"Queria dar uma caminhada. Esticar as pernas." – respondeu de forma irônica.
Morgana entendia o que ele estava fazendo.
"Tentar fugir do assunto com ironia não vai funcionar." – disse friamente
"É a segunda vez que tento fugir e falho?" – indagou com zombaria.
"Certo! Se você prefere assim." – disse Morgana com raiva. – "Pode açoita-lo! Tire qualquer coisa, até pequenos detalhes." – ordenou.
O guarda ao seu lado entrou em ação imediatamente. O primeiro contato do chicote foi recebido dolorosamente; Alef sentia sua pele queimar e ondas de choque circulavam pelo seu corpo.
"Por que tentou fugir?"
"Qual era seu objetivo?"
"Por que o prisioneiro da cela ao lado entregou-lhe?"
Cada pergunta era acompanhada por um golpe. Mas, aquilo não era o suficiente, ele aguentaria mais.
Morgana estava intrigada e determinada, ele estava sendo açoitado, mas continuava calado; Ele tinha algo a esconder e ela iria descobrir.
Morgana percebeu que Alef estava muito ferido, ele ainda não tinha respondido nenhuma pergunta e aparentemente não pretendia.
"Pode parar!" – ela ordenou.
"Mas, senhora ele ainda não disse nada!" – disse o guarda.
"Quer que ele morra? Se perdemos ele, qual vantagem vamos ter sob os escravos?"
O guarda ficou parado por um momento pensando o que fazer.
"Certo. Mas, você fica com a responsabilidade por não ter tido sucesso com o interrogatório." – disse o mesmo com raiva.
Morgana encarou Alef por um tempo, será que ela devia chamar algum curandeiro? Ele estava ferido, mas poderia sobreviver... não? Mas, e se ele morresse?
"Chame algum curandeiro. Não podemos arriscar perder ele."
O guarda à encarou demostrando desaprovação, mas Morgana respondeu com um olhar penetrante fazendo-o executar a ordem.
Verônica estava em seus aposentos respondendo uma carta que recebeu de sua mãe, nela sua mãe contava as notícias de Impetu e que estava ansiosa para rever sua filha, além disso ela indagava como estava em Canário e quando voltaria à Impetu.
Verônica não sabia ao certo quando voltaria para Impetu, mas esperava que fosse breve; Canário estava como sempre, seu povo trabalhava arduamente para no fim do dia fornecer alimento para Impetu.
Quando estava terminando sua carta, ela recordou do que Morgana falara mais cedo e se perguntava se a mesma conseguiu cuidar do fugitivo. Decidiu então que antes de juntar-se ao seu pai para um jantar, ela iria ao calabouço ver como estava Morgana.
O guarda retornou ao calabouço, mas dessa vez acompanhado de uma curandeira. Ela tinha os cabelos ruivos como chama e olhos cristalinos como água, Morgana sentia como se a mulher exalasse pureza.
"Alef!"- gritou espantada. – "O que fizeram com ele? Seus monstros!"
"Cuidado com suas palavras!" – advertiu Morgana.
Alef estava coberto de cortes e hematomas, sangue escorria seu tórax e costas deixando evidente que tinha sido açoitado diversas vezes. Não tinha muito o que fazer, ele precisaria de cuidados intensos, mas ela poderia utilizar uma de suas ervas para acelerar o processo de cura e anestesiar as feridas.
Ivy tentou retira-lo das correntes, mas o guarda interviu.
"Cuidado aí. Não ouse solta-lo." – ameaçou o guarda.
"Como quer que eu faça algo se ele estiver preso?" – retrucou.
O guarda olhou para Morgana em busca de consentimento, a mesma acenou levemente em concordância. Frustrado o mesmo retirou de seu uniforme uma chave mestra que abria todas as correntes. Ele soltou Alef que caiu com força no chão.
"Faça seu serviço." – disse Morgana friamente.
"Obrigada." – Ivy respondeu com ironia.
