O Conde Cretino
img img O Conde Cretino img Capítulo 5 Proposta
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Capítulo 6 Dança img
Capítulo 7 Fuga img
Capítulo 8 Escondidos img
Capítulo 9 Insanidade img
Capítulo 10 Beijada img
Capítulo 11 Buraco img
Capítulo 12 Pertencimento img
Capítulo 13 Liberdade img
Capítulo 14 Destino img
Capítulo 15 Intromissão img
Capítulo 16 Chá img
Capítulo 17 Paixão img
Capítulo 18 Importância img
Capítulo 19 Vergonha img
Capítulo 20 Amor img
Capítulo 21 Sozinhos img
Capítulo 22 Ódio img
Capítulo 23 Entrega img
Capítulo 24 Arrependimento img
Capítulo 25 Dúvida img
Capítulo 26 Ameaça img
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Capítulo 5 Proposta

Lisbeth definitivamente não gostava de como as coisas estavam se encaminhando. Ela não sabia se era o clima ou o jeito como todos olhavam para ela, mas definitivamente não gostava disso. O dia anterior havia passado rapidamente. Talvez até mais do que pudesse imaginar. E, de fato, algo a incomodava. Não fosse a constante sensação de ameaça e inquietação pairando no ar, ela com certeza saberia que tudo poderia estar normal. Desde que chegara nada havia mudado e talvez, nada tivesse. Tudo parecia intacto, como se esperasse por sua chegada.

Mas ela sabia, ah, como sabia, tudo isso poderia se transformar em pó.

Lorde Coutier não a olhou nos olhos durante o café da manhã e, para ser sincera, talvez não quisesse que ele tivesse feito. Ela mal conseguia estar no mesmo cômodo com ele. Se perguntava se iria se sentir desse modo quando enfim se casasse com Liam, ou pior: se ele a trataria assim por toda uma vida. Ela não se imaginava buscando migalhas de atenção de alguém que não a respeitava a ponto de entender que aquele maldito acordo não fazia sentido.

Lisbeth acordara cedo e passou a maior parte de seu tempo rabiscando alguma coisa no papel, de modo que deixasse sua imaginação fluir. Era o único lugar que tinha liberdade o suficiente, visto que, por toda a casa, se sentia tomada por olhares ávidos por qualquer deslize. Quando já estava impaciente o bastante a ponto de amassar a décima bola de papel, tombou a cabeça para trás em sua penteadeira e praguejou internamente.

James ordenara que a mantivessem sob uma rígida vigilância. Ele não queria que o que aconteceu na noite passada se repetisse novamente. Lisbeth, por sua vez, já estava cansada o bastante. Por sorte, Christian cruzou a porta do seu quarto e a convidou para um passeio pelo jardim. Ela tinha que admitir. Estava esperando por isso desde que acordara mais cedo.

- O dia está belíssimo - ele disse. Lisbeth sabia que Christian não costumava lhe convidar para um passeio sem segundas intenções. Por isso, o olhou atentamente, enquanto ele a conduzia na direção de um balanço de madeira no jardim bem cuidado. Ela lembrou de Nicholas; ele tocara em cada parte daquele jardim, com tanto esforço e determinação, que o deixara perfeitamente apresentável. - Me diga, irmã - disse Christian, a tirando de seu pensamento deleitoso. - O que tinha na cabeça quando aceitou entrar nos estábulos, desacompanhada, e ainda ficar sozinha com um homem que quase a desonrou? - Perguntou ele.

Lisbeth respirou fundo. Christian não costumava se intrometer entre os assuntos, pois de certo modo seu irmão o deixava bem longe deles. Lisbeth sabia que não quis ser indelicado, mas de certo modo, falou como se fosse louca, algo que provavelmente achava muitíssimo injusto, visto que ele concordava com a ideia de um casamento sem que ao menos concordasse.

- Ele me ajudou, só isso. Meu pé está machucado - ela estendeu o pé à frente do corpo, lançando um olhar impiedoso a Christian. - Pode conferir, se não acreditar.

- Não disse que não acreditava - disse ele, parando ao seu lado. Os cabelos castanhos de Christian foram soprados pela brisa da manhã, que Lisbeth percebeu, tinha cheiro de flor e campo. - Mas... não devia ter feito isso. Uma dama que se preza nunca ficaria desacompanhada diante de um cavalheiro. - Ele advertiu. Ela assentiu, abaixando os olhos.

