Capítulo 2

Houve um breve silêncio do outro lado da linha.

Então, a voz de Caio veio, calma e firme.

"Sempre, Júlia. Onde você está?"

Sem perguntas. Sem surpresa. Apenas uma promessa simples e sólida. Foi a primeira coisa real que senti o dia todo.

"Estou no Hospital Albert Einstein," sussurrei.

"Fique aí. Um carro estará aí em quinze minutos. Não fale com ninguém. Não atenda nenhuma ligação dele."

Ele sabia exatamente quem era "ele".

"Ok," eu disse, a palavra quase inaudível.

"Júlia," ele disse, sua voz suavizando. "Você vai ficar bem."

A linha ficou muda. Senti um pequeno e frágil alívio. Caio era agora um magnata da tecnologia, um homem que se fez sozinho. Ele tinha o poder e os recursos para fazer alguém desaparecer. Ele poderia me tirar de perto de André.

Não respondi a nenhuma das mensagens ou ligações frenéticas de André. Apenas fiquei sentada no banco, esperando. O carro preto que parou era discreto. O motorista abriu a porta para mim e não disse nada, apenas me levou para uma suíte de hotel de luxo que Caio já havia providenciado.

Não dormi naquela noite. Apenas encarei o teto, repassando cada mentira, cada toque, cada promessa de André. Tudo parecia contaminado, sujo.

Na manhã seguinte, André estava me esperando quando voltei para nossa casa. Ele deve ter rastreado meu celular. Parecia exausto, com os olhos vermelhos.

Ele correu até mim, me puxando para um abraço.

"Júlia, meu Deus, onde você estava? Fiquei tão preocupado. Pensei que algo tivesse acontecido com você."

O cheiro do perfume dele, um aroma que eu costumava amar, agora revirava meu estômago. Lembrei-me do que ele era. O amor dele não era só para mim.

Eu queria gritar, arranhar o rosto dele, exigir respostas. Mas eu sabia que não podia. Ainda não. Eu tinha que fingir. Minha fuga dependia disso.

Eu o afastei gentilmente.

"Estou bem, Dé. Eu só... me senti sobrecarregada com o trabalho. Precisei de um pouco de espaço."

Ele examinou meu rosto, procurando uma falha na minha história. Mantive minha expressão neutra.

"Você deveria ter me dito," ele disse, sua voz uma mistura de alívio e mágoa. "Eu teria cuidado de você."

Ele segurou meu rosto com as mãos, e seu toque agora parecia uma marca de ferro em brasa. "Nunca mais faça isso. Eu não consigo viver sem você."

Senti uma risada amarga subir pela minha garganta. Ele estava vivendo muito bem sem mim, com uma família inteira.

"Me desculpe," eu disse, com a voz vazia. "Estou apenas cansada. Vou tomar um banho."

Passei os dias seguintes em uma névoa, movendo-me pela nossa casa como um fantasma. André estava excessivamente atencioso, tentando me reconquistar de uma distância que ele não conseguia entender. Ele me comprava flores, cozinhava minhas comidas favoritas, deixava bilhetinhos professando seu amor.

Cada gesto era uma nova onda de dor.

Uma noite, ele sugeriu que fôssemos ao nosso restaurante favorito. Aquele onde ele me pediu em casamento.

"Vamos apenas ter um jantar agradável, só nós dois," ele implorou.

Eu concordei. Era parte do teatro.

O restaurante estava exatamente como eu me lembrava. Iluminação suave, música baixa. André segurou minha mão sobre a mesa, seus olhos cheios do que parecia ser adoração.

"Eu te amo, Júlia," ele disse. "Mais do que tudo."

O celular dele vibrou na mesa. A tela se acendeu.

*Anabela F.*

Eu vi. Ele viu que eu vi.

Ele rapidamente virou o celular.

"É só trabalho," ele disse, um pouco rápido demais. "Eu já volto."

Ele se levantou e foi para fora para atender a ligação. Eu fiquei sentada ali, uma estátua perfeita de uma esposa amorosa, enquanto meu mundo desmoronava ao meu redor.

Ele voltou alguns minutos depois, sorrindo em desculpa.

"Desculpe por isso. Uma emergência com um cliente. Já resolvi. Agora, onde estávamos?"

Eu sabia a verdade. Sabia que ele estava falando com ela, sua verdadeira esposa. Provavelmente estava acalmando-a, dizendo que a amava, assim como havia me dito momentos antes.

Ele saiu mais cedo naquela noite, alegando que tinha uma reunião de manhã cedo que havia esquecido. Eu sabia para onde ele estava indo.

Eu estava na cama, encarando o teto, quando meu celular se acendeu. Um pedido de videochamada. De um número desconhecido.

Recusei. Veio de novo. Recusei de novo.

Na terceira tentativa, atendi.

O rosto sorridente de Anabela preencheu a tela. Ela estava no que parecia ser um quarto de bebê, com um berço visível atrás dela.

"Olá, Júlia," ela disse, com a voz doentiamente doce.

"O que você quer?", perguntei, com a voz fria.

"Oh, nada. Só pensei que você deveria saber que o André está com a família de verdade dele esta noite. Ele se sente tão culpado por deixar o filho dele."

Ela estava tentando me provocar. Eu não lhe daria essa satisfação.

"Vou desligar," eu disse.

"Espere," ela disse, seu sorriso se alargando. "Tem alguém que quer te dar boa noite."

Ela virou a câmera. André entrou no enquadramento, parecendo cansado. Ele não viu o telefone. Anabela passou os braços em volta do pescoço dele, puxando-o para perto.

"Dé," ela arrulhou. "Eu estava pensando... todos aqueles anos atrás, quando sua família era contra nós... você se arrepende? De ter se casado comigo?"

André parecia irritado. "Anabela, não comece."

"Só estou perguntando," ela disse, fazendo beicinho. "Diga que você não se arrepende."

Ele ficou em silêncio por um longo momento. Olhou para o chão, depois de volta para ela.

"Não," ele disse, sua voz baixa, mas clara. "Eu não me arrependo."

O sorriso triunfante de Anabela foi a última coisa que vi antes de encerrar a chamada.

*Eu não me arrependo.*

As palavras ecoaram na minha cabeça. Ele não se arrependia de ter se casado com ela. O que significava que ele se arrependia... de mim.

O dia do nosso casamento passou pela minha mente. As promessas que ele fez.

"Eu te amarei, Júlia Reid, por todos os meus dias. Você é a minha única, meu norte verdadeiro."

Mentiras. Tudo. Eu nunca fui a única dele. Eu era apenas um desvio. Um jogo que ele jogava enquanto sua vida real continuava em outro lugar.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, quente e cortante. Depois outra. Eu me encolhi em uma bola, um soluço silencioso e gutural sacudindo meu corpo inteiro. Ele não voltaria para casa esta noite. Ele estava com sua esposa e filho.

A dor era tão imensa que se tornou uma calma estranha e fria. O último pedaço de esperança, a parte minúscula e tola de mim que pensava que talvez ele estivesse preso, que talvez ele me amasse mais, se foi. Ele havia feito sua escolha, e não era eu. Nunca seria eu.

O amor se foi. A esperança se foi. Tudo o que restou foi um espaço oco onde meu coração costumava estar.

Peguei meu telefone e encontrei um novo contato que Caio havia me enviado. O melhor advogado de divórcio do estado.

Era hora de acabar com isso.

            
            

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