Ivy estava com sua bolsa de couro costurada por sua mãe, nela ela carregava essências, ervas, pastas, tecidos e outros itens que uma boa curandeira sempre portaria. Ela retirou de sua bolsa um pote de porcelana no qual continha uma pasta verde-amarelada, a mesma era a mistura de duas ervas Calêndula e Centella, ambas eram muito utilizadas para cicatrização.
"Alef? Alef? Você está bem?" – sussurrou ela enquanto passava a pasta sobre seus ferimentos.
"Melhor do que nunca." – respondeu com um sorriso tolo.
Após espalhar a pasta nas feridas de Alef, Ivy retirou de sua bolsa um tônico forte, esse tinha grande poder anestésico o que ajudaria Alef ao que estava por vir.
Verônica estava descendo as escadas que levavam para o salão comunal, estava preocupada pois Morgana não havia mandado notícias sobre o fugitivo.
Enquanto rumava para o calabouço, reparou que o castelo estava mais vazio que o normal, alguns escravos que tomavam conta do jardim não estavam lá e os guardas que vigiavam os mesmos também estavam sumidos. Ela sentiu algo ruim, como um calafrio subindo sua espinha. Será o frio? Ou ela estava pressentindo algo ruim?
Quando entrou no corredor que levava para o calabouço esbarrou em alguém alto, era seu pai.
"Verônica." – disse com uma voz dura.
"Sim? Meu rei." – completou quando percebeu que havia esquecido de chama-lo de rei.
"Estava à sua procura."
"Aqui? No calabouço?" – indagou ela com muita suspeita.
"Sim. Vamos jantar." – respondeu o rei tentando mudar de assunto.
Verônica sabia que ele não estava em busca dela, mas o que ele faria no calabouço? O mesmo que ela?
Morgana analisava cuidadosamente cada movimento da curandeira, ela era delicada e sabia o que estava fazendo. Era de se impressionar!
Ivy levantou Alef cuidadosamente, ele ainda estava em más condições, mas era melhor que nada.
"Certo?" – perguntou ela.
Uma palavra simples, mas de grande importância.
"Sim." – respondeu ele.
Sem rodeios Ivy se jogou pra cima de Morgana, derrubando-a, enquanto Alef entrava em luta corporal contra o guarda.
Alef com os punhos cerrados investiu contra o guarda que conseguiu desviar, logo em seguida foi golpeado no estômago, perdendo o ar.
Ivy estava sob Morgana, ela não tinha muita prática com luta, sempre se dedicou para a 'arte da cura' e pôde ver os "prejuízos", Morgana com muita facilidade reverteu as posições e prensou Ivy contra o chão.
Alef recuperou suas forças e com arranque empurrou o guarda contra a parede, o mesmo caiu com o impacto. Aproveitando esse momento, Alef socou o guarda em sequência, tinha ódio em cada golpe, ele estava revidando anos que seu povo sofreu em suas mãos; Nas mãos de Impetu.
Morgana nunca lutou contra uma mulher, seus inimigos eram o dobro de seu tamanho, lutar contra a curandeira era algo fútil, ela não conseguiria ferir ninguém com aquela falta de prática e delicadeza. Para sua surpresa, Ivy quebrou suas expectativas com uma cabeçada, deixando-a atordoada pela surpresa e dor.
O guarda estava inconsciente, mas Alef não conseguia se controlar, ele tinha sede de vingança e continuou diferir golpes contra o mesmo. Sua fúria foi interrompida por um grito 'estrangulado' de Ivy; Ela estava sendo enforcada pela mulher que o interrogou.
Sem pensar muito, Alef correu e se jogou contra Morgana, os dois rolaram, sem perder tempo Morgana partiu para cima de Alef e dessa vez estava imobilizando ele.
Alef já estava cansado para lutar contra Morgana, suas feridas ainda doíam e com muita dificuldade conseguia diferir um golpe contra ela.
Morgana apertou a garganta de Alef, naquele momento não importava se ele morreria; Ele era uma ameaça e ela especialista em eliminar ameaças.
Uma dor excruciante irrompeu em sua cabeça, Ivy tinha aproveitado sua distração e a atingiu com umas das ferramentas utilizadas nos interrogatórios.
Morgana começou a enxergar pontos pretos antes de ser apossada pela dolorosa inconsciência.