Os fios longos e escuros de Lisbeth estavam contidos num coque baixo, de modo que cachos castanhos e espessos caíssem até a altura do pescoço. Ela juntou as mãos diante do vestido e deixou o ar sair num suspiro frustrado.

- Você ainda gosta dele? - perguntou Christian de maneira abrupta. Tão abrupta que fez Lisbeth se perguntar se era um truque. Ele deve ter percebido, porque disse: - Você sabe que nunca diria nada a James.

- Sim. - Disse, simplesmente. - Eu gosto. Eu pude perceber, mesmo que por pouco tempo, que senti algo, mas não tão forte. Creio que não o amo, mas ainda existe alguma coisa dentro do meu peito. - Admitiu ela.

Lisbeth aproximou-se do balanço e sentou-se, segurando as cordas que pendiam de uma árvore. Christian parou ao seu lado, sorrindo.

- Ainda lembro de quando competíamos por esse balanço - disse ele. Lisbeth encontrou um pouco de felicidade e também sorriu, mas não havia nenhuma alegria ali. - Eu daria tudo para que sorrisse daquele jeito. - Ele disse. Ela olhou para o outro lado, fugindo de seu olhar compassivo. Não queria que sentissem pena. Ainda mais Christian. - Entendo que esteja infeliz com tudo isso. Mas devo admitir que é preciso. Necessário. Entende?

Ela fez que sim, calada, sem olhar para ele. E quando levantou os olhos, viu James se aproximando, montado num cavalo, ao lado de Liam e seu irmão. Eles desmontaram, conversaram um pouco e Christian se afastou, andando na direção dos três cavalheiros.

Com certeza era necessário, mas nem por isso deixava de ser cruel, pensou ela. Por mais que parecesse não haver uma saída, por mais que estivesse condenada a isso, Lisbeth não tinha certeza se aquilo era realmente necessário.

Liam e Benedict aproximaram-se, acompanhados de Christian e James. Lisbeth se impulsionou para trás e o balanço roçou o ar, planando. Ela manteve a cabeça baixa o suficiente para não cruzar com o olhar de nenhum deles e fitou os próprios pés, que de súbito pareciam muito mais interessantes.

- Lisbeth - Disse James - o que está fazendo aqui? Pensei que tinha mandado ficar dentro de casa. - E ergueu uma sobrancelha, uma rápida ameaça que Lisbeth dispensou. Estava cansada demais para se defender contra as provocações de James. Estava cansada demais para lutar contra elas. - Não deveria estar sozinha. Pensei que Prudence estivesse tomando conta de você.

James a encarou com antipatia. Lisbeth não disse nada.

- Irmão - intrometeu-se Christian, tocando o ombro de James, que voltou sua atenção para ele. - Por que não deixamos o sr. Bennington e nossa irmã conversarem um pouco? Pensei em lhe falar. Notei que...

- Seria ótimo - interrompeu Lisbeth. Talvez tenha dito com um pouco de entusiasmo demais, o que fez Liam erguer uma sobrancelha. - Quero dizer... teremos de fazer isso, então que seja agora. - Ela baixou o olhar, esfregou as mãos na saia do vestido e olhou para o lado.

- De fato - disse James. - Está certo. Pedirei para Johnson ficar de olho. Sr. Bennington, irmã. - Ele fez uma breve reverência e Benedict bateu nas costas de Liam, como se estivesse o consolando. Ele se afastou do irmão e se juntou aos dois cavalheiros, que se dirigiram para a casa.

Liam aproximou-se de Lisbeth, o ar desconfiado era evidente em seu rosto, o que fez Lisbeth levantar os olhos lentamente e perguntar:

- O que foi?

Ele estreitou os olhos.

Ela aprumou-se como um guerreiro prestes a enfiar uma espada no inimigo.

- Pareceu gostar da proposta de seu irmão - ele disse. Liam apertou as mãos atrás das costas e se colocou atrás de Lisbeth, que voltara a se balançar, olhando sobre o chão. - Quero dizer... pareceu alegre demais.

- Está dizendo que não devo ficar alegre? - Ela olhou para ele, lançando um olhar desafiador.

