Não haveria de ser ruim, pensou ele. Ela não parecia uma selvagem, e com o tempo, acreditava, talvez pudessem mesmo começar a gostar um do outro. Suas obrigações na cama poderiam ser reduzidas à noite de núpcias e eventuais desejos de sua esposa. Não, pensou ele. Talvez Lisbeth lhe desse a honra de nem se atrever a tocá-la. Teria que procurar em bordéis, como de costume, o que não acharia em casa. O pensamento fez um sorriso se abrir nos lábios, mas de súbito, imaginou Lisbeth nua, entregue em seus braços. Ah, Deus... ela era belíssima. Talvez não fosse tão ruim. Talvez Lisbeth gostasse de sua companhia. Talvez ela gostasse de suas habilidades como marido. Talvez, pensou ele, ela fosse tão incrivelmente teimosa na cama quanto é. E se fosse, Liam com certeza se divertiria muito.
Enquanto galopava, a atividade parecia esvaziar sua mente e, ao mesmo tempo, realçar suas ideias, ele não conseguia parar de pensar em seu futuro mais que certo. Seu pai se divertiria muito observando-o. Talvez até gargalhava. Não que o odiasse - de forma alguma -, Liam só não conseguia se imaginar na mesma posição que seu pai. Cuidar da propriedade e se tornar chefe da família eram obrigações que ele certamente sabia como lidar, mas no entanto, quando pensava em sua própria família, não conseguia se ver como o pai. Isso o amedrontava de alguma forma, porque sabia que nunca conseguiria ser parecido com o pai o bastante para, talvez, ocupar seu lugar. Mesmo sendo um homem duro, lorde Culbert era atencioso com a família, carinhoso e muito brincalhão. Liam lembrava que costumava galopar com ele, mas isso foi muito antes de completar a idade ideal para começar os estudos. Seu pai se transformou, então, num homem que Liam não reconhecia. Tinha medo dele, na verdade. Talvez invejasse um pouco a relação de seu irmão e irmã. Benedict certamente não se importava com todo o amor que recebia do pai, mas Liam sim. Certamente para Benedict não era algo que devesse reconhecer, mas para alguém que teve responsabilidades sobre os ombros e foi privado de toda a diversão que lhe era de direito, era como se nada fizesse sentido.
- Liam! - Gritou um homem. Um dos colonos que o ajudava na administração da fazenda. Ele correu para perto, segurando o chapéu para que não voasse. Liam fez com que Maximus parasse. Ele passou os olhos pelo homem, que abrira um sorriso. - Que prazer lhe ver! Pensei que ainda estivesse em Londres. Sua mãe me disse que... - ele piscou, pareceu escolher as palavras e olhou de baixo para cima. - Seu irmão começaria a tomar conta das propriedades.
- Benedict realmente deveria - Liam disse - já está com idade suficiente para tomar algumas obrigações. Mas minha mãe não quer que ele o faça. - Liam puxou as rédeas e Maximus começou a andar. O amplo campo parecia monótono. O homem seguiu Liam. - E, além do mais, eu já resolvi o que tinha de resolver. - Contou ele.
Benedict era o irmão mais adorado por todos. Sempre oferecia um largo sorriso, uma conversa recheada de simpatia e espalhava bom humor por onde passava. Não que Liam fosse diferente, mas ele, de certa forma, era tão mais cortês do que um príncipe. Aprendera a manter a postura, de modo que sempre parecesse elegante e garboso. Ele não era como um dos irmãos, e não tinha receio disso. Sua postura intimidadora afastava muitos - na maioria, pessoas com más intenções.
- Então, suponho eu - o homem começou - o senhor continuará a cuidar das propriedades? - Ele estava bem atrás de Liam, que olhou para trás, por cima do ombro e assentiu.
- Algum problema? - Perguntou.
- De modo algum.
- Certo, então. - Disse Liam.
Ele bateu as rédeas em Maximus o suficiente para que o cavalo galopasse além das plantações de cevada. Logo à frente, Clarke House se erguia, magnânima. Ele deixou Maximus nos estábulos, chamou um dos cavalariços para que cuidasse do animal e se dirigiu para a casa. Prometeu à sua mãe que viria o mais rápido possível para vê-la, visto que sempre fugia de uma visita. A verdade é que Liam perdera o apetite por conversas normais e fofocas bobas, justamente o que sua mãe tanto apreciava.
Assim que pôs os pés no hall de entrada, o mordomo da família anunciou sua chegada.
Agora não tinha como simplesmente dar meia volta.
- Liam Bennington - disse lady Culbert, se aproximando de Liam. Ele abriu um sorriso que podia iluminar toda a Londres. Ela segurou o vestido comprido, que cobria as perninhas curtas e se aproximou. Regina sorriu, apontou um dedo na direção da bochecha e seu filho, como obediente que era, inclinou-se para beijar sua bochecha. - Por que demorou tanto? - Ela passou seu braço por dentro do dele. Liam olhou para ela e abriu a boca para dizer, mas ela disse: - Londres está muito lotada nessa época do ano? Não lembro de ter esperado tanto por você. Não é mais que um dia de viagem! - Liam teve que concordar.
