Seu Herdeiro, Sua Fuga
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Capítulo 5

As semanas seguintes foram um tipo especial de inferno. Fui confinada ao meu quarto, uma jaula luxuosa com vista para os jardins perfeitamente cuidados. Um guarda ficava postado do lado de fora da minha porta 24 horas por dia, 7 dias por semana. Meu celular sumiu. A internet foi cortada. Fui completamente isolada.

Breno me visitava uma vez por dia, trazendo minhas refeições em uma bandeja como um carcereiro. Ele se sentava e me observava comer, conversando sobre seu dia, sobre a empresa, sobre o quarto do bebê que estavam construindo. Ele agia como se nada estivesse errado, como se fôssemos um casal normal e feliz esperando um filho.

Sua negação era uma forma de tortura psicológica.

Enquanto isso, ele e Catarina ostentavam seu relacionamento para o mundo ver. Eu sabia porque as empregadas, com pena de mim, deixavam revistas e jornais no banheiro.

"Magnata da Tecnologia Breno Queiroz e Socialite Catarina Vasconcelos: Um Amor Reacendido?"

Havia fotos deles em galas de caridade, em restaurantes exclusivos, em seu iate. Ele comprou para ela uma nova cobertura. Ele a levou para Paris por um fim de semana. A mídia transformou isso em uma história trágica: o bilionário leal confortando a melhor amiga de sua falecida noiva após os recentes infortúnios de sua família.

Cada foto, cada manchete, era um dardo cuidadosamente apontado, projetado para me ferir.

Uma noite, não aguentei mais. Esperei até a troca de guarda. Peguei um pesado vaso de cristal da lareira e o atirei contra a parede. Ele se estilhaçou com um estrondo satisfatório.

Arranquei as cortinas de seda das janelas. Joguei livros, abajures, tudo o que pude alcançar. Eu era um turbilhão de raiva e luto, destruindo as coisas bonitas que ele usara para me prender.

Ele me encontrou sentada no meio dos destroços, respirando pesadamente.

Ele não gritou. Nem sequer pareceu zangado. Apenas examinou os danos com um ar distante.

Então ele estendeu uma pequena caixa embrulhada para presente.

"Um presente", disse ele, a voz calma.

Eu o encarei, meu peito arfando.

Ele abriu para mim. Dentro, aninhada em uma cama de veludo preto, havia uma coleira de diamantes. Uma coleira de cachorro. Era requintada, coberta por centenas de pequenos diamantes de lapidação brilhante.

"Achei que combinava com você", disse ele, um sorriso cruel brincando em seus lábios. "Um lembrete do seu lugar."

Ele passou um dedo pela linha da minha mandíbula. "Você ainda não entendeu, Amélia? Você veio do nada. Um food truck em um beco sujo. Eu te dei tudo. Esta vida, esta casa, esta criança. Você deveria ser grata."

Suas palavras me atingiram mais forte do que qualquer golpe físico. Ele me via como um caso de caridade, uma criatura que ele havia arrancado da lama. Ele acreditava que me possuía porque me salvara. Todos aqueles anos de amor e apoio que eu lhe dei quando ele estava no fundo do poço... não significavam nada. Eram apenas uma dívida que ele sentia que eu agora lhe devia.

Meu coração, que eu pensei que não poderia se quebrar mais, se estilhaçou em um milhão de pequenos pedaços.

Nesse momento, seu telefone tocou. Ele olhou para a tela, e sua expressão fria se desfez, substituída por um calor suave e genuíno que eu não o via dirigir a mim há anos.

"Oi, Cat", disse ele, a voz terna. "Sim, estou quase terminando aqui... Claro, eu também sinto sua falta."

Ele estava falando com ela, sua amante, enquanto estava nas ruínas do quarto que compartilhava com sua esposa, uma coleira de cachorro de diamantes na mão. A crueldade pura e não adulterada disso era estonteante.

Ele colocou o telefone no viva-voz. "Estou aqui com a Amélia agora. Diga olá."

A voz de Catarina, doce como veneno, encheu a sala. "Amélia, querida! Você está se comportando? Breno me disse que você tem estado um pouco... emotiva."

Eu não respondi. Apenas encarei o telefone em sua mão, minha mente entorpecida.

"Ah, não seja assim", Catarina arrulhou. "Liguei para compartilhar uma boa notícia. Breno acabou de fazer a coisa mais romântica. Estávamos falando sobre sua mãe... e ele me levou ao mausoléu. Ao seu lugar de descanso final."

Minha respiração ficou presa na garganta.

"Foi tão bonito, tão pacífico", ela continuou, sua voz cheia de falsa reverência. "Nós nos sentimos tão próximos dela. E uma coisa levou à outra... É incrível como aqueles pisos de mármore são confortáveis quando você tem um bom casaco."

A implicação era clara. Vil. Indizível.

Eles haviam profanado o túmulo da minha mãe. O único lugar sagrado que me restava.

Um som, baixo e gutural, rasgou minha garganta. Lancei-me sobre ele, não com punhos desta vez, mas com unhas e dentes. Eu era um animal selvagem, movida por uma dor tão profunda que transcendia a razão.

"Eu vou te matar!", gritei, minha voz rouca. "Vou matar vocês dois!"

Ele me subjugou facilmente, segurando-me em um aperto de torno enquanto eu lutava e soluçava.

"Você ouviu isso, Cat?", disse ele ao telefone, uma nota de diversão em sua voz. "Ela está um pouco arisca esta noite."

Olhei para ele, minha visão embaçada pelas lágrimas. Eu o vi como ele realmente era. Não um homem, mas um vácuo. Um buraco negro de narcisismo e crueldade que consumia tudo o que tocava.

"Eu fui uma tola", engasguei, a luta se esvaindo de mim. "Fui uma tola por ter te amado. Uma tola por ter te salvado."

Minhas pernas cederam. O mundo escureceu. A última coisa que ouvi foi a voz de Breno, calma e imperturbável, falando ao telefone.

"Vou ter que te ligar de volta, querida. Parece que ela desmaiou."

            
            

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