Ela atingiu o chão de mármore com um estalo doentio. A delicada bailarina se despedaçou em uma dúzia de pedaços.
O mundo ficou em silêncio. Tudo o que eu conseguia ver eram os cacos brancos espalhados pelo chão escuro. Um pedaço do braço dela, um fragmento de seu tutu, seu rostinho minúsculo e quebrado me encarando.
Caí de joelhos, minhas mãos pairando sobre os destroços. Não registrei o choro de dor da criança. Não vi Caio e Sofia descendo as escadas correndo, atraídos pelo barulho.
Leo havia tropeçado para trás com a força de sua própria ação e caído, ralando o joelho. Ele estava chorando, apontando um dedo gordinho para mim.
"Ela me empurrou! A tia Laurinha me empurrou!", ele gritou.
"Ele está sangrando!", gritou Sofia, correndo para o seu lado.
A mãe de Caio estava logo atrás dela. "Laura, como você pôde? Ele é só uma criança!"
Caio parou abruptamente, seus olhos absorvendo a cena. Eu no chão, cercada por porcelana quebrada. Seu filho, chorando nos braços da mãe.
Ele olhou para os pedaços quebrados no chão, um lampejo de algo - reconhecimento? memória? - em seus olhos.
Então ele se virou para Sofia. "Eu te disse para vigiá-lo. Eu te disse para não deixá-lo tocar nas coisas dela." Sua voz era baixa e zangada, mas era dirigida a Sofia, não a mim.
Sofia caiu no choro. "Me desculpe, Caio. Eu só virei as costas por um segundo." Ela pegou Leo nos braços e se apressou em sair, lançando um olhar venenoso para mim.
Caio se ajoelhou ao meu lado. "Laurinha, me desculpe. Ele é uma criança, ele não sabia." Ele tentou tocar meu ombro. Eu me afastei com um estremecimento.
"É só uma coisa", disse ele, a voz apaziguadora. "Eu te compro cem outras. Mil."
"Você não pode", engasguei, as palavras rasgando minha garganta. "Era da minha mãe."
Ele pareceu surpreso. "Da sua mãe? Isso era...?"
"A caixinha de música", sussurrei, pegando um pedacinho minúsculo e afiado de porcelana. "Era dela."
Um lampejo de culpa cruzou seu rosto. "Eu vou mandar consertar. Conheço os melhores restauradores do mundo. Vai ficar como nova, eu prometo."
Lágrimas escorriam pelo meu rosto, quentes e furiosas. "Você acha que esse é o ponto? Ele quebrou, Caio. Ele fez de propósito. E você... você simplesmente o deixou."
A paciência de Caio se esgotou. "O que você quer que eu faça, Laura? Ele tem cinco anos! Você quer que eu bata nele?"
"Eu quero que ele peça desculpas!"
"Ele é uma criança!", a voz de Caio se elevou, o tom familiar de fúria se insinuando. "Por que você está sendo tão difícil? Você nunca teve paciência com o Leo."
"Leo", repeti, o nome com gosto de veneno. Olhei-o diretamente nos olhos. "Você quer dizer seu filho?"
O ar crepitou. A negação foi instantânea, automática. "Ele não é meu filho. Nós o adotamos. Eu te disse, os pais dele morreram em um acidente."
"Um acidente trágico", eu disse, minha voz pingando sarcasmo. "E você, pela bondade do seu coração, decidiu criar o filho órfão da sua irmã adotiva?"
Seu rosto endureceu. "O que você está insinuando? Que eu mentiria para você?" Ele usou seu velho truque, virando minha suspeita contra mim, me tornando a vilã. "Depois de tudo que eu fiz por você, você acha que eu te trairia assim?"
Sua mãe, que estava por perto, interveio. "Laura, o Caio te ama. Ele nunca faria uma coisa dessas. Nós acolhemos o Leo porque era a coisa certa a fazer. Somos uma família."
Os dois, parados ali, seus rostos máscaras de falsa inocência, suas mentiras um cobertor sufocante. Senti uma onda de náusea tão forte que pensei que ia vomitar ali mesmo no chão de mármore.
Parei de chorar. Comecei a juntar, cuidadosa e metodicamente, os pedaços quebrados da bailarina, colocando-os um por um em minhas mãos em concha. Cada borda afiada era uma nova dor, um lembrete de uma memória agora despedaçada além do reparo. Meu coração era aquela caixinha de música. E todos eles se revezaram para quebrá-lo.
"Você tem razão", eu disse, minha voz estranhamente calma. Olhei para ele, um sorriso fraco e frio nos lábios. "Obrigada pelo presente de um filho. Tenho certeza de que seremos uma família muito feliz."
Levantei-me, embalando os fragmentos afiados.
"Mas não vou aceitar este 'presente' que você me deu", eu disse suavemente, meus olhos fixos nos dele. "Eu não o quero."
Virei-me e me afastei, deixando-o parado ali em meio às ruínas da minha última memória.
Eu sabia, com uma certeza que se instalou no fundo dos meus ossos, que eu estava saindo daquela casa. Em breve. E nunca mais voltaria.
Passei os dias seguintes no meu quarto, colando meticulosamente a caixinha de música. Foi um esforço fútil. As rachaduras eram visíveis, cicatrizes feias na delicada porcelana. Nunca mais seria a mesma. Nem eu.
Uma tarde, Sofia entrou no meu quarto sem bater. Ela não tinha seu olhar frágil e dependente de sempre. Seu rosto era uma máscara de ambição fria.
"Acho que está na hora de você ir embora", disse ela, a voz desprovida de qualquer calor. "Quero que você assine os papéis do divórcio e desapareça."