Grávida do Mafioso
img img Grávida do Mafioso img Capítulo 4 O Ódio Veste Dourado
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Capítulo 6 Entre Fantasmas e Vestidos img
Capítulo 7 À Mesa com o Don img
Capítulo 8 O Reencontro img
Capítulo 9 O Orgulho dos Zaitsev img
Capítulo 10 A Ponte Dourada img
Capítulo 11 Pétalas e Pólvora img
Capítulo 12 A Casa Que Não Tem Endereço img
Capítulo 13 O preço do sangue img
Capítulo 14 Entre paredes que respiram img
Capítulo 15 Vigília img
Capítulo 16 Café em casa sem endereço img
Capítulo 17 O que cabe num sim sussurrado img
Capítulo 18 A força que não cabe em lençol img
Capítulo 19 O peso da entrega img
Capítulo 20 Entre Silêncios e Promessas img
Capítulo 21 A Promessa no Silêncio img
Capítulo 22 Lista de Nomes img
Capítulo 23 A Primeira Porta img
Capítulo 24 O Nome que fica img
Capítulo 25 O Próximo Nome img
Capítulo 26 Um Dia Só Nosso img
Capítulo 27 Oportunidade img
Capítulo 28 Coroação da Esposa do Don img
Capítulo 29 A Noite da Coroação img
Capítulo 30 O Elo e o Mandante img
Capítulo 31 Excussão img
Capítulo 32 O Nome Suíço img
Capítulo 33 O Jantar img
Capítulo 34 O Intercepto img
Capítulo 35 O Subsolo img
Capítulo 36 O Cofre img
Capítulo 37 O Presente img
Capítulo 38 Ficar img
Capítulo 39 Ravelli img
Capítulo 40 O Último Nome img
Capítulo 41 - O Quarto de Alexei img
Capítulo 42 O Recado img
Capítulo 43 O Entregador img
Capítulo 44 Pegamos o Entregador img
Capítulo 45 O Vazio img
Capítulo 46 Calmaria img
Capítulo 47 O Inimigo ataca novamento img
Capítulo 48 Respiração img
Capítulo 49 Voz de Vingança img
Capítulo 50 O Preço da Aliança img
Capítulo 51 Piquenique img
Capítulo 52 Ainda na mesma noite img
Capítulo 53 O Vidro Partido img
Capítulo 54 Pegamos um Mexicano img
Capítulo 55 Pistas img
Capítulo 56 Confirmação img
Capítulo 57 Momento Juntos img
Capítulo 58 Encontraram o homem img
Capítulo 59 A Assinatura no Sangue img
Capítulo 60 O Laço de Sangue e Dinheiro img
Capítulo 61 O Primeiro Corte img
Capítulo 62 A Sombra no Asfalto img
Capítulo 63 Contra-fogo img
Capítulo 64 O Cerco img
Capítulo 65 Contra-pulso img
Capítulo 66 Marcação img
Capítulo 67 Consulta img
Capítulo 68 Rastro Claro img
Capítulo 69 Cerco Fechado img
Capítulo 70 Vigília img
Capítulo 71 Manhã de Cuidado img
Capítulo 72 Jogada img
Capítulo 73 O Fecho img
Capítulo 74 O Último Nó img
Capítulo 75 Nasce img
Capítulo 76 Último Silêncio img
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Capítulo 4 O Ódio Veste Dourado

Narrado por Kira Zaitseva

A porta do carro mal tinha se fechado atrás de mim quando senti o peso da derrota esmagar meu peito. O silêncio da garagem da mansão parecia zombar de mim, cada passo ecoando alto demais. As colunas de mármore, a escadaria ampla, os lustres ,tudo aquilo que deveria ser o cenário da minha vitória agora só me lembrava da vergonha.

Atravessei o saguão sem olhar para ninguém. Os empregados abaixaram os olhos, fingindo não ver a pressa com que subi as escadas. Mas eu sabia. Sabiam todos. O evento daquela noite não era segredo. O anúncio de Mikhail Orlov correria pela cidade mais rápido que pólvora.

Entrei no meu quarto e bati a porta com tanta força que os quadros tremeram. O ar me pareceu denso, sufocante. Arranquei os brincos e os joguei sobre a penteadeira. O som metálico foi pequeno demais para o tamanho da fúria dentro de mim.

Kira: Ele me expôs. Diante de todos. Como se eu fosse nada.

Caminhei de um lado para o outro, o vestido dourado se arrastando pelo tapete como uma lembrança de uma coroa arrancada. O reflexo no espelho mostrava uma mulher despenteada, com olhos úmidos, mas ainda assim orgulhosa. Eu não era qualquer uma. Eu era Kira Zaitseva. E Mikhail havia ousado me rebaixar diante de toda a Bratva.

