A Esposa, o Amante e a Filha
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Capítulo 3

Giovanni se recuperou primeiro, sua máscara de político escorregadio voltando ao lugar. Ele chamou um garçom. "Nosso... amigo está jantando sozinho. Por favor, traga-o para cá. Ele vai se juntar a nós."

O garçom, confuso mas obediente, veio à minha mesa. Antes que eu pudesse recusar, o próprio Giovanni estava de pé sobre mim, a mão no meu ombro em um gesto de falsa amizade. "Alex, vamos lá. Não seja um estranho."

Ele estava se divertindo com isso, a performance pública de magnanimidade. Angela e Helena observavam, suas expressões uma mistura de irritação e curiosidade. Eu sabia que recusar só me faria parecer mesquinho, então deixei que ele me levasse até a mesa deles.

"Olha quem está aqui", Giovanni anunciou grandiosamente.

"O que você está vestindo?", Helena perguntou, o nariz enrugado de nojo. "Você está ridículo."

"Helena, seja legal", disse Angela, mas não havia força em suas palavras. Seus olhos ainda examinavam minha aparência, um brilho de algo indecifrável em suas profundezas.

"Decidi que precisava de uma mudança", eu disse simplesmente, sentando-me.

Giovanni recostou-se na cadeira, passando um braço em volta de Angela. "Bem, mudança é bom. Estávamos falando sobre a campanha. As coisas estão indo fantasticamente." Ele sorriu para mim, um sorriso de predador. "Você deve estar muito orgulhoso de Angela."

Eu não respondi. Um garçom chegou para anotar meu pedido.

"Alex não come comida apimentada", disse Angela automaticamente, sem nem olhar para mim. "Ele vai querer o robalo."

Por dez anos, eu cozinhei todas as refeições. Eu conhecia todas as suas preferências, todas as suas alergias. Eu havia adaptado meus próprios gostos para se adequarem aos dela, evitando as comidas picantes e saborosas que eu realmente amava.

Ela não tinha ideia do que eu gostava. Depois de uma década de casamento, ela não sabia a primeira coisa sobre mim.

O pensamento era tão desolador que era quase engraçado.

"Na verdade", eu disse, olhando diretamente para o garçom, "vou querer o cordeiro à vindaloo. Extra picante. E uma garrafa do seu melhor uísque."

A cabeça de Angela se virou bruscamente para mim. "Você não gosta de comida apimentada."

"Você está enganada", eu disse friamente. "Eu adoro."

Helena interveio, irritada. "O Tio Gio é alérgico a cordeiro. Você não pode pedir isso."

Eu apenas olhei para ela. "Ele não vai comer. Eu vou."

A tensão na mesa era densa o suficiente para ser cortada com uma faca. Angela me encarava, a testa franzida, como se tentasse resolver um quebra-cabeça. O sorriso de Giovanni estava forçado.

"De onde você está tirando dinheiro para isso, papai?", Helena exigiu. "Este lugar é super caro."

"Estou usando meu dinheiro", eu disse, meu olhar varrendo Angela. "O dinheiro que ganhei por dez anos de serviço a esta família. Decidi começar a gastá-lo comigo mesmo."

"O que isso quer dizer?", Angela perguntou, a voz afiada.

"Significa que eu cansei", eu disse, minha voz baixa e clara. "Cansei de ser sua equipe de apoio. Cansei de colocar minha vida em espera pela sua ambição. Vou viver para mim agora."

Nesse momento, um garçom carregando uma bandeja de sopa quente tropeçou perto da nossa mesa.

Aconteceu em uma fração de segundo. A bandeja inclinou, e uma sopeira de sopa escaldante deslizou em direção a Giovanni.

Sem um momento de hesitação, Angela se jogou na frente dele, empurrando-o para fora do caminho. Ela recebeu o impacto do líquido quente em seu braço, gritando de dor.

A sopeira, desviada do curso, voou para o lado e se espatifou no meu lado da mesa. Sopa quente espirrou no meu braço e peito. A dor foi lancinante, imediata. Eu ofeguei, um som rouco arrancado da minha garganta.

Mas ninguém estava olhando para mim.

"Gio! Você está bem?", Angela gritou, pegando as mãos dele, inspecionando-o freneticamente.

"Estou bem, estou bem", disse ele, sacudindo-a. "Não me tocou."

Helena estava gritando. Não por mim, seu pai, que estava agarrando seu braço queimado. Ela correu ao redor da mesa e, em vez de me ajudar, me empurrou com força.

"Foi você!", ela berrou, o rosto contorcido de raiva. "Você fez o garçom tropeçar! Você tentou machucar o Tio Gio!"

O empurrão me desequilibrou. Caí da cadeira, meu braço ferido batendo no chão. Uma nova explosão de dor me atravessou, e não consegui reprimir um gemido.

Eu estava ali, no chão do restaurante chique, meu braço em chamas, e minha própria família estava sobre mim, seus rostos cheios de acusação.

"Olha o que você fez, Alex", disse Angela, a voz pingando nojo. Ela embalava o próprio braço, onde uma marca vermelha já se formava. "Você sempre causa problemas."

Ela não perguntou se eu estava bem. Nem sequer olhou para o meu ferimento.

Helena estava soluçando, agarrada a Giovanni. "Seu braço está bem, Tio Gio? Dói?"

"Estou bem, querida", disse ele, acariciando o cabelo dela. Ele olhou para mim, seus olhos cheios de fria satisfação.

Eles se ajudaram a levantar, os três, uma frente unida de culpa. Não me ofereceram a mão. Não chamaram um médico.

Eles simplesmente foram embora.

Saíram do restaurante, me deixando no chão em meio à porcelana quebrada e aos olhares de estranhos. A dor no meu braço não era nada comparada à certeza fria e morta em meu coração.

Eu estava total e completamente sozinho. E estava, finalmente e irrevogavelmente, livre.

            
            

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