Ele jogou uma tigela do que parecia ser lavagem no chão.
- Coma. Instruções especiais.
O cheiro de comida estragada revirou meu estômago. Eu vomitei, a bile queimando minha garganta. A sujeira respingou nos sapatos do enfermeiro.
Seu rosto escureceu de raiva. Ele agarrou a frente da minha camisola, seus nós dos dedos roçando minha pele, enviando uma onda de repulsa através de mim.
- Sua vadiazinha - ele rosnou, o rosto desconfortavelmente perto. - Você acha que é boa demais para isso? Eu sei tudo sobre você. A riquinha brincando de casinha com o tutor dela.
Seus olhos percorreram meu corpo, demorando-se de uma forma que fez minha pele se arrepiar.
- Ele deve ter se divertido com você. Mas você está aqui agora. E aqui dentro, sou eu quem manda.
Ele se inclinou, seu hálito fétido me atingindo.
- Talvez a gente possa se divertir um pouco, hein? Eu posso ser bem mais legal que ele.
Senti uma onda sufocante de desespero. Rastejei para trás, para longe de seu rosto lascivo e mãos ávidas, até minhas costas baterem na parede fria e implacável. Não havia para onde correr.
- Fique longe de mim - sibilei, minha voz tremendo.
Ele riu, um som baixo e gutural.
- Se fazendo de difícil? Eu gosto disso. Mas não finja que é uma virgenzinha inocente. Todo mundo sabe o que você é.
Minha mente girou. O que eu compartilhei com Arthur, eu considerava amor. Torcido e doloroso, sim, mas era meu. Ouvir falar disso de forma tão grosseira, por este estranho, foi uma violação que cortou mais fundo do que qualquer golpe físico.
Sua mão me alcançou.
Eu me recusei a ser uma vítima. Não de novo.
Meus olhos percorreram o quarto. Nenhuma arma. As janelas eram gradeadas. Mas as cortinas... eram velhas e grossas.
Em um flash de inspiração desesperada, lancei-me em direção à janela, arrancando a pesada cortina de seu varão. Em um movimento fluido, enrolei o tecido grosso ao redor do pescoço do enfermeiro e puxei com toda a minha força.
Ele engasgou, seus olhos saltando de surpresa e raiva. Usei o impulso para chutá-lo com força no estômago, fazendo-o cambalear para trás.
- Você está morta! - ele ofegou, arranhando o tecido ao redor de seu pescoço. - Eu vou te matar!
Ele começou a gritar por ajuda.
Eu não esperei. Eu corri.
Eu não podia esperar que Arthur me "salvasse". Foi ele quem me colocou aqui. Ele era o monstro. Se eu ficasse, perderia minha sanidade, minha dignidade e meu bebê.
Meus pés descalços batiam no chão frio de linóleo do corredor. As paredes eram altas, coroadas com arame farpado e uma cerca elétrica. Uma prisão projetada para manter as pessoas dentro.
Eu preferiria ser rasgada em pedaços por aquele arame a passar mais um segundo neste inferno.
Minhas mãos, já machucadas, estavam em carne viva e sangrando enquanto eu subia. A dor era um rugido distante. Tudo em que eu conseguia pensar era na pequena vida dentro de mim. Pelo meu bebê, eu suportaria qualquer coisa.
Eu costumava pensar que Arthur era meu salvador. Sempre que eu estava em apuros, ele aparecia, um anjo sombrio para me resgatar. Mas enquanto eu arrastava meu corpo dolorido para o topo daquele muro, eu sabia com certeza absoluta: desta vez, eu tinha que me salvar.
Caí no chão do outro lado, o impacto abalando cada osso do meu corpo. Cambaleei pelas ruas escuras, um fantasma em uma camisola de hospital, até que o vi.
Um enorme outdoor eletrônico na praça da cidade. E meu rosto estava nele.
Não, não apenas meu rosto. Era um vídeo. Um momento privado, roubado e transformado em um espetáculo público. Era uma gravação minha e de Arthur, na cama. Não havia nudez, mas o áudio... minha voz, suave e ofegante, dizendo o nome dele, sussurrando coisas destinadas apenas a ele.
O som da minha própria vulnerabilidade, do meu próprio amor, transmitido para toda a cidade ouvir, foi a humilhação final. O homem que jurou me proteger me desnudou e me jogou aos lobos.