A Esposa Que Eles Quebraram
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Capítulo 2

Heitor a encarou, um lampejo de confusão em seus olhos.

"Que jogo, Alexia?"

Antes que ele pudesse continuar sua atuação, a voz de Kassandra chamou da sala de estar.

"Heitor, querido, pode vir aqui? Meu dedo ainda está latejando."

Sem um segundo de hesitação, Heitor se virou e foi embora, deixando Alexia no chão.

Os dias seguintes foram uma escalada. Heitor e Antônio eram implacavelmente atenciosos com Kassandra, uma performance constante e brutal para uma plateia de uma pessoa só. Mas a plateia não estava mais assistindo. Alexia havia se tornado insensível a isso. A dor que eles tão desesperadamente queriam ver havia desaparecido, substituída por uma calma gélida.

O ápice de seus esforços foi a festa de vigésimo quinto aniversário de Kassandra. Heitor deu um evento luxuoso na mansão, convidando uma centena da elite de São Paulo.

O ar zumbia com sussurros.

"Olhe para ele, como a mima."

"Ela é apenas uma executiva, mas ele a trata como uma rainha."

"Eu nunca o vi tratar a Alexia assim. Nenhuma vez."

Alexia ouviu tudo. Ela sentou-se em um canto isolado, com uma taça de champanhe na mão, um sorriso amargo nos lábios. Era irônico. Eles estavam se esforçando tanto para provar o amor dela através do ciúme, mas tudo o que estavam fazendo era matá-lo mais rápido. O amor deles, se é que se podia chamar assim, era uma arma, e ela estava cansada de ser o alvo.

Kassandra era o centro das atenções, um sorriso presunçoso no rosto enquanto Heitor e Antônio a ladeavam. Heitor a presenteou com um Porsche novinho em folha, a chave pendurada em uma corrente cravejada de diamantes. Antônio deu a ela um colar de design exclusivo.

Enquanto celebravam, seus olhos continuavam a se desviar para o canto de Alexia, procurando a reação que validaria seus esforços.

Não encontraram nada. Alexia sentava-se quieta, sua expressão tão imóvel quanto um lago congelado.

O maxilar de Heitor se contraiu. O sorriso de Antônio desapareceu. O fracasso em provocá-la azedou a vitória deles.

Kassandra, sentindo a atenção deles diminuir, decidiu tomar as rédeas da situação. Ela caminhou arrogantemente até Alexia.

"E então, Alexia? Não vai me desejar um feliz aniversário? Onde está meu presente?"

"Eu não tenho um para você", disse Alexia, a voz neutra.

O rosto de Kassandra se contorceu em um beicinho ensaiado.

"Ah. Acho que você ainda não está feliz por eu estar aqui."

Seus olhos percorreram Alexia, depois pousaram no simples medalhão de ouro em volta de seu pescoço. Era a última coisa que a mãe de Alexia lhe dera antes de morrer.

"Isso é bonito", disse Kassandra, a voz pingando cobiça. "Vou aceitar isso como meu presente."

A mão de Alexia voou instintivamente para o medalhão.

"Não."

"Não seja tão egoísta, Alexia", choramingou Kassandra, virando-se para Heitor, que a havia seguido. "Heitor, ela não quer me dar um presente."

O rosto de Heitor era uma máscara fria.

"Alexia, dê a ela."

"Era da minha mãe", disse Alexia, a voz tremendo pela primeira vez naquela noite. "É tudo o que me resta dela."

Antônio se juntou a eles, seu rostinho um espelho da crueldade de seu pai.

"É só um pedaço de metal, mãe. Não seja tão mesquinha. A Kassandra gostou."

"Não é só metal!", a voz de Alexia falhou. "É insubstituível."

A paciência de Heitor se esgotou. Ele estendeu a mão e arrancou o pingente de seu pescoço. A corrente arranhou sua pele, deixando uma linha vermelha e em carne viva.

"Eu te compro uma centena deles", disse ele, a voz desdenhosa.

"Você não pode!", gritou Alexia, sua compostura finalmente quebrando. "Você não pode substituí-la!"

Por um momento, Heitor hesitou. Seus dedos, segurando o medalhão, tremeram levemente. Mas o momento passou. A necessidade de provar seu ponto, de vê-la quebrar, era mais forte.

Ele se virou e entregou o pingente a uma Kassandra triunfante.

"Aqui está, aniversariante."

Antônio aplaudiu.

"Viu, mãe? O papai ama mais a Kassandra."

Alexia os encarou, seu coração se partindo. Isso não era mais um jogo. Era crueldade pura e sem adulteração.

"Você está feliz agora?", ela sussurrou. "É isso que você queria?"

Kassandra, admirando o medalhão, "acidentalmente" o deixou escorregar de seus dedos. Ele bateu no chão de mármore com um baque surdo.

"Ops", disse ela, com um suspiro falso, antes de deliberadamente pisar com seu salto agulha sobre ele. O ouro macio se amassou com um estalo doentio, a pequena foto da mãe de Alexia dentro rasgada.

O tempo parou. Alexia encarou os pedaços quebrados de sua última conexão com sua mãe. Um soluço estrangulado escapou de seus lábios. Ela caiu de joelhos, tentando freneticamente juntar os destroços, uma borda afiada cortando sua palma.

"O que você pensa que está fazendo?" Heitor agarrou seu braço, puxando-a para cima. "É só um colar. Pare de fazer cena."

Ela empurrou Kassandra.

"Você fez isso de propósito."

O metal quebrado em sua mão cravou mais fundo em sua palma, fazendo sangue escorrer. A dor física era um eco surdo da agonia em sua alma.

Heitor a segurou, seu aperto como ferro.

"Peça desculpas à Kassandra. Agora."

            
            

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