"Ouvi dizer que a outra, a irmã que estava desaparecida, está naquele quarto", sussurrou outra voz. "Ela parece... difícil."
Uma terceira enfermeira as corrigiu. "O nome dela é Alana Ribeiro. Ela é a verdadeira herdeira. Aquela outra garota é apenas adotada."
As palavras ofereceram um pequeno e amargo conforto. Sua identidade ainda não havia sido completamente apagada.
Ela se ergueu, seus músculos protestando. Espiou pela fresta da porta. Do outro lado do corredor, em uma suíte de luxo particular, ela os viu. Caio e André flanqueavam a cama de Beatriz. Beatriz estava apoiada em uma montanha de travesseiros, parecendo pálida e frágil.
"Minha cabeça ainda dói", Beatriz choramingou, fazendo beicinho para Caio.
A expressão de Caio era de terna preocupação. Ele pegou um pequeno copo da mesa de cabeceira. "Aqui, tome seu remédio. Seja uma boa menina." Ele a ajudou a tomar o comprimido e segurou um copo de água para ela, como se ela fosse uma criança preciosa. André gentilmente afofou seus travesseiros. Os olhos deles, antes cheios de adoração por Alana, agora estavam focados apenas em Beatriz.
Assim que uma enfermeira estava fechando a porta de Beatriz, os olhos de Beatriz encontraram os de Alana do outro lado do corredor. A máscara de fragilidade caiu por uma fração de segundo, substituída por um olhar de puro e triunfante desprezo. Então a porta se fechou com um clique.
Lágrimas queimaram os olhos de Alana. Por quê? Por que tudo havia mudado? O amor deles tinha sido tão superficial, tão facilmente transferido para a próxima mulher disponível que pudesse desempenhar o papel de donzela em perigo?
Ela agarrou o medalhão em volta do pescoço. Era a última coisa que sua mãe lhe dera antes de morrer, um simples oval de prata. Era a única coisa de sua vida antiga que seus captores não haviam levado. Sua única âncora. Ela enterrou o rosto no fino cobertor do hospital e chorou, soluços silenciosos e convulsivos que rasgavam seu estômago vazio.
Durante a semana que passou se recuperando, Caio e André a visitaram apenas uma vez. Eles ficaram desajeitadamente aos pés de sua cama por cinco minutos.
"Temos que voltar para o escritório", disse André, seu tom brusco. "E a Beatriz precisa de nós."
Eles saíram sem outra palavra.
Mais tarde, navegando em seu celular com a mão trêmula, Alana viu a última postagem de Beatriz nas redes sociais. Uma foto de um salão de festas luxuosamente decorado. A legenda dizia: "Tão comovida que Caio e André estão me dando uma festa de despedida tão linda antes de eu ir para Lisboa! Vou sentir falta dos meus dois caras favoritos!"
A festa. Claro.
No dia em que recebeu alta, Caio a esperava na entrada do hospital. O silêncio entre eles no carro era pesado, um cobertor espesso de coisas não ditas. Ela se lembrava de um tempo em que qualquer silêncio entre eles seria preenchido com sua conversa brincalhona e os sorrisos indulgentes dele. Agora, ela não tinha nada a dizer a ele. Sem lágrimas, sem acusações. Apenas um vasto e frio vazio.
Ele parecia estar estudando-a, uma expressão estranha em seu rosto. "Vamos dar uma festa hoje à noite", disse ele, sua voz suave, mas inflexível. "Uma festa conjunta. Para te dar as boas-vindas e para nos despedirmos da Beatriz."
Seus olhos encontraram os dela no espelho retrovisor. "E eu vou anunciar a data do nosso casamento."
Não era um pedido. Era um decreto. Um presente que ele estava lhe concedendo, um prêmio por seu sofrimento.
Alana baixou o olhar, escondendo a zombaria em seus olhos. "Não, obrigada."
Ela não precisava da caridade dele.
A festa foi realizada em um hotel cinco estrelas, o salão de festas brilhando com lustres e transbordando com a elite da cidade. Enquanto ela entrava de braço dado com Caio, uma tela gigante atrás do palco exibia uma apresentação de slides. Era uma montagem dos últimos quatro anos. Fotos de Caio e André em eventos de caridade, em viagens de negócios, em feriados. E em cada foto, Beatriz estava lá, sorrindo ao lado deles. Não havia uma única foto de Alana. Era uma declaração pública de que a vida havia continuado sem ela, que ela havia sido substituída.
Alana rapidamente se tornou invisível. Ela ficou em um canto, um fantasma em sua própria festa de boas-vindas. O centro das atenções era Beatriz, radiante em outro vestido deslumbrante, flanqueada por Caio e André.
Os sussurros dos convidados a seguiram.
"É ela? Alana Ribeiro? Ela não parece tão refinada quanto a Beatriz."
"Eu sei. A Beatriz tem uma graça. Ela e o Caio formam um casal muito melhor."
"É uma pena o noivado. Eu me pergunto o que realmente aconteceu com ela todos esses anos. A gente ouve histórias..."
As palavras eram como pequenas pedras afiadas atiradas nela. Ela não suportou. Virou-se e fugiu, indo para os andares superiores mais silenciosos do hotel.
Ao chegar ao patamar do segundo andar, ela ouviu uma voz raivosa e familiar.
"Idiotas! Como puderam deixá-la escapar? Eu disse para vigiá-la!"
Era Beatriz. Ela estava ao telefone, de costas para Alana, sua voz despojada de toda a sua doçura, agora áspera e furiosa.
"Meu plano inteiro está arruinado por causa da sua incompetência! Agora ela está de volta, enchendo a cabeça do Caio e do André com bobagens."
Sua voz suavizou um pouco, tornando-se calculista. "Tudo bem. Eu os tenho na palma da minha mão. E a polícia não vai fazer nada. Mas vocês precisam manter todos no vilarejo quietos. Muito quietos."
Alana congelou, a mão voando para a boca para abafar um suspiro. O vilarejo. Era assim que seus captores chamavam o complexo.
"Não se preocupe", continuou Beatriz, seu tom se tornando frio e cruel. "Vou encontrar uma maneira de mandá-la de volta. É lá que ela pertence."
Beatriz desligou e se virou, um sorriso satisfeito no rosto. O sorriso desapareceu quando ela viu Alana parada ali, seu rosto pálido.
Por um momento, elas apenas se encararam. Então, a máscara de inocência que Beatriz usava tão bem finalmente se quebrou, revelando o ciúme feio e distorcido por baixo.
"Você", Beatriz sibilou, seus olhos ardendo de ódio. "Por que você teve que voltar? Você tinha tudo! O dinheiro, a família, o amor! Eu não tinha nada! Deveria ter sido meu!"
A confirmação atingiu Alana com a força de um golpe físico. As pontas de seus dedos cravaram em suas palmas, a dor aguda a mantendo no presente. Era real. Tudo. Beatriz era o monstro.
Alana não perdeu o fôlego com palavras. Ela se virou, sua mente singular e focada. Tinha que fugir. Tinha que chamar a polícia. Tinha que fazê-los ouvir desta vez.
Ela veria Beatriz acorrentada se fosse a última coisa que fizesse na vida.