Amor, Mentiras e um Cão Fatal
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Capítulo 4

Voltei para a casa na manhã seguinte. Tinha que pegar o resto das minhas coisas, cortar os laços finais. Usei minha chave, entrando no hall de entrada silencioso e ensolarado.

Eles estavam na sala de estar. Caio e Helena.

Helena estava soluçando no sofá, o rosto enterrado nas mãos. Caio andava de um lado para o outro, o rosto uma máscara de fúria.

Ele me viu e parou. Seus olhos, quando encontraram os meus, estavam cheios de um ódio aterrorizante.

"Você", ele rosnou. "Como você pôde?"

Fiquei confusa por um segundo.

"Como eu pude o quê?"

"Não se faça de tonta comigo, Júlia", ele cuspiu. "O Caesar está morto. A Helena o encontrou no jardim dela esta manhã. Envenenado."

A acusação me atingiu. Era tão vil, tão longe da verdade, que tudo o que pude fazer foi soltar uma risada curta e áspera.

"Você acha que eu matei o cachorro dela?"

"Quem mais faria isso?", ele gritou. "Você o odiava! Deixou isso bem claro ontem!"

Helena ergueu o olhar, o rosto manchado de lágrimas, mas seus olhos eram afiados e calculistas.

"Ela o ameaçou, Caio! Ela disse que ele deveria implorar por perdão. Ela é um monstro."

Ela me pintou como uma assassina vingativa, uma demônia sem coração que descontaria sua dor em um animal inocente. Um animal que ela mesma descrevera como "só um animal" um dia antes.

Olhei para Caio, para o homem com quem eu deveria me casar, o homem que eu amei com cada fibra do meu ser. Fiz a ele a única pergunta que importava.

"Você acredita nela?"

A resposta dele não estava em suas palavras, mas na certeza fria e morta em seus olhos.

"A Helena está arrasada. O cachorro dela está morto. Sua mãe..." Ele hesitou, depois continuou, sua voz pingando desprezo. "A situação da sua mãe foi um acidente lamentável. Isso foi maldade. Isso foi assassinato."

Um acidente. A morte da minha mãe foi um acidente. Mas a morte de um cachorro foi um assassinato.

No mundo dele, em seu sistema de valores distorcido, isso fazia todo o sentido. Um mastim de raça pura, premiado, valia mais do que uma mulher da classe trabalhadora do subúrbio.

Não adiantava discutir. Não adiantava me defender. Ele já havia me julgado e condenado no tribunal de seu próprio preconceito.

"Ótimo", eu disse, com um gosto amargo na boca. "Fui eu. Cacei aquele monstro e o matei. Feliz agora?"

Minha confissão desafiadora foi a faísca que acendeu o pavio.

Helena se lançou sobre mim, as unhas à mostra como garras.

"Sua vadia! Você vai pagar por isso!"

Reagi por instinto, empurrando-a com força. Ela tropeçou para trás, caindo no tapete macio.

E então aconteceu.

O som do tapa foi como um relâmpago na sala silenciosa. Minha cabeça virou para o lado, minha bochecha ardendo, um calor de fogo se espalhando pela minha pele.

Caio tinha me batido.

Ele ficou de pé sobre mim, a mão ainda levantada, o peito ofegante.

"Suma", ele sibilou, a voz baixa e perigosa. "Pegue suas coisas e suma da minha casa. Agora."

Eu o encarei, minha mente girando. O golpe físico não foi nada comparado ao choque do ato em si. Ele havia levantado a mão para mim. Por ela.

Ele imediatamente se virou para Helena, correndo para o lado dela, ajudando-a a se levantar.

"Você está bem, Lena? Ela te machucou?"

O contraste era impressionante. Ele me bateu, e então perguntou a ela se ela estava bem.

Toquei minha bochecha, a pele já começando a inchar. Olhei para ele, embalando Helena em seus braços, e uma finalidade fria e clara se instalou em minha alma.

"Você vai se arrepender disso, Caio", eu disse, minha voz baixa, mas firme. "Um dia, você vai olhar para trás, para este momento, e vai desejar poder morrer."

Ele zombou.

"A única coisa de que me arrependo é de ter te conhecido. Agora suma. Se você não tiver ido embora em dez minutos, vou chamar a polícia. Quero você fora da minha vida. Para sempre."

"Como quiser", eu disse suavemente.

Tinha acabado. Verdadeiramente, irrevogavelmente acabado.

Eu não precisei de dez minutos. Subi as escadas, peguei a mala que já havia arrumado em minha mente e saí daquela casa sem olhar para trás.

Dirigi direto para o aeroporto. Havia comprado uma passagem só de ida para minha cidade natal na noite anterior.

Enquanto o avião decolava, deixando a cidade e minha antiga vida para trás, senti uma estranha sensação de libertação.

De volta à casa, Caio de repente sentiu uma pontada aguda e inexplicável no peito, uma sensação de pavor que o fez prender a respiração. Ele pegou o celular, um desejo súbito e desesperado de me ligar, de desfazer o que acabara de fazer.

Ele enviou uma mensagem. *Júlia, espere.*

A mensagem não foi entregue. Um pequeno ponto de exclamação vermelho apareceu ao lado dela. *Mensagem Não Entregue.*

Ela já havia bloqueado o número dele.

                         

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