Danilo estava na porta, seu rosto uma máscara de pura fúria. O charme descontraído havia desaparecido, substituído por algo primitivo e aterrorizante.
Ele se moveu como um predador.
Em um borrão de movimento, ele se lançou, agarrando o primeiro homem pela garganta e batendo sua cabeça contra a parede. Um estalo doentio ecoou pela sala. O segundo homem veio para cima dele, e Danilo girou, seu cotovelo conectando com a mandíbula do homem com força brutal.
No caos, o terceiro homem, se arrastando no chão, puxou uma faca. Ele se lançou, não em Danilo, mas em mim.
"ANA!", Danilo rugiu, um som de puro terror animalesco.
Ele se jogou na minha frente.
Eu vi o brilho do aço. Ouvi um baque surdo e úmido.
A faca desapareceu nas costas de Danilo.
O sangue floresceu através do tecido de sua camisa. Ele soltou um grunhido sufocado, mas não caiu, cravando o punho na têmpora do homem. O homem desabou em um monte.
Seguranças invadiram o local, e Danilo cambaleou, seu corpo amolecendo, caindo contra mim.
"Danilo", sussurrei, minhas mãos indo para suas costas, sentindo o calor úmido e pegajoso de seu sangue. Minha mente ficou em branco. Toda a traição, toda a raiva, tudo evaporou.
Eu era uma médica. Ele estava sangrando em meus braços.
Minhas mãos, escorregadias com seu sangue, procuraram desajeitadamente meu telefone. Disquei 190.
Passei a noite inteira no hospital, andando de um lado para o outro do lado de fora da sala de cirurgia, depois sentada ao lado de sua cama. Na manhã seguinte, uma enfermeira gentilmente me incentivou a ir tomar um café. Eu estava exausta, funcionando à base de pura adrenalina. Finalmente cedi, deixando minha bolsa na cadeira em seu quarto.
Eu estava no meio do corredor quando percebi meu erro. Voltei.
Ao me aproximar de seu quarto, ouvi sua voz. Ele estava no telefone.
"É, dói pra caralho", ele dizia, sua voz carregada de um humor familiar e arrogante. "Mas valeu a pena. Você tinha que ver a cara dela. Tão preocupada."
Meu sangue gelou. Pressionei-me contra a parede, fora de vista.
"Agora ela vai estar toda boazinha e grata", ele continuou, rindo. "Momento perfeito para finalmente transar com ela de verdade, sabe? Tem me deixado louco, ela pensando que sou o Adriano esse tempo todo. Quero que ela saiba que sou eu."
Houve uma pausa.
"Claro que eu ainda gosto da Aline", ele disse, seu tom desdenhoso. "Mas um cara pode se divertir um pouco por fora, né? Especialmente quando a amante é tão gostosa quanto a Ana. Hoje é a noite. Eu sinto."
Eu não ouvi mais nada. Não conseguia.
Levei a mão à boca para abafar o soluço que subia pela minha garganta.
Ele tinha encenado tudo. O ataque. O resgate heroico. O ferimento fatal. Tudo uma performance doentia e distorcida para me fazer sentir culpada, para me fazer sentir em dívida, para me manipular a dormir com ele.
Afastei-me cambaleando da porta, meu corpo tremendo incontrolavelmente, e fugi do hospital como se o próprio diabo estivesse em meus calcanhares.