Mariana sorriu com amargura. Faz tempo que não falo com ninguém.
- Eu também senti sua falta, irmã. Estive... ocupada - respondeu, tentando encontrar uma resposta mais honesta sem parecer que estava se queixando.
- Ocupada? Com o trabalho? Como sempre, né? - disse Sara, com seu tom brincalhão, mas também com um leve reproche. Ela sempre foi a pessoa relaxada, aquela que levava a vida com calma.
Mariana se apoiou no encosto da cadeira, olhando pela janela. O dia já estava escurecendo, mas a luz do escritório permanecia acesa, uma constante que a lembrava da quantidade de trabalho que ainda tinha para fazer.
- Sim, bem... você sabe como é. Não posso parar agora. A empresa precisa de mim em tudo.
- E quanto a você? - Sara não parava de insistir, sempre preocupada com a irmã mais velha. Mariana era quem assumia a liderança na família, mas Sara a conhecia bem: às vezes, sua irmã se esquecia de viver.
Mariana suspirou e passou a mão pelos cabelos.
- Não tenho tempo para pensar nisso, Sara. Já tentei, mas sempre surge algo. Os clientes, as campanhas, os números... Se eu parar, tudo para.
- E você também para. - A voz de Sara se suavizou, mas a preocupação era clara. - Há quanto tempo você não sai, Mariana? Há quanto tempo você não vê ninguém, nem aqueles caras com quem costumava sair de vez em quando?
Mariana ficou em silêncio, olhando para a tela de seu computador, que ainda exibia alguns e-mails não respondidos. A verdade era que ela não se lembrava da última vez que teve um encontro ou mesmo saiu com amigos. O trabalho tomou todo o seu tempo, cada minuto do seu dia estava ocupado. E quando não estava no escritório, estava em casa, recebendo e-mails ou pensando em estratégias. Sua vida pessoal havia sido esquecida, como algo que ela poderia retomar mais tarde, quando "tudo estivesse no seu lugar".
- Não preciso disso agora - respondeu finalmente, com um tom que não escondia o cansaço. - Não estou em uma fase da minha vida para pensar em relacionamentos. Estou... bem assim.
- Não é que eu esteja te pressionando, mas você precisa pensar em si mesma, Mariana. Nem tudo é trabalho. Nem tudo é a empresa. Eu te disse antes, você está perdendo algo importante. E você sabe disso.
Mariana mordeu o lábio inferior, algo que fazia quando estava frustrada. Sara estava certa. Ela sabia que estava certa. Mas como poderia lidar com essa realidade? Se não estava trabalhando, sentia que estava perdendo o controle. Não podia simplesmente acender a luz e se desconectar de tudo.
- Eu sei, eu sei. - Mariana apertou os olhos, tentando encontrar as palavras certas. - Não tenho tempo para "relacionamentos". Além disso, quem vai querer estar com alguém como eu? Sempre ocupada, sem tempo para nada além do trabalho.
Sara não foi enganada pela fachada que sua irmã tentava mostrar.
- Mariana, ninguém está pedindo para você deixar sua carreira. Mas tudo bem querer algo mais. A vida não é só sucesso profissional. Você tem direito de ser feliz, de compartilhar sua vida com alguém. Não se esqueça do que te faz ser você.
O silêncio na chamada se estendeu por alguns segundos. Mariana fechou os olhos. Ela podia ouvir sua irmã à distância, e as palavras de Sara, embora bem intencionadas, a faziam se sentir ainda mais sozinha. Quando foi que ela deixou de ser ela mesma?
- Eu prometo que vou pensar nisso - disse, com um tom mais suave. - Mas agora preciso continuar trabalhando. A reunião é em duas horas, e ainda não terminei de preparar tudo.
- Claro, eu sei - respondeu Sara, embora não conseguisse esconder sua frustração. - Mas não se esqueça de que sempre tem um lugar para descansar, para respirar. Eu sinto sua falta, sabia?
Mariana sorriu levemente, sem poder evitar.
- Eu também sinto sua falta. Prometo que logo vamos tomar um café como antes.
- Estarei te esperando, irmã. Não me esqueça.
Mariana desligou, e por um momento, deixou o telefone na mesa. A conversa tocou um ponto delicado, um que ela não queria enfrentar. Mas, como sempre, o trabalho lhe deu uma desculpa para ignorá-lo. Voltou para o computador, abrindo-o rapidamente, buscando o próximo conjunto de e-mails e tarefas que precisava atender.
Mas algo havia mudado. A inquietação que sentiu ao falar com Sara não desapareceu facilmente. Embora não quisesse admitir, a ideia de que sua vida pessoal estava vazia a perseguia cada vez mais. Ela havia deixado de lado completamente sua vida emocional, convencida de que isso não era necessário. Quem precisa de um relacionamento quando tem uma empresa para administrar?
Ainda assim, enquanto olhava para a tela, algo dentro dela não deixava de se perguntar o que teria acontecido se as coisas tivessem sido diferentes. O que teria acontecido se ela tivesse tido tempo para alguém mais? E se ela não tivesse se afundado tanto no trabalho, poderia ser feliz com alguém? A dúvida a visitava várias vezes nas últimas semanas, mas ela sempre a ignorava.
De repente, seu telefone vibrou novamente. Era uma mensagem de Clara.
Clara: "A reunião está prestes a começar. Você está pronta?"
Mariana olhou para a mensagem e, por um momento, pensou. A resposta era óbvia. Ela precisava estar pronta. A vida pessoal podia esperar.
- Sim, estou pronta - respondeu, deixando de lado os pensamentos incômodos. Primeiro o trabalho, pensou. Primeiro a empresa.
Mas no fundo de seu ser, algo a incomodava. Talvez, só talvez, houvesse algo mais na vida que merecesse uma chance.