Então, para o choque total de Alana, Beatriz deu um tapa no próprio rosto, com força.
"Socorro! Alguém, me ajude!" ela gritou, seus olhos selvagens com um pânico falso.
Antes que Alana pudesse processar a performance bizarra, Beatriz soltou seu braço e se jogou para trás, caindo dramaticamente pela escada de mármore como uma boneca quebrada.
Alana ficou congelada no topo da escada, atordoada em silêncio.
Uma fração de segundo depois, um borrão de movimento veio do salão de festas abaixo.
"Beatriz!"
Era a voz de Caio, crua de fúria. Ele subiu as escadas correndo, seu rosto uma nuvem de tempestade. Ele nem olhou para Alana. Sua mão se ergueu e ele a esbofeteou, o estalo ecoando mais alto que os gritos falsos de Beatriz.
A força do golpe a fez cambalear para trás. Sua bochecha ardia, uma marca de fogo de sua mão.
"Que diabos há de errado com você?" ele rugiu, seus olhos em chamas. "Não pode deixá-la em paz por um segundo?"
Antes que Alana pudesse formar uma resposta, André passou correndo por eles, seu rosto uma máscara de pânico. Ele não lhe lançou um olhar enquanto descia as escadas até onde Beatriz jazia em um monte amassado no fundo.
Em sua pressa, ele empurrou Alana, desequilibrando-a. Seu pé escorregou no mármore liso. O tempo pareceu desacelerar enquanto ela caía para trás, sua cabeça batendo na borda de um degrau com um estalo doentio.
O mundo escureceu por um momento. Quando sua visão clareou, o mundo estava inclinado e embaçado. Ela podia ouvir os soluços sufocados de Beatriz lá de baixo.
"Ela é louca, André", Beatriz chorou, agarrando-se ao braço do irmão. "Ela disse... ela disse que ia me vender para aqueles homens com quem ela estava. Os que a machucaram."
A mentira era tão cruel, tão perfeitamente elaborada para acionar seus medos, que Alana quase podia admirar sua crueldade.
"Alana, peça desculpas a ela. Agora", ordenou André do pé da escada, sua voz perigosamente baixa.
A dor irradiava da parte de trás de sua cabeça. Ela podia sentir algo quente e pegajoso escorrendo em seu cabelo. Sangue. Mas a dor física não era nada. A frieza que se espalhava por ela era a sensação de ser completamente abandonada pelas pessoas que ela pensava que morreriam por ela.
Sua visão estava começando a se fechar, mas ela se apoiou em um cotovelo, seu olhar travando com o de Caio. "Não", disse ela, sua voz um sussurro rouco.
Ela virou a cabeça, olhando além deles para onde Beatriz estava fazendo a performance de uma vida. "Eu tenho provas", ela murmurou, sua mão indo para o medalhão em seu pescoço. "O medalhão da minha mãe. Tem... tem uma câmera. Gravou tudo."
O rosto de Beatriz ficou branco. Ela abriu a boca para falar, um lampejo de pânico genuíno em seus olhos.
Mas Caio apenas zombou, seu rosto uma máscara de nojo. "Você ainda está mentindo. Ainda tentando machucá-la. Já tive o suficiente." Ele olhou para André. "Chame a polícia."
André, embalando Beatriz, assentiu sombriamente. Ele pegou o celular.
Enquanto Caio a encarava, André murmurava palavras de conforto para Beatriz, ignorando completamente o fato de que sua própria irmã estava sangrando na escada.
Alana tentou abrir o fecho do medalhão, mas seus dedos estavam desajeitados, tremendo demais. Antes que pudesse tirá-lo, dois dos seguranças de Caio estavam lá, levantando-a. Eles prenderam seus braços atrás das costas.
"Caio! André!" ela gritou, sua voz quebrando de desespero. "Vocês vão se arrepender disso! Vocês vão ver! Todos vocês vão ver!"
Eles nem olharam para trás. Apenas se afastaram, suas costas uma parede sólida de traição, deixando-a com os seguranças para esperar a polícia.
Ela passou a noite em uma sala de interrogatório fria e estéril. A luz forte do teto fazia sua cabeça latejar. Sua bochecha estava inchada e roxa, e o corte na parte de trás de sua cabeça havia parado de sangrar, mas estava coberto de sangue seco. Ninguém lhe ofereceu um médico.
"Quero prestar queixa", disse ela ao detetive pela décima vez, sua voz rouca. "Contra Beatriz Campos. E o complexo com o qual ela trabalha."
Um homem de terno elegante entrou. O advogado da família. Ele não a olhou com simpatia. Olhou-a com desdém.
"Senhorita Ribeiro", disse ele friamente, "o Ministério Público se recusou a apresentar queixa por falta de provas. Na verdade, a senhorita Campos está considerando entrar com uma ação de calúnia contra você."
Ele colocou um documento na mesa à sua frente. "No entanto, seu irmão e o senhor Sampaio estão dispostos a ser misericordiosos. Eles estão lhe oferecendo uma escolha."
Ele se inclinou, sua voz baixando. "Opção um: você se recusa a pedir desculpas. Nesse caso, eles usarão suas conexões para mandá-la de volta para aquele... vilarejo. Eles acham que um pouco mais de tempo lá pode ajudá-la a 'refletir' sobre seu comportamento."
A ameaça foi como um soco no estômago. O complexo. Seu inferno. Ela começou a tremer, um tremor profundo e incontrolável. Não podia voltar. Preferia morrer.
"Eu fico com a segunda opção", ela engasgou, sua voz mal um sussurro.
O advogado sorriu, uma expressão fria e fina. Ele deslizou outro papel pela mesa. Uma confissão e um pedido de desculpas pré-escritos.
"Opção dois", disse ele suavemente. "Você assina isso, admitindo que suas acusações 'caluniosas' foram resultado de um delírio induzido pelo trauma. Você se desculpa formalmente com a senhorita Campos. E eles arquivarão o caso."
A sala pareceu inclinar. O ar estava denso demais para respirar. Era uma escolha entre seu inferno pessoal e a humilhação pública. Entre a tortura física e a morte de sua alma.
Ela pegou a caneta. Sua mão tremia tanto que mal conseguia formar as letras de seu próprio nome. Uma risada seca e amarga escapou de seus lábios enquanto ela assinava, abrindo mão de sua verdade, de sua dignidade.
Eles eram tão cegos. Tão facilmente enganados por um rosto bonito e algumas lágrimas.
Mais tarde, um médico veio para suturar o corte em sua cabeça. A agulha perfurou sua pele, mas ela não chorou. A dor era distante, sem importância. Não era nada comparada à agonia do que lhe fora feito.
No momento em que a liberaram, ela saiu da delegacia e pegou o celular, reservando o primeiro voo para fora do país. Para qualquer lugar. Tinha que fugir deles. Desta cidade que se tornara sua prisão.
Ela estava parada na calçada, esperando um táxi para o aeroporto, quando um SUV preto parou com um rangido na sua frente. As portas se abriram. Seguranças. Os homens de Caio.
Eles a agarraram antes que ela pudesse sequer gritar.