A babá do meu filho
img img A babá do meu filho img Capítulo 4 Amor de mãe
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Capítulo 6 Um problema img
Capítulo 7 Onde está meu filho img
Capítulo 8 Você está muito quieta img
Capítulo 9 Encontre o meu filho img
Capítulo 10 Injusto img
Capítulo 11 O meu filho precisa de mim img
Capítulo 12 Não saia desse quarto img
Capítulo 13 O dinheiro do resgate img
Capítulo 14 Vamos conversar! img
Capítulo 15 Uma espiã img
Capítulo 16 Você me magoou muito img
Capítulo 17 O grego que amei img
Capítulo 18 Ninguém vai tocar em você! img
Capítulo 19 O peso da liberdade img
Capítulo 20 Fica quietinha img
Capítulo 21 Desafiando a morte img
Capítulo 22 Intocáveis img
Capítulo 23 Sem fôlego img
Capítulo 24 Se agapo img
Capítulo 25 Uma viagem de negócios img
Capítulo 26 Sim, quero casar img
Capítulo 27 Adeus, papai! img
Capítulo 28 Estúpido img
Capítulo 29 A escolha certa img
Capítulo 30 Quero ficar com você! img
Capítulo 31 Uma vida nova img
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Capítulo 4 Amor de mãe

Ponto de vista de Apolo.

- Nada demais... - a resposta evasiva de Perséfone não me convenceu.

O vento carregava o cheiro de terra úmida e o amargo das folhas de oliveira, um aroma familiar da minha pátria que, no entanto, parecia contaminado pela falsidade dela.

- Então, por que ela parecia desconfortável ao sair dessa casa?

Eu já sabia a resposta. Eu precisava ver o quão fundo ela estava disposta a cavar a cova da própria mentira.

Notei quando ela apertou os dedos contra a palma da mão.

Seus olhos eram verdes-musgo sob a luz oblíqua da tarde, e, por um instante, a vi não como a mãe de Ícaro, mas como a mulher que me havia desafiado a cada passo desde que a conheci. O poder dela estava em sua negação, e isso, infelizmente, era um ímã para o meu próprio desejo.

- Deve ser porque você interrompeu a aula e dispensou a professora antes do horário - ela respondeu.

A acusação me atingiu como o vento frio do Egeu, mas não me fez cambalear.

- A culpa é toda sua! Você mima demais o meu filho.

Ícaro não era apenas um herdeiro. Ele era a extensão da minha alma, a única prova de que eu poderia amar e, ao mesmo tempo, controlar. E o mimo dela era a diluição do que deveria ser puro poder.

- Só estou dando amor e afeto como qualquer mãe faria.

- Ícaro não precisa de carinho. Precisa de estrutura. - Rebati, apoiando a bengala contra a coxa.

Ela se virou, os braços cruzados sobre o peito, um gesto de desafio que me fazia querer estender a mão, quebrar a barreira e tomá-la à força, não em violência, mas em uma submissão de carne e vontade. A fúria dela era a centelha que aquecia meu sangue frio.

- Uma coisa não exclui a outra - enfatizei. - Não se esqueça do seu lugar, Perséfone.

- O meu lugar é ao lado do meu filho - respondeu ela, e o desafio não estava apenas na voz, mas na forma como seus quadris se inclinaram levemente para trás, como se estivesse se preparando para um embate.

Dei um passo, lento, absorvendo o espaço.

- A mãe que envia bilhetes escondidos em cadernos - insisti. A menção foi o golpe que eu sabia que a desestabilizaria.

Eu avancei mais um passo, acabando com a distância entre nós dois. Seus olhos se arregalaram, e era a primeira vez que via a rendição se insinuar em seu brilho.

- Que bilhete? Eu não sei do que você está falando.

Mentirosa. E o desejo que essa mentira me causava era um insulto à minha razão. Eu a conhecia. Conhecia o ponto exato onde sua coragem se quebrava.

- Não minta para mim - ordenei num tom mais profundo e gutural.

Ela cerrou os lábios. O silêncio era a prova que eu precisava.

- Ele se afasta de você a cada dia, Apolo! - Sua voz subiu um tom. - Você o trata como um projeto, um mármore a ser esculpido, e não como um menino. Ele precisa de uma mãe que não tema o próprio marido!

Eu me movi para trás dela, cobrindo-a com minha sombra, e apoiei minhas mãos pesadas no parapeito de pedra, cercando-a sem tocá-la, mas o suficiente para que ela sentisse o calor do meu corpo. A respiração dela acelerou, e eu senti o meu pulso acompanhar.

- Na próxima vez que mentir - sussurrei perto de sua orelha -, vou te colocar para fora da minha casa.

Eu me afastei, deixando o espaço vazio, e risquei a terra batida próxima ao parapeito enquanto ela me encarava.

