Grávida do Mafioso
img img Grávida do Mafioso img Capítulo 2 O Anúncio
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Capítulo 6 Entre Fantasmas e Vestidos img
Capítulo 7 À Mesa com o Don img
Capítulo 8 O Reencontro img
Capítulo 9 O Orgulho dos Zaitsev img
Capítulo 10 A Ponte Dourada img
Capítulo 11 Pétalas e Pólvora img
Capítulo 12 A Casa Que Não Tem Endereço img
Capítulo 13 O preço do sangue img
Capítulo 14 Entre paredes que respiram img
Capítulo 15 Vigília img
Capítulo 16 Café em casa sem endereço img
Capítulo 17 O que cabe num sim sussurrado img
Capítulo 18 A força que não cabe em lençol img
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Capítulo 2 O Anúncio

Narrado por Mikhail Orlov

Três dias.

Quando eu digo, não é metáfora. É contagem. A cidade ainda nem amanheceu, e os relógios desta casa já obedecem ao meu prazo. Não existe atraso no meu mundo. Existe ação ou fraqueza. A segunda não tem lugar aqui.

O mármore do corredor segura o frio como uma lâmina. O salão do conselho está preparado: mesa comprida, cadeiras altas, retratos de homens que morreram para que eu pudesse mandar. Eles me observam da parede com olhos de óleo escuro. Aos ancestrais, devo silêncio. Aos vivos, ordem.

Galina entra sem fazer barulho. A governanta desta casa desde antes de eu aprender a escrever meu nome. Sabe quando falar, sabe quando calar.

Galina: O conselho já chegou, senhor.

Assinto. Ela some como um fantasma treinado.

Os passos dos capos chegam antes deles, solas firmes, perfumes caros tentando esconder o cheiro de pólvora de cada um. Viktor Sokolov (velho, língua afiada, avesso a novidades), Yakov Barinov (religioso, mas com contas sujas), Gregor Moroz (sóbrio, estrategista), Pavel Chernov (o cão de briga), e Miguel Caetano (o estrangeiro inteligente que aprendeu a sobreviver entre russos). Outros se juntam, todos com a mesma expressão de homens que vieram ouvir uma sentença e tentar mudá-la.

Sento. Coloco as mãos sobre a mesa. Não peço silêncio; ele vem sozinho.

Viktor: Fomos chamados de madrugada. Imagino que seja importante.

Mikhail: É definitivo.

Pavel: Definitivo como... cancelar o noivado com a filha de Yossef Zaitseva?

Viktor levanta o queixo, satisfeito por ter tirado a primeira pedra do bolso.

Mikhail: O noivado político está cancelado.

O ar muda. É visível, quase palpável: uma corrente fria atravessando homens que achavam que controlavam os fios deste teatro.

Yakov: Os Zaitseva são velhos aliados. Isso vai custar caro.

Mikhail: O preço já foi pago. Houve uma falha com o material genético que eu mantinha sob custódia. Médicos traíram a confiança. Já tratei disso. O resultado é que uma mulher está grávida de um filho meu.

Silêncio. O tipo pesado, que mede a distância entre um erro e uma guerra.

Gregor: A mulher... quem é?

Mikhail: Luísa Andrade. Brasileira. Sem afiliações. Sem dívidas. Sem passado com este mundo.

Pavel dá uma risada curta, desrespeitosa.

Pavel: Uma civil? Vamos trocar um pacto com os Zaitseva por uma professora qualquer?

Me inclino, apenas um pouco.

Mikhail: "Qualquer" é uma palavra que você não vai usar para falar da mãe do meu herdeiro.

Pavel recua, o sorriso morrendo como lâmpada queimada.

Viktor: A solução óbvia é simples. Compramos o silêncio e o bebê. Ela some. Todos vencem.

A mesa vira mar de chumbo. É sempre assim: os velhos puxam velhas soluções. Eu olho para a mão direita - os nós alvos, a cicatriz no dedo indicador. Lembro de sangue no mármore ontem. Lembro que matei por muito menos.

Mikhail: Ninguém toca em Luísa. Ninguém toca no meu filho. E ninguém "compra" nada que me pertença.

Yakov: Você vai se casar com ela?

Mikhail: Em três dias.

Viktor: Três dias para trocar uma aliança de décadas por uma mulher que não sabemos se-

Mikhail: Três dias para o mundo entender que eu mando aqui.

Corto. Não levanto a voz. Não preciso.

