Seu Filho Secreto, a Fortuna Roubada Dela
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Capítulo 3

O remédio não funcionou. A febre piorou. Pela manhã, eu estava delirando, entrando e saindo de um sono suado e de pesadelo.

Foi a Bruna quem me encontrou. Ela ficou preocupada quando não respondi às suas mensagens e usou a chave reserva que eu lhe dera. Ela deu uma olhada no meu rosto corado e nos meus olhos vidrados e me levou para o pronto-socorro.

"Onde diabos está o Caio?", ela exigiu, andando de um lado para o outro no pequeno quarto de hospital enquanto eu estava ligada a um soro.

"Ele teve que trabalhar", murmurei, a mentira com gosto de cinzas na boca.

"Trabalhar? Você poderia ter morrido, Laurinha!"

Olhei para ela, minha amiga leal e feroz, e a represa se rompeu. Contei tudo a ela. O fundo fiduciário. O filho secreto. Os anos de abuso que confundi com amor. A ligação da noite anterior.

Ela ouviu, seu rosto passando de raiva para horror e para uma simpatia profunda e comovente. Quando terminei, ela apenas segurou minha mão, seu aperto firme e constante.

"Acabou, Bruna", sussurrei, minha voz rouca. "Vou embora. Para sempre."

"Ótimo", disse ela, a voz embargada de emoção. "Você merece muito mais."

Ela saiu para me trazer algo para comer, deixando-me sozinha com o zumbido silencioso das máquinas do hospital. Eu me sentia fraca, mas minha mente era um caco de gelo afiado e claro.

Balancei as pernas para fora da cama e, segurando o suporte do soro, fui até o banheiro no final do corredor. Ao empurrar a porta, ouvi vozes familiares da sala de espera privativa ao lado. A voz de Caio. E a de Sofia.

Congelei, me escondendo nas sombras da porta.

"Ele brigou na creche", dizia Sofia, a voz embargada de lágrimas. "Outro menino o empurrou e o chamou de... o chamou de bastardo."

Ouvi Caio soltar um rosnado baixo de fúria. "Eu compro a maldita creche. Eu demito todo mundo. Eu o coloco em uma escola particular com seguranças."

"Mas qual é o sentido, Caio?", a voz de Sofia era um gemido patético. "Ele sempre será seu segredo. Ele nunca terá seu nome. As pessoas sempre vão falar."

"Sofia...", a voz de Caio estava mais suave agora, cheia de uma ternura dolorosa que me revirou o estômago.

"Não suporto vê-lo sofrer", ela soluçou. "Não suporto."

Ouvi um farfalhar de roupas, um suspiro suave. Espiei pela esquina. Ele a havia puxado para seus braços. Ela chorava em seu peito, e ele acariciava seus cabelos. Era uma cena de conforto íntimo, uma paródia distorcida de todas as vezes que ele me abraçou.

Notei outra coisa. Enquanto sua mão descia pelas costas dela, ela parou. Seus dedos começaram a tamborilar um ritmo inquieto e urgente contra sua espinha. Era um tique. O tique dele. O sinal de que seu controle estava escapando, que a parte doente dele estava prestes a assumir.

Ele a puxou para mais perto, sua voz um sussurro baixo e rouco. "Eu vou consertar isso. Eu prometo." Sua mão se apertou, seu aperto tornando-se menos gentil, mais exigente.

Sofia pareceu sentir a mudança. Ela se afastou um pouco, os olhos arregalados. "Caio, não. Aqui não."

Mas os olhos dele estavam vidrados. Ele já estava perdido. Ele se inclinou, sua boca prestes a esmagar a dela.

Então, Sofia falou, sua voz de repente clara e firme. "Estou grávida."

Caio congelou, seu corpo completamente imóvel. A energia frenética desapareceu como se um interruptor tivesse sido acionado.

"O quê?", ele sussurrou.

"Cerca de seis semanas", disse ela. Ela olhou para baixo, uma imagem de vulnerabilidade frágil. "Está tudo bem. Eu vou tirar. Sei que você tem a Laura. Não vou dificultar as coisas para você."

Foi uma performance magistral. A vítima indefesa, sacrificando-se por ele.

Caio a encarou, sua expressão indecifrável. Então, ele balançou a cabeça, um movimento lento e deliberado. "Não. Nós vamos ter."

Ele estendeu a mão e segurou o rosto dela, sua voz grossa com uma determinação que me gelou até os ossos. "Você e o Leo... vocês terão tudo. Vocês terão meu nome. Eu prometo."

O ar crepitou com uma nova tensão. Vi os sinais familiares nele novamente - os músculos tensos, a respiração superficial. Ele estava lutando, lutando contra o desejo que rugia dentro dele. Ele estava tentando ser gentil com esta mulher que carregava seu filho.

Ele fechou os olhos com força, a mandíbula cerrada. Então, com um grito gutural, ele socou a parede ao lado da cabeça dela. O gesso rachou. Poeira de gesso caiu.

Sofia gritou, encolhendo-se dele.

"Me desculpe", ele ofegou, encostando a testa na parede quebrada. "Me desculpe. Eu só... não queria te machucar. Nem o bebê."

Eu estava na porta, invisível, observando a cena se desenrolar. Observei-o se punir, não por mim, mas por ela. Observei-o oferecer a ela as mesmas promessas quebradas, a mesma penitência violenta, o mesmo amor distorcido que um dia ele me ofereceu.

Não era especial. Não era sobre mim. Nunca foi sobre mim. Era apenas o padrão dele. Um ciclo doentio e repetitivo de possessão e auto-aversão.

E eu tinha sido apenas mais uma vítima presa em seu caminho destrutivo.

A dor no meu peito era tão aguda que parecia que meu coração estava se partindo fisicamente. Eu não conseguia respirar. Cambaleei para longe da porta, minha visão turva. Eu tinha que fugir antes que eles me vissem, antes que eu me despedaçasse em um milhão de pedaços no chão frio e estéril.

Voltei para o meu quarto bem a tempo do retorno da Bruna. Passei os dois dias seguintes no hospital, me recuperando. Quando Caio ligou, disse que estava na casa da Bruna. Deixei-o acreditar na mentira.

No terceiro dia, recebi alta. Segurei os papéis do divórcio assinados em minha mão como um escudo. Era hora de ir para casa uma última vez.

Ao me aproximar da porta da frente da mansão que um dia chamei de lar, ouvi o som da risada de uma criança ecoando de dentro. Minha mão congelou na maçaneta.

Empurrei a porta. Na grande sala de estar, Leo brincava no chão. Com ele estava a mãe de Caio, minha sogra.

E nas mãos de Leo, ele torcia e virava a delicada bailarina de porcelana da caixinha de música da minha mãe. Era a última coisa que eu tinha dela.

            
            

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