Dois meses atrás, no dia em que o assistente de Jerred levou Thea para o exame, Jerred a surpreendeu à noite ao esperá-la em casa com um extravagante buquê de rosas escarlates.
Ele havia bebido muito, o que resultou em horas de intimidade intensa.
Embora ela tivesse avisado seu marido para usar proteção, ele se inclinou perto do ouvido dela e, com um sorriso malicioso, murmurou, seu hálito cheirando a álcool: "Quero te sentir melhor essa noite."
Envolvida nessa ilusão, Thea acreditara que cada gesto dele - as flores, a súbita ternura, e até a imprudência íntima - significava que ele finalmente estava se abrindo para ela.
Agora, a realidade a atingia como um banho de água fria. No fim das contas, tudo isso não tinha nada a ver com ela, mas sim com o retorno de Jaylynn, que era a única capaz de desarmar Jerred, o homem que normalmente era composto e reservado, levando-o a agir impulsivamente.
No dia seguinte, ele esquecera tudo porque estava bêbado demais.
O silêncio de Thea só instigava a convicção de Jerred de que a gravidez não passava de uma desculpa para se esquivar da doação de medula óssea.
Franzindo a testa em indignação, ele disse com a voz rígida: "Thea, sei que você não é muito próxima de sua prima."
Ele colocou um cartão bancário black sobre a mesa, o J dourado em relevo brilhando sob a luz. "Há dez milhões nesse cartão. Considere isso uma compensação."
Os olhos de Thea se fixaram no cartão reluzente, um sorriso irônico surgindo no seu rosto.
Em um ano de casamento, todas as mesadas e os tais "presentes" que Jerred lhe deram mal chegavam a um milhão. No entanto, pela mulher que ele amava, ele desembolsou dez milhões como se não fosse nada.
"Se você quiser outra coisa, é só dizer", Jarred acrescentou no seu tom neutro de sempre.
Vendo a esposa em silêncio, ele insistiu: "Se você concordar em doar, farei questão de te recompensar de todas as formas possíveis."
Ao ouvir isso, Thea ergueu a cabeça, observando o homem à sua frente como se ele fosse um estranho, enquanto o tom distante e profissional dele reduzia o momento a nada mais do que uma negociação fria.
O ano que passaram juntos, o afeto fugaz e o calor frágil, de repente parecia uma história que ela mesma havia criado. Entretanto, a inegável realidade era que agora ela carregava seu filho.
Pensando nisso, Thea sentiu uma aflição dominar seu ser, seus cílios se abaixando ao fechar os olhos por um instante. Quando os abriu novamente, a determinação firmou sua expressão, fazendo com que as sobrancelhas de Jerred se franzissem diante das palavras decisivas dela: "Não vou doar minha medula óssea, e não me importo com o que você pensa de mim por causa disso. Se você acha que estou sendo insensível ou egoísta, podemos pôr um fim nesse casamento agora mesmo."
Afinal, o título de esposa de Jerred nunca pertencera a ela, assim como seu amor. A única coisa que podia reivindicar sem questionamentos era a vida frágil que crescia dentro dela, pois nunca arriscaria a segurança do filho por Jaylynn, uma mulher que nada significava para ela.
A atmosfera na sala de jantar estava cada vez mais pesada, o silêncio pressionando como uma tempestade prestes a desabar.
Uma sensação de inquietação dominava Jerred, com um medo persistente de que algo precioso estivesse escapando dele.
Thea passara um ano desempenhando o papel de esposa obediente - com fala mansa, um jeito complacente e um sorriso no rosto enquanto atendia a todos os pedidos que ele lhe fazia. Porém, nessa noite, ela se transformara em alguém feroz, cheia de rebeldia, o enfrentando a todo momento e até ousando falar em divórcio.
Nesse momento, o silêncio sufocante foi quebrado pelo toque abrupto do celular de Jerred, que atendeu rapidamente, seu tom mudando num piscar de olhos - mais gentil, praticamente amoroso. "Jaylynn, o que houve?"
A casa estava tão silenciosa que Thea, sentada rígida à mesa, podia ouvir a voz frágil e trêmula do outro lado da linha.
"Jerred, estou com tanta dor...", murmurou Jaylynn entre soluços, sua voz se embargando. "Quando tentei me levantar, bati minha mão no metal da cama, o soro soltou, e o sangue está escorrendo por toda parte. Será que não vou passar dessa noite..."
"Estou a caminho", Jerred respondeu com urgência.
Ele se levantou rapidamente, indo em direção à porta enquanto murmurava palavras de conforto ao celular. Mas, ao se aproximar do batente, parou e se virou para olhar para Thea, que ainda estava imóvel.
"Casamento não é um brinquedo que você pode jogar fora quando se aborrece. Vou fingir que essa conversa sobre divórcio nunca aconteceu. Quanto à doação de medula, espero que pense seriamente sobre isso. Só voltarei mais tarde, então não me espere para ir dormir." Sua voz era calma, mas as palavras tão duras quanto aço.
Dito isso, ele saiu, e a pesada porta se fechou com um estrondo atrás dele.
O baque da madeira contra a moldura estilhaçou o peito de Thea, como se o próprio som tivesse partido seu coração.
Ela fechou os olhos e, enquanto sua mão trêmula acariciava o ventre, sussurrou fracamente: "Meu bebê, não tenha medo. A mamãe vai te proteger."
Uma vez que Jerred escolhera Jaylynn, ela decidiu nesse instante que nunca mais o escolheria.