A Esposa Que Eles Quebraram
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Capítulo 5

O cronômetro apitava insistentemente: 00:30.

Alexia mordeu o lábio, sentindo o gosto de sangue. Ela puxou as cordas com uma última e desesperada onda de adrenalina. As fibras ásperas rasgaram sua pele, mas um nó se soltou.

00:15.

Ela libertou a mão, seus dedos dormentes e desajeitados. Desajeitadamente, desfez as cordas do outro pulso, das pernas.

00:05.

Ela estava livre. Levantou-se da cadeira, tropeçando em direção à saída.

00:01.

Ela se jogou pela porta enquanto um rugido ensurdecedor explodia atrás dela. A força da explosão a arremessou para a frente, batendo-a com força no concreto.

A dor foi uma supernova branca e quente, e então, nada.

Através do zumbido em seus ouvidos, ela os ouviu. Gritando seu nome.

Heitor e Antônio. Eles haviam voltado.

O rosto de Heitor apareceu acima dela, contorcido em uma máscara de puro terror que ela nunca tinha visto antes.

"Alexia! Alexia, fique comigo!" Sua voz estava rouca, dilacerada.

Antônio soluçava, a dor sem filtro de uma criança.

"Mamãe! Mamãe, acorda!"

Alexia tentou rir, mas nenhum som saiu. A performance havia acabado, e agora vinha o arrependimento em pânico. Tarde demais.

Ela fechou os olhos e deixou a escuridão reivindicá-la.

Ela acordou com o bipe familiar de máquinas. Hospital. De novo. Seu corpo inteiro era uma geografia de dor.

Uma enfermeira sorriu para ela.

"Bem-vinda de volta. Você é uma mulher de muita sorte. Teve ferimentos internos graves. Acabou de sair de um transplante de rim."

Um transplante?

"Seu marido é um verdadeiro herói", a enfermeira se derramou. "Ele era um doador compatível. Não hesitou um segundo em doar um de seus rins para você." A enfermeira apontou para uma bolsa de sangue pendurada ao lado da cama. "E seu filho, ele insistiu em doar sangue. Disse que tinha que salvar a mamãe dele."

Os dedos de Alexia se contraíram. Seu coração doía com uma dor aguda e cortante. Eles a despedaçariam, pedaço por pedaço, mas também dariam seus próprios órgãos para reconstruí-la. Preferiam dar um pedaço de seus corpos a uma única e honesta palavra de amor.

"Eles são uma família tão boa", suspirou a enfermeira. "Eles têm se revezado cuidando de você, dia e noite."

Alexia fechou os olhos. Ela não precisava desse tipo de amor. Não mais.

Durante sua recuperação, ela nunca os viu. Nenhuma vez. Mas ela os sentia.

Às vezes, no meio da noite, ela sentia alguém em seu quarto. Uma presença no escuro. Sentia o toque frio de dedos em sua bochecha, o fantasma de lábios quentes nos seus. Ouvia sussurros, tão baixos que pensava estar sonhando. "Minha Alexia... minha..."

Uma noite, ela sentiu a presença novamente. Não se moveu, sua respiração regular. Os dedos frios traçaram a linha de sua mandíbula.

Ela abriu os olhos de repente.

Heitor estava lá, a centímetros de seu rosto.

O pânico brilhou em seus olhos, cru e desprotegido, antes que ele pudesse compor suas feições.

"O que você está fazendo aqui?" A voz de Alexia era um arranhão frio.

Seu rosto endureceu. Sem uma palavra, ele deu um golpe na nuca dela com a lateral da mão.

Ela desabou de volta nos travesseiros, inconsciente.

Alguns dias depois, eles vieram para uma visita "oficial". Heitor ficou ao pé da cama dela, sua expressão friamente distante.

"Como você está se sentindo?", ele perguntou, como se fossem estranhos.

Alexia observou o leve e incontrolável tremor em seus dedos.

"Você esteve aqui antes, não esteve? À noite."

Suas pupilas se contraíram. Seu pomo de Adão subiu e desceu. Ele rapidamente virou o rosto.

"Não seja ridícula. Eu estive com a Kassandra. Ela ficou muito assustada com a explosão. Eu só passei por aqui a caminho de vê-la."

Ele se virou para sair, as costas retas como uma vara.

Antônio ficou paralisado perto da porta, seus olhos vermelhos e inchados.

"Heitor. Antônio", chamou Alexia.

Ambos se viraram em uma sincronia perfeita e perturbadora. Eles se pareciam tanto, duas gerações da mesma doença. Olhando para eles, Alexia sentiu um cansaço profundo, esmagador. A linha de chegada que ela vinha correndo em direção a sua vida inteira havia desaparecido.

Ela queria gritar a verdade para eles, expor suas mentiras, exigir um fim à farsa. Mas estava cansada demais. A luta havia se esvaído dela.

Deixe-os ter seu jogo. Deixe-os continuar atuando.

Ela estava saindo do palco. Para sempre.

            
            

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