Assim que entrei no lugar senti olhos em todas as partes, o minúsculo vestido e o salto alto irritante parecia cumprir bem seu propósito. Continuei caminhando e me sentei ao seu lado. Com as mãos, sacudi meus cabelos castanhos espalhando sob minhas costas, segurando apenas alguns fios e girando entre dois dedos.
- Tequila com tônica - ele pediu enquanto afrouxava sua gravata.
- O mesmo pra mim, por favor!
Fixei meus olhos no barman a frente enquanto senti os olhos do homem desconhecido ao meu lado.
- É uma bebida forte para uma mulher tão delicada.
- Uma garota precisa aprender a se virar - respondi sem desviar os olhos.
Ele esboçou um sorriso leve, enquanto colocava os cotovelos sobre a mesa apoiando as mãos sobre o queixo.
- Já nos conhecemos? - ele perguntou interessado.
- Não. Você provavelmente se lembraria - respondi ousadamente. O que o fez sorrir novamente.
- Disso você tem razão. Acho que caras como eu não esquecem mulheres como você.
- Mulheres como eu? - perguntei fixando meus olhos nos seus.
- Bem...- ele começou a falar, enquanto seus olhos examinavam descaradamente cada parte do meu corpo mal coberto pelo minúsculo vestido -É uma garota de luxo, gosta de homens exigentes já que eles tendem a ser mais generosos, que pague sua bebida, um jantar...
Eu ri alto, enquanto descansava gentilmente minhas mãos em sua perna, o encarando com olhos sedutores.
- Estou impressionada! O que posso dizer, sou uma mulher com gosto peculiar e que sabe apreciar os intelectuais.
- E supôs que eu sou um porque uso óculos?
- Não - eu me inclinei sobre ele, revelando o grande decote exibindo a curva dos meus seios - Eu sei disso porque você lê Guerra e Paz - eu apontei para a sua pasta que estava aberta exibindo parte da capa do livro.
- Então acha que só os intelectuais lêem Guerra e Paz?
Eu me aproximei sussurrando em seu ouvido - Eu acho que só os inteligentes o lêem - percebi quando seus pêlos do pescoço se arrepiaram enquanto sentia seu rosto quente e suas orelhas levemente rosadas.
Seus olhos se apressaram em encontrar os meus e percebi urgência em sua voz, agora soando um pouco mais rouca.
- Quer sair daqui?
- Eu sou uma mulher bem cara - respondi enquanto alisava sensualmente seu terno elegante.
- As caras são sempre as melhores - ele respondeu confiante, enquanto me conduzia pela mão à saída.
Ao encontrarmos seus guarda-costas, ele apenas dispensou seus serviços e pediu que não nos incomodasse pelo resto da noite.
Que estúpido. Tão incrivelmente estúpido!
Eu agarrei sua mão, enquanto ele me guiava em direção a uma área nobre no centro, onde adentramos no enorme e elegante edifício.
Assim que alcançamos sua suíte, percebi que ele estava nervoso. Talvez porque transar loucamente com uma prostituta de luxo antes de voltar para casa, o excitava.
Já fazia algumas noites que eu o seguia e sabia do seu segredinho sujo.
O homem me encarou em silêncio enquanto tomava alguns goles do seu uísque caro, logo em seguida, tomou coragem o suficiente para se aproximar de mim e pressionar sua boca ligeiramente bêbada na minha.
- Hoje a noite, vou garantir que você grite meu nome - ele disse tentando ser viril e sedutor.
Lamentável.
Minhas mãos deslizaram sob seu terno caro e enquanto nos beijavámos passei lentamente sua gravata ao redor do pescoço e com um movimento rápido eu girei e me posicionei em suas costas o enforcando com ela. Suas mãos lutaram desesperadamente para desengatar o nó, enquanto eu a prendia firmemente ao redor do seu pescoço.
- Desculpe amor, mas não vai rolar - eu disse enquanto soltava seu corpo robusto no chão.
Alcancei a mesa onde ele deixou sua pasta e a vasculhei em busca do disco rígido até encontrá-lo.
Ajeitei meu cabelo e chequei o vestido, em seguida abri a porta torcendo que seus brutamontes não estivessem parados ali. O fato de seu chefe ter sido tão rápido comigo provavelmente os alertariam, ou não. De qualquer forma, eu não queria ter que lidar com eles agora.
Touchê!
Parece que a ordem de não ser incomodado foi seguido à risca.
Desci graciosamente a escada que dava acesso ao grande saguão, acenando gentilmente para o porteiro que se curvou levemente me desejando uma boa noite.
Assim que alcancei o carro que me aguardava na saída do prédio, seguimos direto para o ponto de extração onde o helicóptero me esperava.
- Você conseguiu? - o motorista perguntou assim que partimos.
- Eu não estaria aqui se não tivesse conseguido.
Assim que chegamos no ponto de encontro, dois homens me encontraram com expectativa em seus olhos. Eu sorri para eles enquanto aguardava estrategicamente que o motorista se posicionasse ao seu lado saindo de trás das minhas costas. Eu não queria surpresas.
- Está com o objeto? - um deles perguntou.
- Eu sinto muito rapazes, mas não posso fazer isso.
Eles se olharam sem entender, até que seus olhos pousaram em minha arma que estava apontada em sua direção.
- Como é que é vadia? Está nos traindo?
- Não, porque pra isso eu teria que trabalhar junto com vocês - eu respondi asperamente - e eu trabalho sozinha -finalizei colocando uma bala em cada cabeça.
Eu não poderia deixar o conteúdo daquele disco rígido cair nas mãos erradas. Aqueles homens faziam parte de uma gangue Chechenha e iriam vender no mercado negro as informações contidas ali. Eles não eram os caras bons.
Eu sei o que parece, é o sujo falando do mal lavado, afinal a verdade é só uma questão de perspectiva. Mas pode acreditar, ali eu é que era a mocinha.