou completamente, sua própria nora, e abraçou Celine.
"Um bebê!", ela exclamou. "Oh, Heitor! Um neto! Finalmente!"
Então ela fez o impensável. Tirou o colar de herança da família Almeida, uma pesada joia de safiras e diamantes, e o prendeu no pescoço de Celine. Aquele colar. Aquele que ela se recusou a me deixar usar no dia do meu próprio casamento, dizendo que era para "a mãe do próximo herdeiro Almeida".
Eu havia suportado anos de seus comentários condescendentes, sua decepção com meu estado "estéril". E agora, ela estava dando o legado de nossa família para essa... essa mulher.
Heitor correu para a frente, uma tentativa patética de controle de danos. "Mãe, o que você está fazendo? Este não é o momento nem o lugar."
Beatriz acenou com uma mão desdenhosa. "Besteira. É hora de lidarmos com essa situação. Você precisa se divorciar dessa mulher e se casar com a mãe do seu filho."
Heitor olhou para mim, seus olhos suplicantes. "Ken, eu posso explicar."
"Explicar o quê?", perguntei, minha voz perigosamente calma. "Que você tem mentido para mim há anos? Que tem roubado da nossa empresa?"
"Foi um momento de fraqueza", disse ele, a mesma desculpa cansada. "Foi só sexo."
Mas seus olhos o traíram. Eles continuavam a se desviar para Celine, para o colar, para o rosto sorridente de sua mãe. Eu vi então. A mudança. Minha própria gravidez, o ás secreto na minha manga, agora não valia nada. Eles tinham um herdeiro. Um herdeiro declarado publicamente. Eu era apenas um obstáculo. Um "robô frio e ambicioso" que estava no caminho.
Minha força, meu intelecto, minhas contribuições para o nosso império... não significavam nada diante disso. Eu era descartável.
Virei-me para longe dele, a dor um golpe físico. Peguei meu celular. Minhas mãos tremiam, mas meus dedos estavam firmes enquanto eu digitava.
Enviei uma única mensagem para Dante Castilho.
"O acordo está de pé. Vamos queimar todos eles até as cinzas."