Seu Herdeiro, Sua Fuga
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Capítulo 6

Acordei na minha cama. O quarto havia sido limpo, todos os sinais do meu violento surto apagados. Um médico estava de pé sobre mim, o mesmo que havia conspirado com Breno.

"Você acordou", disse ele, seu tom profissionalmente brando. "Você teve uma leve tontura. É comum durante a gravidez. Está tudo bem. O bebê está forte."

Breno estava ao pé da cama, o rosto uma máscara de preocupação. Era uma performance, e eu era sua plateia relutante.

Virei o rosto para a parede, ignorando os dois. A dormência era um escudo, a única coisa que me impedia de me despedaçar completamente.

Mais tarde naquele dia, Catarina veio ao meu quarto. Breno a forçou.

"Amélia", disse ela, parada perto da porta, sem ousar se aproximar. "Sinto muito se o que eu disse te chateou. Foi... indelicado."

Não era um pedido de desculpas. Era uma volta da vitória.

Eu nem olhei para ela. "Saia."

Ela bufou e se virou para Breno, que observava do corredor. Ele acenou para ela, e ela saiu, seus saltos clicando triunfantemente no chão de mármore.

Esse foi o dia em que meu plano de fuga se solidificou em minha mente. Não era mais um desejo desesperado; era uma necessidade. Uma questão de sobrevivência.

Comecei a interpretar o papel que ele esperava de mim. A esposa quebrada e submissa.

Deixei-o segurar minha mão. Comi a comida que ele me trouxe. Quando ele falava do bebê, consegui um sorriso fraco.

Uma tarde, disse a ele que as joias que ele me dera pareciam pesadas, uma lembrança dolorosa de tempos mais felizes. Perguntei se poderia vendê-las, para fazer uma doação a uma instituição de caridade infantil em nome da minha mãe.

Ele viu isso como um sinal da minha rendição, da minha aceitação da minha nova realidade. Ele ficou satisfeito.

"Claro, meu amor", disse ele, acariciando meu cabelo. "Uma ideia maravilhosa. Mostra que você finalmente está pensando no futuro. Na nossa família."

Ele providenciou para que um joalheiro particular viesse à casa. Vendi tudo. Os colares, as pulseiras, os brincos. Guardei apenas minha simples aliança de casamento. O dinheiro foi transferido diretamente para a conta offshore que Hélio havia criado para mim. Mais uma peça do plano se encaixando.

Uma semana depois, Breno anunciou que daria sua gala anual da empresa em seu superiate, o 'Amélia'. Ele o batizou com meu nome durante nosso primeiro ano de casamento. Agora, o nome era apenas mais um insulto.

"Quero você lá, ao meu lado", disse ele. "É hora de mostrarmos ao mundo que estamos unidos."

Eu não queria ir. A ideia de encarar todas aquelas pessoas, de fazer o papel de esposa feliz, me deixava enjoada. Mas então percebi que era a oportunidade perfeita. Um local público. Testemunhas. O ato final da minha antiga vida.

"Eu adoraria", eu disse, forçando um sorriso.

Na noite da festa, o iate era um palácio flutuante de luz e música. Eu usava um vestido simples e elegante, minha mão repousando sobre minha pequena barriga de grávida. Breno era atencioso, possessivo, sua mão nunca saindo do meu lado. Éramos o casal perfeito.

Vi alguns rostos amigáveis na multidão, esposas de sócios de Breno que sempre foram gentis comigo. Fui até elas, Breno momentaneamente distraído por uma conversa com um senador.

"Amélia, você está radiante", disse uma delas, uma mulher doce chamada Clara.

"Obrigada", eu disse, meu coração doendo. Isso era um adeus. "Eu só queria dizer... obrigada por sempre serem tão gentis."

Ela me olhou, intrigada. Antes que pudesse perguntar o que eu queria dizer, o telefone de Breno tocou.

Vi o nome na tela. Catarina.

Seu rosto se contraiu. Ele ouviu por um momento, sua expressão escurecendo.

"O que foi?", perguntei, minha voz cuidadosamente neutra.

"Não é nada", disse ele, mas seus olhos traíam sua mentira. "Catarina... ela está tendo algum tipo de ataque de pânico. O irmão dela está causando problemas para ela de novo."

Ele olhou de mim para a festa cintilante, sua mente claramente já longe. Ele ia embora. De novo. Eu sabia.

"Você deveria ir até ela", eu disse, minha voz suave. Era a deixa perfeita.

Ele pareceu aliviado. "Você tem razão. Ela precisa de mim. Você ficará bem aqui. O capitão te levará para casa quando estiver pronta."

Ele me deu um beijo rápido e distraído na bochecha. "Sinto muito, Amélia. Vou te compensar. Eu prometo."

Outra promessa vazia.

Ele se virou e foi embora sem um segundo olhar, me deixando sozinha no meio de sua festa. No iate com o meu nome.

Observei-o ir, uma fria sensação de finalidade me invadindo. Esta era a última vez que ele me abandonaria.

Caminhei em direção à popa do iate, buscando um momento de silêncio. Enquanto me apoiava no corrimão, observando a água escura abaixo, senti uma presença atrás de mim.

Pensei que era o capitão, vindo ver como eu estava.

Eu estava errada.

Dois homens grandes e fortes saíram das sombras. Eu não os reconheci.

"Sra. Queiroz?", um deles perguntou.

Antes que eu pudesse responder, ele se lançou, me agarrando. O outro cobriu minha boca, abafando meu grito. Eles me arrastaram para um canto deserto do convés inferior.

A dor explodiu no meu estômago quando um deles me socou, com força. Dobrei-me, ofegante.

"Esta é uma mensagem da família Vasconcelos", o homem rosnou, seu hálito quente e fétido contra meu rosto. "Você e seu filho bastardo estão atrapalhando."

Ele me bateu de novo, e de novo. A dor era excruciante. Senti uma sensação quente e úmida se espalhando pelo meu vestido. Sangue.

"Sabe, seu marido foi quem arruinou o pai do nosso chefe", o outro homem resmungou, torcendo meu braço para trás das costas. "Breno Queiroz. Ele armou tudo. E agora você vai pagar o preço."

Então era isso. A traição final. Breno não apenas teve um caso com Catarina. Ele orquestrou a queda da família dela, da mesma forma que orquestrou a do meu pai. Ele criava o caos e depois aparecia como o salvador. Era o seu padrão.

Minha cabeça girou. O convés inclinou-se sob meus pés. Desmaiei, o mundo se dissolvendo em um borrão de dor e luzes piscando.

Eu podia ouvir gritos à distância. Pessoas correndo. A festa havia sido alertada.

A última coisa que me lembro foi a voz de Breno, frenética e aterrorizada, gritando meu nome.

E então, uma voz diferente, um paramédico se inclinando sobre mim.

"Ela perdeu muito sangue. O bebê... acho que o bebê não vai sobreviver."

Tudo estava indo de acordo com o plano.

            
            

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