- Lembre-se sempre do seu lugar, Perséfone - ressaltei friamente.

- Não precisa ficar me lembrando das minhas funções. Sempre fui empregada dos Velentzas... e você só me usou antes de ficar noivo da modelo que transava com o seu pai.

Minhas têmporas começaram a latejar no segundo em que Perséfone jogou isso na minha casa.

- Se quiser, pode dar um fora aqui, mas o Ícaro fica - avisei.

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Ponto de vista de Perséfone.

Eu pensei em fugir dali, sim. Cheguei a fantasiar a fuga. Sonhei com um lugar onde pudesse ser apenas mãe, longe das sombras de Apolo. Mas o amor que sentia por Ícaro me impedia de sair daquela propriedade sem o meu filho.

- Eu pensei... - comecei, com a voz embargada pela secura na garganta - que talvez seja melhor viver em um ambiente mais sereno, mais de acordo com as necessidades de uma criança. Um lugar com mais... joie de vivre.

- O que você quer dizer com isso, Perséfone? - O olhar de Apolo se estreitou.

Apolo não precisava de altura para intimidar, pois o seu olhar glacial e o silêncio que o cercava bastavam para me paralisar. Ele era um homem grande, mesmo sentado, mesmo machucado.

- Esta casa tem uma atmosfera pesada, Apolo... - murmurei, sentindo as lágrimas subirem aos meus olhos. - E por mais que eu tente protegê-lo, eu vejo a inquietude do Ícaro. Ele tem medo de você.

O silêncio se instalou com a densidade de uma névoa. Apolo me encarou como se cada palavra minha fosse um insulto pessoal. O sol poente tingia a grama de ouro e cobria o rosto dele com uma luz que não amenizava em nada a sua fúria contida.

- Você quer levá-lo embora? Quer fugir de novo, hein?

- Não é isso - tentei interromper, mas Apolo ergueu a mão. Um gesto mínimo, mas que fez meu corpo inteiro parar. A ordem de calar estava contida ali, nua e inquestionável.

- Foi exatamente isso que você fez da última vez. Foi embora e sumiu com meu filho. - Ele destilou as palavras. - Fiquei meses te procurando... até que você apareceu depois do acidente. Agora, você quer levar o meu filho embora outra vez?

Apolo raramente deixava as emoções transparecerem, mas, naquele momento, elas escorriam por entre as fendas da sua rigidez.

- Estou tentando proteger e dar um lar seguro ao nosso filho... - sussurrei, na vã tentativa de persuadi-lo.

Apolo se virou, ignorando-me, e fixou os olhos no jardim. A mandíbula dele permanecia tensa, a bengala fincada ao lado do seu corpo, como uma extensão de sua teimosia.

- Amanhã, você não vai ficar na sala enquanto a professora Léa estiver dando aulas para o Ícaro - avisou num tom de ultimato, sem olhar para mim. - Seu trabalho é como babá do meu filho... Lembre-se disso, Perséfone.

Ele deu meia-volta. Os passos firmes, apesar do leve desequilíbrio causado pelo ferimento, o levaram para longe.

Fiquei ali, observando sob o céu de Lourmarin. Ainda tinha as lembranças vívidas do homem carinhoso e apaixonado que um dia amei, o jovem grego com quem tive noites cálidas; mas aquele Apolo já não existia mais.

Horas depois, a noite engoliu a luz. A casa, cercada pelas oliveiras e colinas, estava mergulhada num sossego artificial.

No meu quarto, a luz fraca não dissipava a sensação de isolamento. Eu tentava ler, mas minha mente voltava para a discussão no jardim. Ele me via como uma ameaça ao seu controle, e não como a mãe que lutava pelo bem-estar do meu pequeno Ícaro, que era a minha única razão de viver.

O cansaço já estava a ponto de me vencer quando fechei a capa do livro e o deixei de lado. Antes de apagar a luz do abajur, ouvi o barulho no corredor. Apolo estava andando feito um fantasma pela casa, como fazia todas as noites.

Desliguei a luz rapidamente e me cobri. Meu coração batia contra as costelas, num ritmo descompassado. O que ele queria? Me acusar de algo que aconteceu na casa? Dar mais uma ordem?

Com os olhos fechados, eu podia visualizar a mão dele, grande e forte, pairando sobre a maçaneta. No minuto em que a porta rangeu, tentei respirar de forma regular, fingindo um sono profundo.

Em sua caminhada claudicante, ele passou pela minha porta, e meu corpo se enrijeceu sob a coberta. Senti o cheiro de conhaque misturado ao aroma amadeirado do perfume másculo. O som do arrastar parou.

Em silêncio, eu praticamente implorei: "Por favor, vá embora!" Fiquei repetindo essa prece, tremendo que ele subisse em minha cama.

            
            

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