Meu sangue virou gelo. Um peão. Ele me via como um peão. Assim como Heitor. Outro homem me usando pelo meu cérebro, pela minha empresa, por seus próprios jogos. O breve lampejo de esperança, de aliança, morreu. Eu fui uma tola.
Virei-me e fui embora, meu coração uma pedra fria e pesada no peito. Eu só queria ir para casa.
Ao virar a esquina, dei de cara com Celine.
"Ora, ora", ela zombou, me olhando de cima a baixo. "A rainha de gelo parece que está derretendo. Gostou do show? Ver Dante Castilho te fazer de boba?"
"Não tenho interesse em seus dramas mesquinhos, Celine." Tentei passar por ela.
Ela bloqueou meu caminho. "Ah, mas este é o meu drama agora. Minha família. Meu bebê." Ela deu um tapinha na barriga. "Você perdeu, Kendra. Você e seu corpo quebrado e inútil. Heitor é meu. A empresa será minha."
"Saia da minha frente."
"Ou o quê?", ela provocou, aproximando-se. "Você vai inventar uma nova bateria para alimentar sua vida solitária?" Ela me empurrou. Com força.
Eu não estava esperando. Meu salto prendeu em uma pedra solta. Cambaleei para trás, meus braços se agitando. O mundo girou, e então eu bati no chão. Uma dor aguda e excruciante atravessou meu abdômen.
"Meu Deus! Ela me atacou!", Celine gritou, desabando no chão em um monte de lágrimas falsas. "Meu bebê! Ela tentou machucar meu bebê!"
Heitor veio correndo, seu rosto uma máscara de pânico. Ele nem olhou para mim. Correu direto para Celine, ajoelhando-se ao lado dela. "Você está bem? O bebê está bem?"
"Estou com dor", ofeguei, as palavras mal um sussurro. Algo estava errado. Terrivelmente errado. Uma sensação quente e úmida estava se espalhando pelo meu vestido.
Olhei para baixo. Sangue.
"Heitor", implorei, minha voz quebrando. "Me ajude."
Ele olhou para mim, sua expressão fria, irritada. "Para de fazer tanto drama, Kendra. Você provavelmente só torceu o tornozelo. Celine é quem está grávida." Ele me deu as costas, ajudando sua amante a se levantar, mimando-a.
O mundo começou a ficar cinza nas bordas. Eu estava sozinha, sangrando no chão, e meu marido a escolheu. A dor era imensa, mas a traição era o que estava me matando.
"Kendra!"
Uma nova voz. Forte, urgente. Através da névoa, vi Dante correndo em minha direção. O sorriso zombeteiro havia sumido de seu rosto, substituído por um olhar de horror genuíno.
Ele se ajoelhou ao meu lado, suas mãos pairando sobre mim, com medo de tocar. "O que aconteceu? Meu Deus, você está sangrando."
"O bebê", sussurrei, o último resquício de minha força se esvaindo.
Ele não hesitou. Arrancou o casaco, pressionando-o contra o ferimento. "Esquece a vitória", ele gritou para seu confuso gerente de equipe. "Chama a porra de uma ambulância! Agora!"
Ele me pegou nos braços, seus movimentos surpreendentemente gentis. Ele estava me carregando, correndo através da multidão de rostos atônitos, para longe do meu marido, para longe da vida que acabara de implodir. A última coisa que vi antes de desmaiar foi seu rosto, tenso com uma fúria tão profunda que parecia luto.