O dia em que Alexia recebeu alta do hospital era o aniversário da morte de sua mãe.
Quando ela saiu do hospital, o carro de Heitor estava esperando na calçada.
A cabeça de Antônio apareceu na janela.
"Mãe, vamos com você visitar a vovó."
No banco de trás, Kassandra deu-lhe um sorriso presunçoso e piedoso.
Os dedos de Alexia se apertaram no buquê de lírios brancos em sua mão, o celofane amassando. Ela entrou no carro sem dizer uma palavra.
O cemitério estava frio e varrido pelo vento. Um funcionário a informou que as taxas do jazigo estavam vencidas.
"Eu cuido disso", disse Heitor, caminhando em direção ao escritório, o marido perfeito e responsável.
No momento em que ele se foi, o rosto de Kassandra mudou.
"É uma pena, não é? Que ela esteja morta. Ocupando um lugar tão bom. O jazigo da minha avó é tão apertado."
A cabeça de Alexia se ergueu bruscamente, seus olhos ficando de um tom perigoso de vermelho.
Ela não pensou. Apenas agiu. Sua mão balançou, o estalo de sua palma contra a bochecha de Kassandra ecoando no cemitério silencioso.
Kassandra cambaleou para trás, tropeçando em uma lápide e batendo a cabeça. O sangue empastou seu cabelo.
Heitor e Antônio vieram correndo.
"Ela me bateu!", soluçou Kassandra, agarrando a cabeça. "Eu só estava tentando ser legal, e ela me atacou! Eu sei que ela só está com ciúmes, Heitor, eu entendo..."
Heitor e Antônio trocaram um olhar. Era aquele olhar de novo. Aquele prazer secreto e compartilhado em sua paixão "incontrolável".
O rosto de Heitor endureceu em uma máscara de raiva justa.
"Você foi longe demais, Alexia."
"Ela precisa de um castigo de verdade desta vez, pai", disse Antônio, a voz fria.
Heitor se virou para seus seguranças.
"Cavem."
O sangue de Alexia gelou.
"Cavar o quê?"
"O túmulo da minha mãe", ela sussurrou, a voz um murmúrio horrorizado.
Os seguranças pareceram hesitantes, mas o olhar de Heitor era de aço. Eles começaram a cavar.
"Não! Parem!", gritou Alexia, avançando, mas Heitor a agarrou, seu aperto como um torno.
A urna de madeira foi desenterrada. Um dos seguranças a abriu.
E então, uma rajada de vento pegou o conteúdo.
As cinzas de sua mãe giraram no ar, uma nuvem cinza contra o céu cinza, e então elas se foram.
O rosto de Heitor ficou branco.
"O que você fez? Eu só mandei você cavar!"
O segurança gaguejou:
"Eu... eu pensei que o senhor quisesse dizer..."
O tempo pareceu congelar. Heitor olhava, horrorizado e arrependido, para a caixa vazia.
Alexia observou os últimos resquícios físicos de sua mãe se espalharem ao vento. Lembrou-se do sorriso gentil de sua mãe, de seus abraços calorosos.
Uma dor aguda e insuportável tomou seu coração. Ela engasgou, e um jato de sangue irrompeu de seus lábios.
Sua visão se afunilou para o preto.
Enquanto caía, ouviu suas vozes em pânico.
"Pai, acho que fomos longe demais desta vez", chorou Antônio.
A mão de Heitor, trêmula, pegou a dela.
"Alexia... me desculpe. Sinto muito."
"Nós te amamos, mãe", soluçou Antônio. "Amamos de verdade."
Uma única lágrima escapou do olho fechado de Alexia. Eles precisavam de sua dor para sentir o amor deles. Precisavam de sua destruição para provar sua devoção.
Bem, ela não lhes daria mais isso.