Verônica estava em sua varanda observando os escravos trabalharem nas plantações. Fazia tempo que o castelo de Canário tinha tornado seu segundo lar.
A brisa refrescante da primavera trazia consigo o doce cheiro das flores e o abençoado cheiro da colheita.
Estava à espera de seu pai, que havia visitado Impetu há algumas semanas, mas prometeu retornar hoje.
"Senhora?" – disse Morgana ao tocá-la, acordando-a dos pensamentos no qual estava absorta.
Morgana Jarsdel era uma guerreira de Impetu, era ágil, habilidosa, voraz e leal, uma verdadeira fera! Verônica admirava sua força e lealdade e era grata por ter uma guerreira como ela ao seu lado.
"Morgana?" – disse Verônica ainda olhando para as plantações.
"Aconteceu um incidente nas masmorras..." – relatou receosa. – "Um dos prisioneiros tentou fugir utilizando uma gazua e-"
"Conseguiram captura-lo?" – indagou Verônica, sem querer interrompendo Morgana.
"Sim, mas o prisioneiro-" – respondeu, mas foi interrompida por um suspiro exasperado de Verônica.
"Ele chegou!" – exclamou Verônica inquieta. – "Morgana, devo me retirar e ir receber nosso rei. Mas, confio que você fará o certo." – disse ao se retirar as pressas.
Seu pai estava conversando com um de seus guardas, mas aquietou-se ao perceber a presença de sua filha.
"Como foi de viagem pai?" – perguntou Verônica.
"Meu Rei. Já lhe ensinei que em público deves me chamar de Rei!" – corrigiu-a com raiva, mas sem aumentar a voz. – "Tenha modos!"
"Sim, meu rei." – disse Verônica.
Verônica já estava acostumada com a falta de afeto, mas achava fútil ter que chamá-lo de rei sendo que ele era, de fato, seu genitor. Seu pai alegava que o afeto enfraquecia aqueles que o tinham; Alegava que era como entorpecentes, uma vez que recebia você suplica por mais.
"A viagem foi agradável, Impetu está prosperando sob os comandos de sua rainha." – disse ao perceber a feição de desagrado de sua filha. – "Como Canário esteve durante minha ausência?"
"Comportaram como cervos indefesos e trabalharam o suficiente para ter calos." – relatou.
"Bom." – disse o rei enquanto andava à passos largos em direção ao castelo.
Verônica entendeu aquilo como uma deixa e aguardou até o rei sumir de suas vistas para adentrar o castelo.
Morgana havia sido dispensada por sua princesa, estava incomodada por não ter tido oportunidade de relatar que o fugitivo era o príncipe. Por outro lado, estava grata pela confiança que a mesma depositou sobre sua capacidade.
Ela tinha em mente o que faria; Interrogaria o príncipe quais eram suas intenções com aquela fuga? O que havia o encorajado depois de tanto tempo? Como conseguiu aquela gazua? Ele teve ajuda de algum prisioneiro? Havia persuadido algum guarda?
Eram muitas perguntas, mas ela precisava de respostas, aquela fuga não teria nem começo se ele não tivesse alguma ajuda. Foi então que um detalhe chamou sua atenção: "Por que um de seus súditos teria lhe entregado?" – pensou.
Aquele pequeno detalhe deixou-a incomodada e com muitas suspeitas, ela teria que dar um fim nisso, custe o que custar.