A Esposa, o Amante e a Filha
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Capítulo 4

O hospital era um borrão de jalecos brancos e cheiros de antisséptico. Eles diagnosticaram uma queimadura de segundo grau no meu braço e me disseram que eu precisava ficar em observação. Preenchi a papelada sozinho, listando meu contato de emergência como "nenhum".

Por dois dias, meu telefone permaneceu em silêncio. Sem chamadas, sem mensagens. Nem de Angela. Nem de Helena. Era como se eu tivesse deixado de existir.

No terceiro dia, eu estava dando uma caminhada lenta pelo corredor estéril quando os vi. Giovanni estava em um quarto particular no final do corredor, o reservado para VIPs no Sírio-Libanês. Angela e Helena estavam cuidando dele.

Ele tinha uma pequena marca vermelha na mão, do tamanho de uma moeda. Ele estava explorando aquilo ao máximo.

"Ainda dói, Gio?", Angela perguntou, a voz cheia de preocupação, aplicando um creme especial para queimaduras com a ternura de uma amante.

"Não é nada, de verdade", disse ele bravamente, fazendo uma careta para dar efeito. "Só estou feliz que não foi você ou a Helena."

Helena lhe deu uma uva descascada. "Você é tão corajoso, Tio Gio. Diferente do meu pai. Ele provavelmente fez de propósito."

Eu estava na porta, invisível para eles. A injustiça era tão profunda que quase me fez rir. Eu tinha uma queimadura séria que exigia atenção médica. Ele tinha uma bolha. No entanto, ele era o herói, e eu era o vilão.

No dia seguinte, Angela insistiu em um "passeio em família" no country club da família Medeiros para "desestressar". Era uma performance obrigatória. Eu sabia que era para manter a imagem pública de uma família feliz à beira de uma vitória na prefeitura. Recusar só levaria a mais drama.

O clube era um oásis de gramados verdes e água azul. Angela, deslumbrante em um maiô branco, estava deitada à beira da piscina, falando ao telefone. Helena estava brincando na parte rasa. Giovanni estava socializando com alguns dos doadores políticos de Angela.

Eu me sentei sozinho em uma mesa sob um guarda-sol, tomando um copo de chá gelado, sentindo-me como um fantasma em uma festa.

Depois de um tempo, Giovanni se aproximou, uma toalha pendurada no ombro.

"Não vai nadar, Alex?", ele perguntou, seu tom pingando falsa preocupação. "A água está ótima."

"Estou bem aqui", eu disse.

Ele se sentou à minha frente, inclinando-se conspiratoriamente. "Sabe, Angela te ama de verdade. Ela só está... sob muita pressão. Esta campanha é tudo para ela." Ele suspirou, como se compartilhasse um fardo pesado. "Ela me disse uma vez, quando começamos a trabalhar juntos, que se casou com você porque você era estável. Centrado. Alguém que nunca a ofuscaria."

As palavras deveriam soar como um elogio, mas eram um insulto cuidadosamente elaborado. Ele estava me dizendo que ela me escolheu porque eu era medíocre. Controlável.

"Ela sabia que você não competiria com ela", ele continuou, sorrindo. "E você não competiu. Você tem sido o sistema de apoio perfeito. Ela é muito grata."

Eu o encarei, a raiva um nó frio e duro no meu estômago. Ele estava se divertindo com isso, descascando as camadas da minha vida e me mostrando a podridão por baixo.

Ele se levantou. "Bem, vou dar um mergulho." Ele caminhou até a beira da piscina e parou, olhando para mim. "Você realmente deveria entrar. Vai te ajudar a relaxar."

Eu não me movi. Eu odiava nadar. Angela sabia disso. Eu quase me afoguei quando criança, um fato que compartilhei com ela em um dos nossos primeiros encontros.

Giovanni de repente perdeu o equilíbrio, seus braços se agitando descontroladamente. Ele tropeçou para trás, batendo na minha mesa. O impulso fez minha cadeira virar sobre a borda, e eu mergulhei na parte funda da piscina.

O choque da água fria, a desorientação súbita - tudo trouxe de volta o terror antigo. A água encheu meu nariz e minha boca. Meus pulmões queimavam. Eu me debatia, meus braços batendo inutilmente na superfície. Não conseguia encontrar o fundo.

O pânico, puro e absoluto, tomou conta de mim. Eu estava me afogando.

Através do azul distorcido, vi figuras na beira da piscina. Angela estava gritando.

"Gio! Meu Deus, Gio!"

Ela mergulhou, mas nadou direto por mim. Foi direto para Giovanni, que estava tossindo e engasgando teatralmente perto da borda.

"Estou bem, estou bem", ele ofegou, agarrando-se a ela.

Eu estava afundando. Consegui colocar a cabeça acima da água por um segundo, engolindo ar. "Socorro!", engasguei.

Angela olhou para mim, o rosto uma máscara de fúria. "Alex, que diabos você está fazendo? Está tentando afogar o Giovanni?"

Helena estava à beira da piscina, gritando comigo. "Você o empurrou! Eu vi! Você está tentando matar o Tio Gio!"

Um salva-vidas corria em direção à piscina, mas Helena se colocou em seu caminho, seu pequeno corpo rígido de raiva. "Não o ajude! Ele é um homem mau!"

O mundo estava começando a escurecer nas bordas. Meus membros pareciam pesados, minhas lutas mais fracas. Meu último pensamento coerente foi neles - minha esposa, minha filha e o homem que me substituiu - me vendo morrer.

E não fazendo nada.

                         

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