Mesmo quando era um menino de apenas oito anos, Jerred tinha uma maturidade solene, sempre vestindo um terno preto elegante - arredio e distante de tudo ao seu redor.
Thea, por sua vez, tinha cinco anos naquela época e era seu oposto - uma menina brilhante e carinhosa, sempre tentando chamar a atenção dele.
A gentileza inata de Jerred não permitia que ele a ignorasse, então sempre ficava por perto, tolerando a tagarelice dela e assumindo até o papel implícito de seu protetor.
Numa tarde de verão, as brincadeiras descuidadas de Thea resultaram em desastre quando ela caiu num lago, a água gelada congelando seus ossos.
Sem perder tempo, Jerred pulou e a arrastou para a margem, lhe devolvendo o fôlego por respiração boca a boca.
Quando os olhos dela finalmente se abriram, em meio à névoa de frio e medo, ela pensou estar olhando para um anjo.
Porém, algum tempo depois do trágico acidente dos pais, a família Dawson passou a ver Thea como um fardo, o que levou a menina a ser enviada ao campo para morar sob os cuidados dos avós maternos, e desde então ela nunca mais voltou a Braptin nem se encontrou com Jerred.
Foi só há um ano que seu tio a encontrou na pequena e desgastada cabana onde ela vivera todo esse tempo.
Todos achavam que Thea havia se casado com Jerred para escapar das dificuldades da vida no interior e conquistar riqueza e status. Mas só ela sabia a realidade - o quão forte seu coração batera de alegria quando soube que se casaria com Jerred.
No entanto, ela passou a compreender o casamento pelo que ele era - um sonho fugaz concedido pelo destino, frágil e efêmero. Agora, chegou o momento de acordar desse sonho.
Lá fora, a tempestade rugia pelo céu noturno, os relâmpagos cortando a escuridão enquanto trovões ressoavam como disparos de canhão.
Encolhida sob o cobertor, Thea o puxava ao seu redor, seu coração se acalentando gradualmente.
Na manhã seguinte, o toque estridente do celular a despertou, a voz desdenhosa da mãe de Jerred arrancando sua sonolência. "Ainda na cama a esta hora? Como meu filho acabou preso a uma mulher tão preguiçosa como você?"
Thea passara um ano suportando os comentários sarcásticos de Maggie Willis sem responder uma palavra. Entretanto, esse silêncio não era resultado de fraqueza, mas sim uma forma de evitar discussões que apenas complicariam a vida de Jerred.
Sendo o chefe da empresa mais poderosa de Braptin, ele já tinha muitas responsabilidades, então ela não queria que esses conflitos familiares se juntassem aos seus problemas.
Mas, nesse dia, cansada de aguentar isso, algo dentro dela mudou.
Alheia aos pensamentos da nora, Maggie continuava com suas reclamações, cada vez mais escarnando: "Se minha família não estivesse desesperada no ano passado, eu nunca teria aceitado que você se casasse com meu filho. Você não o merece e nunca estará à altura dele."
Thea se sentou, sua voz branda, mas firme ao responder: "Você está certa. Realmente não mereço Jerred. Mas o casamento não é uma decisão de uma parte, mas do casal."
Respirando fundo, ela continuou: "Se sou uma decepção, então diga ao seu filho para se divorciar e casar com quem você acha digna. Jerred se casou comigo por necessidade, mas agora os problemas da sua família foram resolvidos, não foram? Então ele pode pedir o divórcio."
Atônita com a resposta de Thea, Maggie ficou paralisada, as palavras presas na garganta, pois não conseguia acreditar que a mulher que sempre fora submissa e discreta agora tinha a coragem de retrucá-la.
Será que Thea enlouquecera?
Nesse momento, a voz de Thea ecoou novamente, afiada e inflexível. "Você só me ligou para me criticar, Maggie? Se tem tanto tempo livre, talvez seria melhor usá-lo para convencer seu filho a se divorciar de mim. Enfim, vou continuar dormindo, pois não quero perder nem mais um segundo falando com você. Tchau!"
Num toque decisivo, ela encerrou a chamada, não dando à sogra chance de responder.
A fúria de Maggie se intensificou, seu peito arfando com a audácia da nora, que além de ter desprezado sua repreensão, também não mostrou o menor respeito por ela.
Essa insolência corroía a mulher, até que a raiva transbordou. Furiosa, ela ligou para Jerred e, assim que ele atendeu, descarregou sua ira num grito raivoso: "Sua esposa perdeu o juízo?! Liguei para acordá-la e ela me rebateu dizendo para eu te convencer a se divorciar dela! Quem ela pensa que é, agindo com tanta arrogância?"
No corredor do hospital, Jerred estava imóvel, seu olhar fixo nas folhas lavadas pela chuva do lado de fora da janela.
Uma leve ruga se formou na sua testa enquanto a frustração o assolava. "Thea disse isso mesmo?"
Maggie diparou as palavras como adagas: "Disse! Jerred, eu já te pedi várias vezes para se divorciar dela, mas você sempre inventa uma desculpa para escapar do assunto. Agora que ela está dizendo isso, é a chance perfeita. Pouco me importo com suas justificativas. Você precisa acabar com esse casamento agora mesmo! Por acaso tem ideia de quantas pessoas da elite riem da nossa família pelas costas só porque você se casou com ela? Você..."
"Mãe", Jerred interrompeu com uma carranca no rosto. "É bem provável que a tempestade da noite passada tenha mantido Thea acordada. Ela só deve estar de mau-humor."
Desviando os olhos para o relógio de metal brilhante no seu pulso, ele acrescentou calmamente: "Ainda são sete da manhã, e não há nada urgente hoje. Para que perturbar o descanso dela?"
Enquanto as palavras saíam da sua boca, seu olhar mudou para a porta do quarto, onde uma figura frágil numa bata hospitalar estava recostada.
A expressão de Jerred ficou tensa, e sua voz abaixou. "Estou ocupado. Vou ter que desligar agora."
Guardando o celular no bolso, ele foi até Jaylynn e perguntou, sua voz tingida de preocupação: "Por que não está na cama?"
Pálida e fraca, Jaylynn lhe respondeu com um sorriso tênue: "Ouvi sua mãe dizer que Thea quer se divorciar... É por minha causa?"
Lágrimas brilharam nos seus olhos ao mesmo tempo que olhava para o homem à sua frente. "Jerred... Eu não devia ter voltado?"