O que queimava em mim não era tristeza. Era ódio. Ódio tão forte que o corpo não conseguia conter. Peguei um dos saltos dourados e o arremessei contra o espelho. O vidro trincou em dezenas de linhas, meu reflexo partido em pedaços.

Kira: Isso não vai ficar assim.

O som da porta abrindo me fez virar. Devagar, cuidadoso. Apenas uma pessoa ousaria entrar sem bater.

Yossef: Filha.

Meu pai. Erguido na porta como um general depois de uma batalha. A postura era firme, mas eu conhecia cada detalhe do rosto dele. O maxilar travado, os dedos rígidos ao lado do corpo, os olhos semicerrados. Ele estava tão furioso quanto eu, mas a fúria dele vinha disfarçada de cálculo.

Kira: Pai, ele me humilhou. Cancelou nosso acordo. Jogou fora o nome Zaitseva como se fosse pó.

Ele entrou com passos pesados, fechou a porta atrás de si e puxou a poltrona para se sentar diante de mim. Como fazia quando queria me ensinar algo.

Yossef: Eu vi. E me calei porque se eu falasse, talvez não tivesse saído de lá vivo.

Kira: E é isso? Vamos aceitar? Vamos deixar que uma mulher sem nome, sem história, sem sangue, sente no trono que deveria ser meu?

Ele me observou por longos segundos. Os olhos dele eram lâminas afiadas.

Yossef: Aceitar? Nunca. Mas precisamos de inteligência. Orlov não é qualquer inimigo. É mais do que um homem. É um império. Não se desafia um império de frente.

Aproximei-me, o vestido dourado ainda me sufocando, pesado, como se fosse feito de ferro.

Kira: Então o que vamos fazer?

Yossef: Você quer que ela pague?

Kira: Quero que desapareça. Que suma da face da terra. Antes do casamento. Antes de usar o vestido que ele ousou escolher para ela.

Yossef: Então vamos agir. Mas será do nosso jeito. Sem rastros. Sem escândalo.

Kira: Como?

Yossef: Acidente. Um carro que falha, uma estrada molhada, um pneu que estoura. Moscou é grande, e tragédias acontecem todos os dias.

Fechei os olhos e respirei fundo. A cena tomou forma dentro de mim como uma pintura cruel: ela, sozinha, capotando numa curva escura, o carro esmagado, o sangue escorrendo. O bebê dela o bebê dele, indo embora junto.

Um arrepio percorreu meu corpo. Mas não era medo. Era satisfação.

Kira: Quero que ela sinta medo antes. Quero que saiba que ousar ocupar o meu lugar tem um preço.

Yossef: Vai acontecer. Já tenho gente dentro da clínica. Eles podem conseguir rotas, horários, endereços. Ela não é intocável, por mais que Mikhail ache que sim.

Sentei na beira da cama, puxando o tecido dourado para os lados. O vestido se espalhou pelo tapete como ouro inútil.

Kira: Eu vou sorrir em público. Vou postar fotos, vou fingir que aceitei. Todos vão acreditar. Mas aqui dentro... eu vou esperar. Esperar a notícia.

Yossef: E quando ela se for, Mikhail vai lembrar de quem sempre esteve ao lado dele.

Kira: Eu. A única que nasceu para ser senhora Orlov.

Ele se levantou, ergueu o queixo e assentiu.

Yossef: Exatamente.

Ficamos em silêncio por alguns instantes. O relógio na parede marcava os segundos como punhaladas. Levantei devagar, caminhei até o espelho trincado. Toquei a rachadura com os dedos. Meu reflexo estava partido, mas ainda havia fogo nos olhos.

Kira: Ele pode ter escolhido vermelho para ela. Mas eu vou pintar Moscou inteira com o sangue dela, se for preciso.

Meu pai veio até mim. Colocou a mão pesada no meu ombro. A força dele me enraizou.

Yossef: Vermelho é a cor da guerra, filha. E nós sabemos lutar.

Fechei os olhos. O calor do ódio me envolvia como manto. Já não havia tristeza. Não havia vazio. Só a promessa da vingança.

Arranquei o vestido dourado do corpo, deixando-o cair no chão como pele morta. Fiquei apenas com a camisola leve, o frio da noite entrando pela janela aberta. Mas dentro de mim, queimava um incêndio.

Abracei meu pai. Pela primeira vez em anos, deixei que ele me segurasse. Não havia carinho ali, só a união de dois guerreiros que perderam uma batalha, mas ainda não a guerra.

Kira: Ela vai morrer, pai. Eu juro.

Yossef: Ela vai. E quando isso acontecer, Mikhail vai perceber que ninguém substitui uma Zaitseva.

Olhei para o espelho trincado mais uma vez. Vi uma rainha destronada. Mas não derrotada.

E prometi, para mim mesma e para o mundo: Luísa Andrade pode carregar o filho de Mikhail Orlov. Mas nunca chegará ao fim dessa gravidez.

            
            

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