Sua mãe não era boa em esperar, ele sabia disso, mas nos últimos tempos, desde a morte do pai, tornou-se ainda mais impaciente. Liam sabia que ela tinha receio de perder outra pessoa que amava, mas isso o deixava incapacitado. Aquela casa lhe trazia recordações demais, e para ser sincero, ele odiava ter que viver debaixo do mesmo teto que tanto se recusara a ficar. A maior parte do tempo, quando não estava em Londres, viajava para todos os cantos da Europa, mas sempre voltava para a mesma casa, onde passara os últimos minutos com o pai. Há um mês comprara uma residência afastada de todos. Afastada o suficiente para ter a si mesmo a capacidade de deitar a cabeça no travesseiro e pregar os olhos à noite.
- Aposto que vai adorar! - Lady Culbert disse. Liam olhou para ela, sem entender muito bem do que falava.
- Perdão?
- Falava de lady Hargrove, a filha do visconde.
- Lady Hargrove? - E então, quando viraram a esquina e entraram na sala de visitas, Liam viu lady Hargrove e seu pai, sentados no sofá. - Ah. - Ele fechou o sorriso.
Liam olhou para o lado. Lady Hargrove era uma dama bastante bonita, mas sua compostura e ousadia de muito era inconveniente. A dama se atirava para qualquer um que tivesse nome e usasse calças.
Lady Culbert e Liam se aproximaram. Liam fez uma reverência cortês e lady Hargrove abriu um sorriso muito exagerado. Cheio de dentes. Seu pai, lorde Hargrove, o visconde, fez uma breve reverência.
- Liam Bennington - experimentou dizer Frederica Hargrove. - É muito bom vê-lo de volta. - Ela balançou o leque, de modo que seus seios parecessem maiores do que já eram. Liam praticamente fez uma careta. Lady Culbert beliscou-lhe e sussurrou algo:
- Pare de encará-la. - Ela era muito boa em cochichar.
- O que disse? - Perguntou o visconde.
- Por que não a leva para passear? - Ela olhou para Liam, que franziu a testa. - Liam. - Lady Culbert foi bem enfática ao pronunciar seu nome. Disse todas as letras. Absolutamente.
- Seria uma ótima ideia. - Frederica disse.
- De fato. - Concordou o pai.
Lady Frederica Hargrove levantou, Liam estendeu a mão para ajudá-la e ela agradeceu. Ele a levou na direção da sala de estar, onde encontrou os irmãos praticando forte piano. Com um sorriso largo, Benedict levantou os olhos.
- Desgraçado! - Gritou ele.
- Como? - Lady Frederica pareceu espantada.
- Maldito! - Liam retrucou. Lisle, a filha mais nova, cutucou o irmão na barriga, que puxou uma de suas tranças delicadas. Liam observou que Frederica ria, como se estivesse vendo um show. - Deveria saber que é assim como uma família se comporta. - Disse ele, juntando as mãos atrás das costas. Ela ergueu uma sobrancelha.
- Deve ser fascinante. - Ela disse. Sua voz parecia de súbito afogada. - Não tenho irmãos. Nem amigos.
- Eu posso ser - Benedict disse.
- Não aceite sua proposta, a menos que queira lençóis ensopados. - Liam disse alto o suficiente para seu irmão escutar.
- Desse jeito vai afastar minhas futuras pretendentes, irmão. - Benedict disse. Frederica cobriu a boca com uma mão para abafar uma risada. Lisle continuou tocando lindamente.
A música soava pela sala de estar. O ambiente organizado e fresco era realmente encantador. Liam deu uma mão para Lady Frederica e a conduziu até o sofá. Ela se acomodou e Liam percebeu que o irmão olhava atentamente para o decote da moça. Ele se afastou de lady Hargrove e se aproximou de Lisle e Benedict.
- Pequena - Liam disse. - Pode ir conversar com lady Frederica? - Ele se inclinou. Lisle fez que sim, retirou-se educadamente e Liam olhou para Benedict, que levantou uma sobrancelha. - Posso conversar com você, irmão?
- Não precisava pedir. - Benedict disse, ainda hipnotizado pela graça da moça. - Diga-me, quem é ela? - Liam olhou em seus olhos travessos e riu. Ele admirava o modo como o irmão tocava piano sem nem olhar para as teclas. Liam sentou-se ao seu lado.
- Lady Frederica Hargrove, a filha do visconde. - Benedict assentiu. - Desista. Ainda é jovem demais para querer se aventurar nessas deliciosas complicações. - Liam piscou e pareceu ser sincero. - Agora - ele começou - tenho que pedir uma opinião.
- Eu sou bom nisso. - Disse Benedict. - Fale.
- Terei que me casar com uma moça, mas não faço ideia de que modo devo tratá-la. Lady Elizabeth Taylor. - Benedict parou de tocar piano.
- Ouvi dizer que os irmãos de lady Taylor são verdadeiros selvagens. Você... - Liam sabia o que sairia da boca do irmão muito antes de dizê-lo.
- Não. Não a desonrei.
- Ao menos isso. - Disse. - De resto, desejo-lhe sorte. - Liam deixou o ar dos pulmões escaparem, num suspiro pesado.
Benedict voltou a tocar.
- Venha pirralha - disse ele. Lisle olhou para Benedict, ajeitou a postura e se aproximou. - Quando foi que ela aprendeu a ser tão educada? Desse jeito não é nada divertido.
Liam sorriu.
Era realmente divertido passar um pouco de tempo com Benedict. E então, sua mente se encaminhou para Lisbeth. Será que poderia aproveitar de ocasiões como essa com ela?
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