Acordei com um saco de estopa áspero sobre minha cabeça. O estalo agudo e crepitante de um taser foi o único aviso que tive antes que a agonia explodisse em meu corpo. Golpes e mais golpes choveram sobre mim. Senti costelas quebrarem, provei o gosto metálico de sangue na minha boca.
Através da névoa de dor, ouvi a voz de Danilo, fria e desprovida de qualquer charme. "Isso é só o começo. Ela precisa aprender o que acontece quando me fazem de idiota."
O saco sobre minha cabeça foi aberto um pouco, e algo foi despejado dentro. Dezenas de pequenas coisas esvoaçantes rastejaram pelo meu rosto.
Aranhas. Tarântulas.
Um grito primal se formou em minha garganta, mas nenhum som saiu. Era meu medo mais profundo e irracional. Danilo sabia. Claro que ele sabia.
O saco foi fechado novamente. Senti-me sendo levantada, depois jogada no ar.
Atingi a água gelada e turva com um baque doentio. O peso do saco me arrastou para baixo, a água enchendo meus pulmões, as aranhas um horror frenético e rastejante contra minha pele.
Assim que minha consciência se esvaiu, fui arrastada para fora e jogada em um chão lamacento. O saco foi arrancado da minha cabeça. Tossi água e bile antes de desmaiar novamente.
Acordei em um hospital. Uma ala de caridade.
Uma enfermeira estava de pé sobre mim, sua expressão uma mistura de pena e impaciência. "Sua conta está vencida. Se você não pagar até amanhã, teremos que interromper o tratamento."
Saí da cama com dificuldade, meu corpo gritando em protesto, e me arrastei em direção ao escritório de cobrança. Ao virar um corredor, dei de cara com eles.
Adriano e Danilo.
Ambos pararam abruptamente, seus olhos se arregalando de surpresa ao verem meu estado patético - a camisola rasgada do hospital, os hematomas frescos florescendo em minha pele, o sangue vazando através das bandagens em minhas costas.
"Ana?", disse Adriano, sua testa franzida. "O que você está fazendo aqui?"
Eu apenas encarei Danilo, meus olhos queimando com um ódio tão puro que era uma força física.
"Ana, este é meu irmão, Danilo", disse Adriano, gesticulando entre nós como se fôssemos estranhos.
Danilo exibiu um sorriso charmoso e juvenil. "Prazer em conhecê-la", disse ele, estendendo a mão.
Uma risada borbulhou do meu peito, um som selvagem e histérico que era mais soluço do que alegria. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu ria.
"Controle-se", Adriano retrucou. "E fique longe da Aline. Você já causou danos suficientes."
Nesse momento, uma enfermeira colocou a cabeça para fora de um quarto próximo. "Sr. Hoffmann? A Sra. Nunes está perguntando por você."
Eles desapareceram em um instante, correndo para o lado de Aline sem um olhar para trás.
Meu telefone vibrou. Era uma ligação do escritório da administração militar, formalizando a transferência que meu pai havia arranjado. "Dra. Goodwin, seu voo parte de Guarulhos em duas horas. Um carro está esperando por você lá embaixo."
Desliguei o telefone. Não voltei para o meu quarto. Não fui ao escritório de cobrança.
Saí daquele hospital, entrei no carro preto que me esperava e fui direto para o aeroporto. Enquanto o avião decolava da pista, deixando as luzes da cidade brilhando para trás como um punhado de joias espalhadas e sem valor, eu não olhei para trás.
Eu estava finalmente livre.