Uma batida na porta. Era Kassandra, encostada no batente, um olhar presunçoso e vitorioso no rosto.
"Ele nunca vai te amar, sabe", disse Kassandra, a voz um insulto baixo. "Ele e o Antônio, eles adoram te ver sofrer. É a única coisa que os faz sentir algo."
"Você é uma tola se acha que eles te amam", respondeu Alexia, a voz cansada. "Você é apenas uma ferramenta. Uma ferramenta descartável."
Kassandra riu.
"Talvez. Mas agora, sou eu que ele está usando. E logo, você estará completamente fora de cena. Você deveria simplesmente ir embora. Facilitar para todo mundo."
Alexia já tinha tido o suficiente. Ela se levantou para sair, mas Kassandra bloqueou seu caminho.
"Onde você pensa que vai?"
"Saia da minha frente", disse Alexia, a voz perigosamente baixa.
Ela tentou passar, mas Kassandra agarrou seu braço. Alexia a empurrou, com mais força do que pretendia.
Kassandra perdeu o equilíbrio, seus olhos arregalados em um choque teatral. Ela soltou um grito agudo enquanto caía para trás, rolando pela grande escadaria.
O barulho ecoou pela mansão silenciosa.
Segundos depois, Heitor e Antônio estavam lá, correndo para o pé da escada.
"Kassie!", gritou Heitor, embalando-a em seus braços.
Kassandra já estava soluçando.
"Ela me empurrou! A Alexia me empurrou da escada! Ela disse... ela disse que não me deixaria chegar perto de você e do Antônio."
Heitor olhou para cima da escada, para Alexia. Seus olhos não estavam com raiva. Não estavam desapontados. Por uma fração de segundo, Alexia viu de novo - aquele brilho de alegria sombria e possessiva. O ciúme dela, a "violência" dela, era exatamente a prova que ele queria.
Ele rapidamente mascarou isso, seu rosto se tornando uma máscara de fúria fria.
"Leve-a para o carro. Vamos para o hospital."
Ele se virou para os dois seguranças que haviam aparecido.
"E quanto a ela", disse ele, acenando para Alexia, "ela precisa aprender uma lição sobre consequências."
"O que você está fazendo?" O sangue de Alexia gelou.
"Você empurrou a Kassandra da escada", disse Heitor, a voz assustadoramente calma. "É justo que você experimente a mesma coisa."
Ele estava louco. Todos eles estavam loucos.
"Não! Eu não a empurrei! Ela está mentindo!", gritou Alexia, recuando enquanto os seguranças avançavam.
"Ela não mentiria", disse Antônio, a voz pequena, mas firme, ao lado do pai. "Você só está com ciúmes, mãe. Este é o seu castigo por não nos amar o suficiente para nos deixar ser felizes."
Os seguranças a agarraram. Ela lutou, chutou, gritou.
"Vocês são monstros! Todos vocês! Vão se arrepender disso!", ela berrou, a voz rouca de desespero.
Eles a arrastaram para o topo da escada. Por um momento, seus olhos encontraram os de Heitor. Ele estava assistindo, um sorriso fraco e aterrorizante brincando em seus lábios.
Então, eles a soltaram.
O mundo virou de cabeça para baixo. A dor explodiu por todo o seu corpo quando ela atingiu os degraus de mármore. Um estalo doentio ecoou em seus ouvidos.
Enquanto sua visão embaçava, a última coisa que viu foi Heitor e Antônio. Eles estavam sorrindo. Sorrindo de verdade.
"Ela está com tanta dor, pai", ela ouviu Antônio sussurrar, sua voz cheia de uma felicidade perturbadora. "Isso significa que ela nos ama muito, muito mesmo."
A risada baixa de Heitor foi o último som que ela ouviu enquanto a escuridão a consumia.
Seu coração não apenas se partiu. Foi arrancado, rasgado em pedaços e pisoteado no chão. Era tudo um jogo. Sua dor era o prêmio deles.
Ela acordou em uma cama de hospital, uma prisão estéril e familiar. Cada centímetro de seu corpo gritava de agonia.
Uma enfermeira estava verificando seu soro.
"Você acordou. Nos deu um belo susto. Seu marido estava tão preocupado. Ele esteve aqui a noite toda."
Os dedos de Alexia se contraíram. Ele era um bom ator. Um ator brilhante.
"Ele acabou de sair há alguns minutos, quando viu que você estava prestes a acordar", continuou a enfermeira, alheia. "Ele disse que ia ver como a outra moça estava. Um homem tão atencioso."
Alexia sentiu uma risada amarga subir pela garganta, mas saiu como uma tosse dolorida. Claro que ele saiu. A performance havia acabado. A plateia estava acordada.
Ela se recusou a deixar a enfermeira chamá-lo. Ela sabia onde ele estava. Estava com Kassandra, continuando a farsa.
Ela passou os dias seguintes no hospital, se recuperando sozinha. A dor física era imensa, mas o vazio emocional era pior.
Quando recebeu alta, seu advogado estava lá novamente, desta vez com um acordo de divórcio. Ela o assinou sem pensar duas vezes, a mão tremendo por causa do dano neurológico persistente, mas sua determinação era firme.
No saguão do hospital, ela os viu. Heitor, Antônio e Kassandra, parecendo uma família feliz. O braço de Kassandra estava em uma tipoia, um acessório puramente decorativo.
Alexia apertou os papéis assinados na mão, respirou fundo e caminhou em direção a eles.
Ela estendeu a pasta para Heitor.