- Pelo contrário - disse ele. - Fico feliz por você estar alegre. - Lisbeth franziu a testa e piscou, como se esperasse algo mais. - Diga-me, Lisbeth... - ele começou, mas ela o interrompeu:

- O senhor acha mesmo que é uma ótima ideia? - Perguntou ela, o encarando. Liam não disse nada, mas pareceu curioso, talvez pelo tom que Lisbeth escolhera. - Acha que deve se casar comigo por causa de um mero contrato? - Ele piscou, desta vez, ela percebeu, era como se estivesse pensando. - O senhor deixa que decidam o que deve fazer? Parece... limitante. - Ela provocou.

- E o que quer dizer com isso? - Liam se inclinou na sua direção. Lisbeth engoliu a saliva e entreabriu a boca, escolhendo as palavras.

Não podia parecer pretensiosa, muito menos fraca diante da situação - por mais que se sentisse dessa forma - e, talvez, não poderia ser petulante o suficiente para provocá-lo. Aquela era uma oportunidade. Talvez tivesse a chance de contornar as circunstâncias e achar um meio para que conseguisse se livrar. Ela segurou o queixo, pensativa, e Liam, sem avisar, empurrou o balanço. Ela segurou uma corda com força para manter o equilíbrio, mas Liam cobriu-a com a dele, de modo que o atrito entre suas peles provocasse uma ligeira explosão mental:

- Devemos fingir. - Ela disse, mas nem ao menos prestou atenção a isso. Quando encarou a expressão de Liam, ele pareceu ainda mais curioso. - Eu... suponho que o senhor não queira estar nessa situação tanto quanto eu. - disse ela. - E, para ser sincera, não me vejo de modo algum casada com um homem como você. - Ele franziu a testa, ofendido.

- Como eu? - Perguntou.

- Você sabe... a sua fama não é das melhores.

- A sua também não. - Ela revirou os olhos. Ele a empurrou. - E, além do mais, nada impediria. Preciso me casar com a senhorita para ter acesso à fortuna do meu pai. Está certa, eu não quero mesmo casar-me com você.

Agora ela ficou ofendida.

Lisbeth levantou a cabeça e olhou para Liam, que estava atrás de si, empurrando o balanço.

- Mais devagar - disse ela. - Sinto enjoo quando depressa demais.

- É? - Ele se inclinou para a frente, desacelerou o balanço e pousou o queixo no ombro dela. Lisbeth pôde sentir sua respiração quente. - Eu gosto de ir depressa. Com força. Desse jeito é mais gostoso. - Contou ele.

Ela não devia ter ficado corada, mas sentiu a pele queimando e engoliu em seco, voltando a atenção para a árvore.

Cretino, pensou.

Ele riu.

- Por que riu? - Perguntou ela.

- Não devo rir?

- Não foi isso o que quis dizer.

Liam a encarou com diversão e o fato de Lisbeth não lhe ver era ainda mais divertido. Não era comum que moças soubessem desse tipo de coisa. O que era para ser uma piada infame, o deixou.... de certo modo, enrijecido - mais do que deveria, aliás - e o desconforto espontâneo o fez pigarrear, tentando voltar ao assunto em questão, enquanto disfarçava sua masculinidade.

- E o que está me propondo? - Lisbeth olhou para ele, um sorrisinho travesso nos lábios. Liam se perguntou se ela tinha percebido alguma coisa, talvez seu pau não fosse tão companheiro e leal quanto pensava... mas então, ele continuou: - Fingir que estamos nos aproximando?

Ela piscou, confusa.

- Talvez - ela disse, mas não decidida, percebeu Liam. Parecia pensar. - Sim. Vamos fingir nos aproximar, de modo que todos pensem que gostamos da companhia um do outro. Creio que isso lhe dará tempo o suficiente para...

- Não. O acordo é válido. Totalmente válido, como um testamento. - Garantiu ele. - Se estava pensando em achar uma brecha... - ele parou de balançá-la. Lisbeth o fitou. Liam acomodou-se do lado dela, espremendo-se desconfortavelmente. Ela o encarou com o que Liam achou ser irritação - pode desistir, cabritinha.

Ele a fitou, os olhos azuis pousando no decote recatado de Lisbeth. Ela avaliou as unhas por um instante e sem preocupação, levou a mão até os lábios e começou a roer as unhas. Ele riu de canto. Ela o olhou sem mexer a cabeça, do canto do olho.