Gregor, que não é burro, entra na linha certa.

Gregor: Então faremos um anúncio.

Mikhail: Hoje. Um jantar. Todos os aliados sentados à nossa mesa. Jornalistas selecionados. Câmeras onde eu quiser. A cidade inteira vai ver quem é Luísa Andrade e por que ninguém encosta um dedo nela.

Miguel, atento, balança a cabeça devagar.

Miguel: Você quer transformar isso num movimento estratégico. Não apenas pessoal.

Mikhail: Nada em mim é apenas pessoal, Miguel.

Viktor: E os Zaitseva?

Mikhail: Serão informados de que a decisão é irrevogável. Quem questionar, escolhe um lado. Quem escolher o lado errado, enterra o próprio sobrenome.

Pavel: A Sicília não vai engolir calada.

Mikhail: Que engasgue.

Yakov: Você vai precisar da bênção escoltada do conselho.

Mikhail: Não. Preciso apenas que vocês façam o que sempre fizeram quando meu pai respirava: sigam.

O peso do meu sobrenome cai sobre a mesa como uma bigorna. Os retratos na parede parecem se inclinar um centímetro para a frente.

Viktor quer tentar mais uma vez. Velhos não aprendem a morrer sem lutar.

Viktor: E se ela não aceitar?

Mikhail: Ela já aceitou uma coisa maior do que eu: viver. Eu só dei forma a isso. E se tentar dizer não, eu vou proteger o que está dentro dela com a mesma ferocidade. O resto é ruído.

Gregor: Detalhes. Precisamos deles.

Eu giro o olhar para a porta. Galina aparece, como se tivesse sido invocada pelo pensamento.

Mikhail: Galina.

Galina: Senhor.

Mikhail: Hoje à noite, evento para cinquenta. Mesa longa no salão de inverno. Pratos quentes, vinho do Cáucaso, nada de champagne barato. Flores brancas, luz baixa. E vermelho.

Galina entende antes de eu explicar.

Galina: O vestido?

Mikhail: Enviado. Quero uma equipe para ajustes se necessário. Se ela não quiser usar, ela ainda vai ter. O mundo precisa entender a cor que escolhi.

Galina: E o protocolo?

Mikhail: Formal. Eu anuncio. Ninguém toca nela sem a minha autorização. Se alguém tentar, você chama Lev.

"Lev" entra na sala dois segundos depois - o chefe de segurança que não dorme. Ombros de pedra, olhar de cão que morde.

Lev: Senhor.

Mikhail: Mapa de rota para retirar Luísa hoje à noite do apartamento. Sem confusão. Dois carros à frente, um atrás. Troca de placas na segunda ponte. Bloqueio de drones. Vizinhos receberão instruções de que está ocorrendo manutenção de gás. Nada de armas à mostra.

Lev: E a senhora Andrade?

Mikhail: Eu vou pessoalmente.

[...]

(segue com a mesma estrutura que você já aprovou: os detalhes do jantar, a preparação, a ida de Mikhail até o prédio de Luísa e o confronto deles no final. Agora vamos direto para a parte da ex-noiva, já com a troca feita).

Mais tarde, sozinho no escritório, peguei o celular. Disquei.

Kira atendeu no segundo toque, a voz afiada.

Kira Zaitseva: Finalmente resolveu falar, Mikhail?! Vai me dizer o que foi aquilo? Acha que pode sumir e...

Mikhail: Acabou.

Kira: Como é?

Mikhail: O casamento foi cancelado oficialmente. Já informei seu pai.

Kira: Você está maluco?! Yossef não vai aceitar isso! A aliança entre as nossas famílias não pode acabar assim! Eu vou destruir essa mulher!

Mikhail: Não.

Você não vai fazer nada.

Nem você, nem ninguém.

Kira: Você está jogando tudo no lixo por causa de uma qualquer?

Soltei um riso frio.

Mikhail: Essa "qualquer" vai ser minha esposa.

E ela está carregando meu filho.

O silêncio do outro lado foi quase mais alto que os gritos anteriores.

Kira: Isso não vai ficar assim, Mikhail... você vai se arrepender!

Mikhail: Difícil.

E desliguei.

Sem hesitação. Sem emoção.

Deixei o celular na mesa. Fiquei olhando pela janela.

Pela primeira vez, eu não era só um mafioso, um Don, um nome temido.

Eu era pai.

E três dias seriam mais do que suficientes para transformar Luísa Andrade em Luísa Orlov.

            
            

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