Houve uma pausa.
- O quê? O Breno não sabe. Ele acha que você está só em um hotel, esfriando a cabeça.
Elisa sentiu uma estranha sensação de distanciamento. Era como assistir a um filme sobre a vida de outra pessoa.
- Ele está a caminho da clínica de cuidados paliativos agora mesmo - Clara continuou apressadamente. - Ele está levando o cheesecake favorito do Caio. Ele queria te fazer uma surpresa, te mostrar que se importa. Ele até adiou o grande lançamento do projeto.
O absurdo daquilo era impressionante. Um cheesecake. Ele achava que um cheesecake poderia consertar isso.
- Não somos casados, Clara - disse Elisa, a voz vazia. - Ele não precisa saber onde eu estou.
- Mas ele quer! - A voz de Clara era suplicante agora. - Ele me disse para reservar o cartório para amanhã. Ele ia te pedir em casamento.
Elisa apenas balançou a cabeça, um sorriso amargo nos lábios.
- Acabou, Clara.
Ela estava prestes a desligar quando ouviu um som abafado do outro lado, depois a voz de Breno, ríspida e confusa.
- Como assim em cuidados paliativos? Isso é para... para gente que está morrendo.
Então, a voz em pânico de Clara:
- Senhor, ela está no aeroporto! Ela está indo para Curitiba agora mesmo!
A linha ficou muda.
A chamada de embarque para seu voo para Curitiba ecoou pelo terminal.
Elisa desligou e desligou o celular, guardando-o na bolsa. Ela se levantou e entrou na fila, sua mala de mão rolando silenciosamente atrás dela.
Sara, a representante de RH, sorriu para ela.
- Pronta para um novo começo?
- Mais do que pronta - disse Elisa.
Eles estavam prestes a entregar suas passagens ao agente do portão quando uma comoção explodiu atrás deles.
- ELISA!
O nome foi gritado, um som cru e desesperado que cortou o barulho do aeroporto.
Elisa congelou. Ela não precisava se virar para saber quem era.
Breno veio correndo pela multidão, empurrando as pessoas. Ele estava sem fôlego, o cabelo uma bagunça, os olhos selvagens com um pânico que ela nunca tinha visto antes. Sua assistente o seguia, tentando se desculpar com os viajantes irritados que ele deixava para trás.
Ele parou bruscamente na frente dela, agarrando seu braço. Seu aperto era dolorosamente forte.
- Você não pode ir - ele ofegou, o peito subindo e descendo. - Eu acabei de vir da clínica. Eles me disseram... eles me contaram sobre o Caio. Por que você não me disse que era tão sério?
A pergunta era tão inacreditavelmente egoísta, tão perfeitamente Breno, que tudo o que ela pôde sentir foi um vazio profundo e arrepiante.
Ela olhou para a mão dele em seu braço, depois de volta para o rosto desesperado dele.
- Dizer a você? - ela repetiu, sua voz desprovida de toda emoção. - A última vez que o Caio esteve lúcido, ele me fez uma pergunta, Breno.
Ele a encarou, esperando.
- Ele perguntou: 'Cadê o Breno? Por que meu irmão mais velho não veio me ver?'
Ela fez uma pausa, deixando as palavras assentarem.
- O que eu deveria dizer a ele, Breno? Que o irmão dele estava ocupado demais jogando com outra mulher para se importar se ele vivia ou morria?
A cor sumiu do rosto dele. Sua mão caiu do braço dela como se tivesse sido queimada. Ele tropeçou para trás, a boca abrindo e fechando, mas nenhuma palavra saía.
Ele parecia completamente destruído.
Por um momento, ela pensou que ele poderia desmaiar.
Mas antes que pudesse, dois policiais da autoridade portuária o abordaram.
- Senhor, o senhor é Breno Vargas? - um deles perguntou, a voz firme. - O senhor está preso por direção perigosa e por abandonar seu veículo em faixa de incêndio.
Breno nem pareceu ouvi-los. Ele apenas continuou a encarar Elisa, os olhos cheios de um horror que finalmente, tarde demais, havia surgido.
Os policiais o algemaram e o levaram.
Sara, a representante de RH, olhou para Elisa com olhos arregalados e simpáticos.
- Esse é...?
- Meu ex-namorado - disse Elisa, as palavras com gosto de liberdade.
Ela se virou da cena, entregou sua passagem ao agente do portão e desceu a ponte de embarque sem olhar para trás.