- A senhorita é peculiar - ele disse. - A maioria das moças aceitariam gratas por um acordo entre famílias como este.

- Não quando meu pretendente é você - retrucou ela. Liam engoliu em seco.

- Grossa. - Rebateu ele.

Ela o encarou, dessa vez voltando a atenção para a sua direção.

- Pedante. - Disse ela.

Ele ergueu uma sobrancelha.

- Audaciosa - disse ele, levando sua boca na direção da orelha dela. - E teimosa.

Liam não se conteve. Ele aspirou o cheiro que emanava da pele de Lisbeth.

Liam não via como aquele plano poderia dar certo, mas de qualquer forma, não podia negar: Lisbeth não era de fato nenhum pouco comum; tanto por suas graças, quanto por seu jeito peculiar. Nenhuma moça se portava tão despreocupadamente e graciosa quanto ela, mas seu gênio era simplesmente irresistível. Ele adorava, percebeu, vê-la desconfortável. Seu corpo vibrou quase urgentemente quando sentiu os pulmões se encherem com o cheiro dela e, para ser sincero, não havia perfume igual. Ele sorriu, de modo que ela franzisse a testa.

- Aceito - disse ele. - Mas... e se der errado? Se descobrirem? - Perguntou ele. Ela pensou um pouco, inclinou a cabeça na sua direção e disse:

- Vamos ter tempo o suficiente para arrumar uma outra opção.

- Eu não gosto disso - contou ele. - Parece incerto. - Ele olhou na direção das cercas que delimitavam o jardim, depois, olhou para a árvore e, por fim, descansou os olhos em Lisbeth, uma visão muitíssimo agradável. - E, o que vou ganhar com isso?

- Como?

- É uma proposta. Alguém ganha algo em troca - informou ele, um sorriso largo nos lábios. - Sem falar que tenho muito a perder, visto que se descobrirem sobre isso, podem achar que eu estava tentando trapacear. Eu corro muitos riscos para não ganhar nada em troca. - Ele ficou contente com a expressão confusa de Lisbeth, mas na verdade, não sabia se ela estava pensando em enganá-lo ou matá-lo de uma forma mais prazerosa. - Me diga, senhorita, o que tem a me oferecer?

Ela cruzou os braços, empurrou-o e pulou do balanço de uma maneira divertidamente séria.

- Quem pensa que sou?

- Minha esposa muito em breve, pelo visto. - Provocou ele.

- Seu...

Ele levantou uma sobrancelha, encorajando-a a falar o que pensara, mas Lisbeth não disse nada. Apenas aproximou-se, tão perto que se encaixou entre as pernas dele, apoiando as mãos em suas coxas.

- Talvez não tenha escutado direito - começou ela, a voz irritada. Ele sabia que se a encarasse, não conseguiria conter a imensa vontade de tomá-la. Era brincadeira. Só podia ser. Não se faz isso com nenhum homem. - Pois bem... você ganhará tudo, irá se livrar de mim e, ainda por cima, poderá aproveitar a vida como quiser sem precisar estar sob a vigilância dos meus irmãos.

- É pouco. - Disse ele, então teve a audácia de olhar nos olhos dela. - Acontece, Lisbeth, que eu não sei se será tão ruim ser seu marido. Por mais que você seja uma cabritinha teimosa.

E, de súbito, entendeu que não conseguiria ficar muito tempo sem tocá-la. Era estranho como a atração incendiava seu corpo. Ele não conseguia olhar muito tempo para ela, mas a cada segundo, imaginava como seria por baixo daquele vestido pomposo.

Deliciosa, imaginou.

E de novo, a onda sufocante, tão quente quanto uma brasa incendiada, queimou sua pele. Ele a encarou com desejo.

Tesão.

- Uma noite - ele disse. - Eu quero uma noite com a senhorita. Sem compromisso. Apenas prazer.

Ela ficou corada.

Lisbeth o encarava como se tivesse acabado de dizer que havia visto uma cobra com pernas.

- Você pode se livrar de mim - acrescentou ele rapidamente.

- Pode ter qualquer uma. - Retrucou ela. E Liam, sem perceber, já estava erguido sobre os dois pés, encarando-a como um dono encara a posse. Ele segurou o queixo de Lisbeth, sorriu maliciosamente e disse:

- Mas o meu pau quer você.

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