Sem se desfazer do sorriso, seus olhos percorreram Thea de cima a baixo antes de comentar: "Esse vestido é um exagero, muito atrevido para alguém como você."
Após uma breve pausa, ela pendeu a cabeça de lado e concluiu: "Uma peça mais simples, mais contida, cairia bem melhor."
Erguendo o rosto na direção de Jerred, imponente ao seu lado, ela perguntou com uma doçura fabricada: "Você não concorda, Jerred?"
Seu tom meloso dava a nítida impressão de que a esposa dele era ela, e não Thea.
Enquanto os olhos de Jerred deslizavam pelos ombros e pela clavícula exposta de Thea, uma ruga de desaprovação se formou em sua testa, deixando claro o seu incômodo. "De fato, esse vestido não combina com ela."
Para ele, Thea - com seu jeito quase sempre quieto e reservado - não deveria se atrever a vestir algo tão ousado.
"E por que não?", Brielle rebateu no mesmo instante, envolvendo os ombros da amiga com um braço. "Ela tem um corpo incrível e pode muito bem mostrá-lo num vestido desses."
Seu olhar, então, se fixou em Jaylynn, carregado de um desprezo gelado. "Ou será que a sua inveja prefere que ela esconda essas curvas maravilhosas? Já que você, afinal, é completamente reta."
O rosto de Jaylynn empalideceu na hora, e seus dedos apertaram o braço de Jerred com mais força.
"É verdade, emagreci demais este ano. Por mais que eu tente, meu corpo..." A voz fraca e trêmula dela sumiu aos poucos, tornando-se um sussurro. "Meu corpo não se compara ao da Thea..."
Lágrimas marejaram seus olhos quando ela se virou para Thea, as palavras embargadas por um soluço. "Mas eu juro que não é inveja. Eu só achei que o vestido não tinha a ver com seu estilo. Foi só um conselho sincero, de verdade."
Brielle bufou e cruzou os braços, lançando a Jaylynn um olhar que transmitia aversão explícita. "Que encenação ridícula, Jaylynn. O choro veio no momento exato. Você sabe muito bem a diferença entre um conselho e uma alfinetada cheia de veneno."
Diante das palavras duras de Brielle, as lágrimas de Jaylynn rolaram sem controle.
"Thea!" A carranca de Jerred se fechou ainda mais, e a voz dele saiu como gelo. "Mande sua amiga ter mais respeito."
Logo em seguida, com uma delicadeza que provocou um nó no peito de Thea, seu marido afagou a mão trêmula de Jaylynn. "Não chore, por favor. Não deixe uma coisa dessas te abalar, sua saúde já é tão delicada."
Thea testemunhou a ternura que brilhava nos olhos dele - um tipo de olhar que ela nunca tivera, o que provocou uma dor aguda e lancinante em seu peito.
Durante todo o ano de casamento, estivesse ela doente, exausta ou sofrendo em silêncio, o olhar que Jerred dirigia a ela era sempre frio, indiferente, sem qualquer preocupação.
Ela chegara a acreditar que aquilo era apenas parte da natureza reservada dele, uma dificuldade em demonstrar afeto. Mas agora, ao vê-lo olhar para Jaylynn, a verdade se tornou cristalina.
O contraste era brutal - o amor e a indiferença, separados apenas por um simples olhar.
Depois de um ano inteiro se doando a um casamento de uma via só, Thea entendeu a dimensão da própria estupidez.
Um fogo subiu pela sua garganta, consumindo o silêncio que sempre fora seu refúgio, e seus olhos se cravaram nos de Jerred enquanto sua voz soava afiada, cortando a tensão no ar. "Senhor Willis, sendo um homem de negócios tão experiente e observador, é impossível que você não tenha notado o desprezo na voz de Jaylynn sempre que ela se dirige a mim."
Jerred estreitou os olhos, mas permaneceu em silêncio.
Thea não parou. "Se alguém me humilha e meu marido não move uma palha para me defender, por que minha amiga não pode intervir? Ela está tomando as minhas dores. Me diga - que motivo eu teria para impedi-la?"
Um silêncio pesado caiu sobre os curiosos que observavam a cena, pois as palavras dela tiveram o peso de uma bigorna.
Brielle ficou paralisada, os olhos arregalados, como se não pudesse acreditar no que ouvia.
A Thea que conhecia, antes tão cheia de vida e audácia quanto ela, havia se apagado após a morte dos pais, tornando-se uma pessoa calada e introvertida.
Sempre que Thea era provocada e Brielle tentava defendê-la, Thea a puxava pela manga, pedindo em sussurros que deixasse o assunto de lado, pois achava que era mais fácil engolir o desaforo do que causar problemas.
Mas agora, ali estava ela, de cabeça erguida e coluna reta, com uma voz firme que expressava toda a sua frustração. E o alvo de seu confronto não era um qualquer, mas Jerred, o homem por quem fora apaixonada durante anos.
A surpresa de Jerred não era menor - esse desafio aberto era algo que ele claramente não esperava dela, e sua irritação transpareceu no tom de voz. "Parece que minha mãe tinha razão a seu respeito. Você está irreconhecível hoje."
A Thea de antes era dócil, suportando cada desaforo com uma paciência resignada. A de agora, não mais.